O Globo
Poder público precisa se abrir às
experiências de ONGs e demais entidades que vêm revolucionando o combate aos
problemas sociais
Uma andorinha só não faz verão, diz a
sabedoria popular. O mesmo vale para a área social: iniciativas pontuais de
combate à pobreza melhoram a vida de um grupo de pessoas, mas não têm a escala
necessária para enfrentar nossos problemas estruturais.
O que fazer para que um programa
desenvolvido no terceiro setor fique mais abrangente e impacte um número maior
de comunidades?
A Gerando Falcões desenvolve há cerca de dois anos o Favela 3D — Digna, Digital, Desenvolvida. O cerne do programa é encarar a pobreza da favela como um fenômeno complexo, multidimensional, que, portanto, requer soluções simultâneas para vários problemas, do desemprego ao saneamento básico, da capacitação profissional à regularização dos imóveis. Trata-se de criar, em parceria com a própria favela, uma trilha para a dignidade, um modelo de ação que não se limite a amenizar a pobreza, mas que almeje derrotá-la.
Nosso projeto piloto foi implantado na
favela Marte, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, e é
lá que o programa está mais avançado. A Marte vem passando por uma completa
reurbanização. Suas mais de 200 famílias foram deslocadas para casas alugadas,
e a favela inteira foi demolida. Em seu lugar, um bairro novo está sendo
erguido, com toda a infraestrutura de água, esgoto, luz e internet, com escola,
posto de saúde e até museu.
Cientes de que apenas a reurbanização não é
suficiente para emancipar uma família da pobreza, montamos núcleos de
capacitação profissional e, principalmente, firmamos um compromisso com os
empresários da região para garantir emprego à população da favela. Em pouco
mais de um ano, o índice de desemprego ou informalidade da Marte despencou de
70% para quase zero.
Qual é a próxima etapa de um programa tão
promissor? Aqui é necessário reafirmar a importância do Estado como promotor de
melhorias sociais.
Além da Marte, o Favela 3D está presente
hoje em mais três comunidades, mas ele não pretende criar “joias raras”, alguns
poucos territórios atendidos por dezenas de serviços sociais, ilhados num
oceano de pobreza e desigualdade. O Favela 3D foi pensado sobretudo como um
laboratório, em que testamos e desenvolvemos tecnologias sociais inovadoras.
Nosso maior tesouro são as evidências
concretas, objetivas, quantificáveis, a respeito da eficácia de cada ação
implementada. São essas evidências que precisam chegar à mesa dos prefeitos,
governadores, ministros e demais autoridades, para que casos de sucesso se
transformem em políticas públicas abrangentes e sistemáticas.
Ao longo deste mês, a Gerando Falcões se
reunirá com os governos de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do
Sul e com o governo federal para apresentar seus dados e tentar
construir, juntos, estratégias alternativas de combate à pobreza. A questão em
jogo é simples: como transformar boas iniciativas sociais em programas de
abrangência nacional?
A erradicação da pobreza no Brasil depende
da resposta que daremos. O terceiro setor não pode jamais se ver como
concorrente do poder público. Este, por sua vez, precisa se abrir às
experiências de ONGs e demais entidades que vêm revolucionando o combate à
pobreza no Brasil. É dessa parceria que saem as melhores ideias.
Cabe ao Estado brasileiro reunir e
articular os cantos dessas muitas andorinhas do terceiro setor para que
possamos, enfim, colocar um ponto final na pobreza extrema.
Excelente experiência do Terceiro Setor em São José do Rio Preto-SP. É por aí, sem corporativismo, estatismo, programas elitistas e dispendiosos. Crise econômica e social do País muito grave, Estado deficitário, muito desperdício, ociosidade e altos salários no Serviço Público.
ResponderExcluirO terceiros setor se unir ao poder executivo estadual e até federal creio que é pouco. Acabar com esse projeto de país que chamo de Brasil Favela (os autores do projeto são bilionários) tem que fazer parte da Constituição. Isso tem que fazer parte dos objetivos nacionais. As metas são: saneamento básico; casa própria, escola de turno único para todos (falem com o Cristovam Buarque), capacitação profissional, emprego pleno, saúde pública eficaz, aposentadoria digna garantida. E por aí vai.
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