terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

BC poderia ser 'um pouco mais generoso' após medidas anunciadas pelo governo, diz Haddad

Segundo equipe econômica, pacote abriria espaço para uma melhora fiscal de R$ 242,7 bilhões

Nathalia Garcia, Idiana Tomazelli / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou nesta segunda-feira (6) que os alertas do Banco Central sobre a situação fiscal referem-se, sobretudo, ao legado deixado pelo governo Jair Bolsonaro (PL) para a atual administração, mas que a autoridade monetária poderia ter sido "um pouco mais generosa" após as medidas anunciadas pela gestão petista para melhorar as contas públicas.

Na última quarta-feira (1º), o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela quarta vez consecutiva, na primeira reunião desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse.

No comunicado, o colegiado do BC fez alertas sobre as incertezas fiscais e a piora nas expectativas de inflação, que estão se distanciando da meta em prazos mais longos, e sinalizou que deve deixar os juros no patamar atual por mais tempo.

Os recados provocaram um aumento de tensão na relação da autoridade monetária com o governo, gerando uma escalada nas críticas disparadas pelo presidente Lula contra o BC.

"O que o Banco Central disse, eu creio que faz mais referência ao legado do governo anterior, do que às providências que estão sendo tomadas por este governo", afirmou Haddad.

"Existe realmente uma situação fiscal que inspira cuidados, mas isso é uma herança que temos de administrar. Não vamos em 30 dias de governo resolver um passivo de R$ 300 bilhões que foi herdado do governo anterior."

"Mas o nosso compromisso é com o equilíbrio das contas. Anunciei no dia 12 que nós vamos perseguir resultados melhores. Nesse particular, eu penso que a nota poderia ser um pouco mais generosa com as medidas que nós já tomamos", acrescentou.

Em 12 de janeiro, Haddad anunciou um amplo pacote de medidas com a promessa de entregar uma melhora fiscal de R$ 242,7 bilhões nas contas públicas deste ano.

A equipe econômica aposta na reversão de desonerações e em medidas extraordinárias para arrecadar mais, diante da pressão do mercado financeiro para reduzir o rombo de R$ 231,55 bilhões, agravado pela PEC (proposta de emenda à Constituição) que autorizou a ampliação de despesas em 2023

O colegiado do BC ressaltou no comunicado que "a conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária".

O comitê disse ainda que avalia que essa "conjuntura eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas" de inflação estabelecidas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

O recado foi recebido pelo presidente e alguns ministros como uma traição de Campos Neto à confiança do governo, que contava com o órgão para participar de um esforço conjunto para o Brasil superar os problemas econômicos atuais, como mostrou a coluna de Mônica Bergamo.

Nesta segunda-feira, Lula reiterou as críticas à atuação do BC e disse que a atual taxa básica de juros do país é "uma vergonha".

"Não existe justificativa nenhuma para que a taxa de juros esteja em 13,50% [o patamar da Selic está, na verdade, em 13,75%]. É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juro", disse Lula.

A manifestação ocorreu durante a posse do novo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, no Rio de Janeiro.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

É uma verguenza!