Folha de S. Paulo
A PEC 45 é uma proposta que contempla as
exigências da eficiência e da igualdade
Lula teve um primeiro mês de governo de
muito trabalho, que incluiu
derrotar um golpe e interromper um
genocídio. Mas a pauta econômica só deve começar a ser tocada agora, pois
as duas grandes prioridades do governo para o primeiro semestre —a
aprovação da reforma tributária e criação da nova regra fiscal—
dependiam da posse do novo Congresso.
Há uma chance razoável de Lula 3 tornar os impostos brasileiros mais eficientes e justos. Para isso, são necessárias duas reformas, e as duas estão nos planos do governo: a primeira simplifica e torna eficiente o furdunço de Satã que é nosso atual sistema tributário. A segunda reforma deve tratar sobretudo do Imposto de Renda e terá como objetivo colocar o fisco para trabalhar pela igualdade, o que, no Brasil, ele nunca fez.
A proposta de simplificação deve ser
aprovada primeiro, porque já há
projetos sobre isso andando no Congresso. O principal deles, a PEC 45,
proposta pelo deputado Baleia Rossi (MDB-SP) substitui cinco impostos sobre
consumo por dois, tornando a tributação brasileira mais parecida com o modelo
do imposto sobre valor adicionado (IVA) que é a regra nos países desenvolvidos.
Segundo Baleia Rossi, em depoimento ao
episódio do podcast do MDB de 22 de janeiro, a PEC 45 não foi encampada
pelo governo
Bolsonaro porque Paulo
Guedes preferia a CPMF.
Ninguém discorda que nossa estrutura
tributária é um problema. Investidores que pensam em colocar dinheiro estudam
como funciona o ICMS por cinco minutos e já pensam, "Ok, Brasil não dá,
quem é o próximo em ordem alfabética, Brunei, vamos ver como são os impostos no
Brunei".
Segundo o secretário extraordinário de
reforma tributária do governo Lula, Bernard
Appy, estudos mostram que o Brasil é 20% mais pobre por ter impostos tão
distorcidos.
Para quem se interessar, há um estudo do
IPEA de 2019, de autoria dos economistas Rodrigo Orair e Sergio Gobetti, que
discute a PEC 45 em detalhe, com o rigor que é característico nos autores
(Texto para discussão nº 2.530 , "Reforma
Tributária e Federalismo Fiscal: uma análise das propostas de criação de um
novo imposto sobre o valor adicionado para o Brasil").
Até hoje, o grande obstáculo para
implementar no Brasil o IVA —que, repito, é o que existe nos países de economia
mais eficiente— foi a
resistência de estados e municípios que temem perder arrecadação no
curto prazo. Orair e Gobetti mostram que a PEC 45 tem mecanismos de compensação
e potencial para gerar crescimento econômico que tornam "remotos" os
riscos de que estados e municípios tenham perdas de arrecadação com a nova
regra.
Embora a redistribuição de renda não seja o
objetivo central dessa reforma —ela será o centro da proposta de reforma do
Imposto de Renda— as projeções de Orair e Gobetti mostram que a aprovação da
PEC 45 já reduziria a regressividade dos impostos sobre consumo brasileiros. O
tamanho dessa redução dependeria de como funcionaria um de seus mecanismos: uma
forma de cashback, de devolução de impostos pagos para os trabalhadores mais
pobres.
Enfim, a PEC 45 é uma proposta que
contempla as exigências da eficiência e da igualdade. É, portanto, um excelente
ponto de partida para um governo de frente ampla, e uma chance de esquerda e
centro-direita discutirem crescimento, e não apenas graus de ajuste.
Perfeito
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