O Estado de S. Paulo
Rússia e Ucrânia mandam sinais favoráveis à entrada do Brasil em campo
A um mês da ida do presidente Lula à China
para se reunir com seu equivalente, Xi Jinping, o Brasil avança duas casas na
pretensão de articular (ou até liderar) uma frente de paz entre Rússia e
Ucrânia, além de se colocar como a bola da vez para atrair financiamentos e
investimentos do G20. Audácia pouca é bobagem.
Quando Lula, após a conversa com o
presidente Joe Biden, em Washington, sugeriu essa frente de países “não
envolvidos” para negociar a paz, ninguém deu bola. O Brasil tem tamanho para
isso? Ou é megalomania? As respostas começam a surgir.
O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, agradeceu a decisão brasileira de não enviar armas para a Ucrânia, como queriam os Estados Unidos e a Alemanha, e declarou à agência Tass que o governo de Vladimir Putin “está estudando a proposta de paz de Lula, mas levando em conta a evolução da situação”.
O fio da proposta de paz lançada por Lula
começa com um cessar-fogo imediato e foi incluído numa resolução aprovada ontem
na Assembleia-Geral da ONU, por 141 votos a favor, sete contra e 32 abstenções.
Quem pediu a inclusão? A Ucrânia. Logo, tanto a Rússia quanto a Ucrânia
enviaram sinais, por mais leves que sejam, de que não descartam a participação
do Brasil. Lula está em campo...
Em outra investida, Fernando Haddad
(Fazenda) e Roberto Campos Neto (BC) usam a reunião técnica do G-20, na Índia,
para convencer as maiores economias do mundo das vantagens comparativas do
Brasil num ambiente internacional conturbado. A Rússia contra o Ocidente, a
China arrastada para o lado russo e ampliando sua disputa com os EUA, a Turquia
descambando para a extrema direita e arrasada pelo terremoto. O Brasil, que deu
uma demonstração contundente de resistência democrática, grita: “Olha eu aqui!”
Nas reuniões multilaterais e bilaterais de
hoje, Haddad e Campos Neto vão tentar jogar holofotes em outros trunfos
brasileiros na guerra por recursos, a começar por Amazônia, matriz energética
limpa e retomada da proteção dos biomas e dos Yanomamis, que têm visibilidade
internacional.
Esse discurso tem uma novidade, que começou
numa frase de Lula após o encontro com Biden e ganha corpo: a preservação do
ambiente associada à industrialização responsável. Segundo uma fonte da área
econômica, essa mistura é “muito malcompreendida”, mas a inovação tecnológica é
necessária, como nos setores de serviços e do agronegócio, com sustentabilidade
ambiental, social e econômica. É assim que Brasil e Lula tentam avançar em dois
campos, o diplomático e o do financiamento.
Tomara que dê tudo certo.
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