Valor Econômico
Marcos Bonomo diz que meta de inflação
maior para ter em troca menor taxa de desemprego é ‘falácia’
Trata-se de uma péssima ideia a de aumentar
a meta de inflação dos atuais 3,25% neste ano ou de 3% nos próximos anos para
4,5%, segundo cogitou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quem defende uma meta maior de inflação para ter, em troca, uma menor taxa de desemprego ainda alimenta a ilusão de que esse é um trade-off que existe. “Isto é uma falácia. Não acontece. Desde os anos de 1970 que se sabe que, se existe esse trade-off (curva de Phillips), ele é temporário, de muito curto prazo”, aponta Marcos Bonomo, professor de macroeconomia do Insper, que foi convidado para se incorporar à equipe do Ministério da Fazenda sob o comando de Fernando Haddad, mas declinou do convite por motivos pessoais.
Para Bonomo, essa é uma má ideia por pelo
menos três razões: fere a credibilidade do regime de metas para a inflação;
penaliza mais os mais pobres, justamente quem o governo diz que quer proteger;
e compromete bastante o funcionamento do sistema de preços. “ É preciso deixar
claro que não se trata, nesses pontos que estou levantando, de não dar
importância à questão do emprego. Isso é muito importante para qualquer Banco
Central além, é claro, da inflação”, pondera ele.
Estamos em um mundo em que as expectativas
de inflação são importantes. No momento em que o governo anuncia que a meta de
inflação será de 4,5% e não mais de 3%, as expectativas, que são determinantes
relevantes da inflação corrente, também aumentam.
Não está claro, na fala do presidente Lula,
se a intenção do governo seria de mudar a meta de 3% de 2024 e 2025 ou se tal
decisão de aumentar a inflação para 4,5% seria uma proposta a ser levada para a
reunião de junho do Conselho Monetário Nacional (CMN), que definirá a meta de
inflação para 2026.
Seja qual for a decisão, o fato é que ela
geraria uma perda de credibilidade do sistema, que é um capital
econômico-político, diz o professor do Insper, ao detalhar as três razões pelas
quais concorda que trata-se de uma má ideia. A partir daí, perde-se um
instrumento que está funcionando bastante bem e introduz-se um elemento de
“bagunça” no regime de metas decrescentes de inflação.
Segundo Bonomo, quanto mais baixa for a
inflação - mais próxima de zero - mais estável ela tende a ser, pois os preços
ficam mais ancorados. Assim, é mais fácil controlar uma taxa de 3% do que de
4,5%. “Com a inflação mais alta fica tudo mais custoso e mais instável. E o
risco é de que ela saia de controle mais facilmente.”
Em segundo lugar, a inflação gera uma
arrecadação maior para o governo, o imposto inflacionário que é pago, em geral,
pelos mais pobres. “Isso é uma coisa indesejável especialmente para um governo
que se diz preocupado com os mais pobres, salienta ele. A inflação é claramente
regressiva.
E, por fim, ele aponta, ainda, a questão da
transparência do sistema de preços, que funciona melhor quando as pessoas sabem
os preços relativos. “Num sistema nominal como o nosso, toda vez que uns preços
sobem mais na frente de outros, os preços relativos ficam desalinhados. As
pessoas tentam reposição, aguçam-se os conflitos.”
A inflação é a média da variação dos
preços. Quanto maior a inflação, maior será a dispersão de inflação das
diversas cestas de consumo. Se ela é de 4,5%, a do pobre pode ser de 6% ou 7%.
Quando a inflação é mais baixa, de 3%, dificilmente a inflação dos pobres será tão
salgada.
Um pouco mais de inflação para ter um pouco
mais de crescimento é um trade-off de existência duvidosa. Desde os anos 70
acredita-se que não exista essa troca entre mais inflação para menos
desemprego, ou se existe, que é de muito curto prazo.
“O presidente Lula está sendo mal
aconselhado. Alguém está ensinando economia errada pra ele”, suspeita.
Depois que o presidente mencionou a
intenção do governo de aumentar a meta de inflação, o ministro da Fazenda deu
prosseguimento ao assunto e, ontem, foi a vez de a ministra do Planejamento,
Simone Tebet, comentar. Em entrevista ao Poder 360, ela disse: “Não se discute
em absoluto mudar a meta de inflação”. Mas continuou: “Nós não estamos pensando
nisso agora. Não estamos enxergando neste momento espaço para essa discussão.
Essa decisão, que pode ser mais para frente, nós vamos deixar lá para frente”,
concluiu a ministra, deixando mais uma fonte de incertezas para o futuro no ar.
O mais natural, é fato, seria ninguém do
governo entrar nessa discussão, deixando o Banco Central tratar do assunto. O
Copom nunca perseguiu meta irrealista de inflação.
Quando precisou, ele fez a meta ajustada na
transição do governo FHC para o de Lula. Em carta aberta de janeiro de 2003 o
BC estabeleceu metas ajustadas de 8,5% para 2003 e de 5,5% para 2004. Em 2004
alterou, novamente, a meta que era de 4,5% para 2005. Mas não chamou de meta
ajustada e anunciou que calibraria a taxa de juros para um objetivo de inflação
de 5,1% em 2005.
Pagar um alto custo para poder surfar em
uma onda de curto prazo, que é duvidosa, é uma tolice.
Papo blablabloso pro mercadinho
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