O Globo
Bem remunerados, diretores venderam R$ 244
milhões em ações da empresa no segundo semestre de 2022. A discussão
sabia-não-sabia irá para os tribunais, a menos que ocorra uma trégua simulada
Com todo mundo brigando com todo mundo, é
possível que a encrenca da rede varejista Americanas caminhe para uma falsa
trégua. Seguiria o ensinamento do grande sambista Morengueira em seu “Piston de
Gafieira”:
“Quem está fora não entra
Quem está dentro não sai.”
Apareceu um rombo estimado em mais de R$ 40
bilhões e, salvo o executivo Sérgio Rial, que ficou alguns dias à frente da
empresa, tocou o alarme e afastou-se do cargo, ninguém sabia de nada.
O trio de grandes acionistas (Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles) informaram que “jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia”. A auditora PwC e os bancos que davam crédito à rede nunca tocaram o sino. Os responsáveis diretos pela administração da empresa ao longo dos últimos anos estão calados. Ninguém sabia de nada, mas o espeto vai também para fornecedores de mercadorias.
A discussão de sabia-não-sabia irá para os
tribunais e lá poderá ser esclarecida com o exame das mensagens trocadas pelos
doutores. Contudo, versões implausíveis raramente resistem a uma cronologia, e
ela indica que a rede Americanas sofreu um golpe. Em português do varejo, foi
depenada. A empresa mimava acionistas e diretores como se fosse um porta-aviões
e era um casco condenado. Pelo menos as pessoas que mostraram os números a Rial
sabiam disso.
No ano passado, o conselho da empresa
orgulhava-se de “promover uma cultura de superação de resultados através da
contratação e retenção das melhores pessoas, alinhadas com os interesses dos
acionistas”.
A Americanas remunerava muito bem seus
diretores. Nos últimos dez anos eles receberam R$ 505,4 milhões, o dobro do que
pagaram redes concorrentes como a Magalu e a Renner. Entre 2013 e o terceiro
trimestre de 2022 a Americanas pagou R$ 2,1 bilhões aos seus acionistas. Até
aí, seria o jogo jogado.
O processo de escolha de um novo executivo
para a Americanas começou em março do ano passado. Em agosto a rede anunciou
que o veterano Miguel Gutierrez, com 30 anos de casa e 20 como seu principal
executivo, seria substituído por Sérgio Rial, vindo do banco Santander. O
repórter Nicola Pamplona revelou que durante o segundo semestre de 2022,
diretores estatutários da Americanas venderam R$ 244,3 milhões de ações da
empresa. O pico das vendas ocorreu entre agosto e setembro.
Em novembro a rede revelou um prejuízo de
R$ 211,5 milhões para o trimestre. (No ano anterior ela havia lucrado R$ 240
milhões no mesmo período.)
A luz do Sol é o melhor detergente
Sérgio Rial assumiu a direção da Americanas
no dia 2 de janeiro. Nesses dias obteve detalhes do que mais tarde chamaria de
“inconsistências contábeis”. No dia 6, representantes dos acionistas
reuniram-se com diretores da empresa e funcionários da área financeira. Daí até
o dia 11, Rial viveu o que chamou de “escolha de Sofia”: “Falo ou não falo?”
Falou. No dia seguinte as ações da empresa perderam 80% do seu valor e logo
depois a Americanas entrou em processo de recuperação judicial.
O litígio da Americanas poderá vir a ser um
dos maiores de todos os tempos, a menos que nas próximas semanas ocorra uma
trégua simulada. Afinal, Morengueira cantava:
“A orquestra sempre toma providência
Tocando alto pra polícia não manjar
E nessa altura
Como parte da rotina
O piston tira a surdina
E põe as coisas no lugar.”
A luz do Sol é o melhor detergente. Há
abundantes sinais de que houve uma fraude na Americanas e que ela só durou anos
porque foi encoberta.
Os bancos pedem à Justiça acesso às
comunicações internas da empresa. Esse acervo poderá levar a novas pistas para
se saber o que aconteceu. Além disso, outra boa questão está no tabuleiro, para
ser esclarecida com a Comissão de Valores Mobiliários:
Quais foram os diretores da Americanas que
venderam R$ 244,3 milhões no segundo semestre do ano passado, quando a
Americanas foram do lucro ao prejuízo e sabia-se que Gutierrez seria
substituído por Rial? Por quê?
A estatal do Trem Bala é imortal
Marcelo Guerreiro Caldas, ex-diretor da
Infra S.A., foi afastado do conselho de administração da estatal, acusado de
ter apresentado um diploma falso para assumir o cargo.
Maganos com diplomas esquisitos fazem parte
da vida, mas o doutor Marcelo jogou luz sobre a existência da empresa. Em
burocratês, ela é uma “empresa pública que nasce da junção da Valec Engenharia,
Construções e Ferrovias S.A. com a Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e
é responsável por obras ferroviárias, planejamento e estruturação de projetos
para o setor de infraestrutura de transportes.”
Traduzindo, a Infra é um avatar do Trem
Bala que ligaria o Rio a São Paulo em poucas horas. A ideia do trem surgiu em
1996 e encorpou dez anos depois e, aos poucos, foi virando poeira. O presidente
da Valec, estatal que cuidaria de sua construção, passou algum tempo na cadeia
por outros malfeitos. Morto o projeto do trem, seus interesses burocráticos
reencarnaram-se na EPL. Do seu casamento com a Valec, surgiu a Infra.
Em quase 30 anos o Brasil teve governos de
centro, de esquerda e de direita. Durante quatro anos, o ministro Tarcísio de
Freitas ficou na pasta da Infraestrutura e elegeu-se governador de São Paulo.
Só não conseguiu acabar com a estatal do Trem Bala.
Lula 2026
Lula anunciou que, se tiver saúde, poderá
disputar a reeleição em 2026. Ele já havia condenado o instituto da reeleição
e, na campanha, disse que seria “um presidente de um mandato só.”
Pena, porque jogou fora a oportunidade de
extirpar a busca pela reeleição da lista de malignidades da política
brasileira.
Hoje, a reeleição é a fonte dos piores
males nacionais. Os planos golpistas de Bolsonaro estão aí para mostrar isso.
Eremildo, o idiota
Eremildo acreditou que Lula seria
presidente de um mandato só. Ele também acredita que o ex-ministro Anderson
Torres perdeu o celular e que foi a funcionária de sua casa quem guardou a
minuta do golpe na estante. O cretino acha que a declaração de Valdemar Costa
Neto de que todo mundo tinha cópias de minutas golpistas era apenas uma metáfora.
Acima de tudo, Eremildo acredita que o
Gabinete de Segurança Institucional (GSI) jamais se meteria numa operação para
grampear o ministro Alexandre de Moraes. O general Augusto Heleno nunca
concordaria com uma coisa dessas.
Grampos, hoje e ontem
Daniel Silveira, que teria planejado
grampear uma conversa do senador Marcos do Val com o ministro Alexandre de
Moraes, foi candidato a senador pelo PTB e não se elegeu. Fez campanha ao lado
do ex-deputado Eduardo Cunha, que elegeu a filha, Danielle Dytz da Cunha.
Em junho de 1974 o ex-ministro da Fazenda
Antonio Delfim Netto desceu em Brasília para uma conversa com o general Golbery
do Couto e Silva. Delfim havia sido o todo poderoso ministro da Fazenda, tentou
ser governador de São Paulo, mas foi vetado. Da conversa, resultou que Delfim
foi para a embaixada em Paris.
Delfim achou estranho que Golbery lhe
apontasse onde sentar. Claro, era para deixá-lo perto do microfone que
transmitia a conversa para um gravador instalado na cozinha.
Quem montou o grampo foi o coronel Edson
Dytz, do Serviço Nacional de Informações. À época ele era sogro de Eduardo
Cunha.
Eles são os garimpeiros do asfalto.
ResponderExcluir"Eu não sabia" é sua tribo. Com todo respeito às tribos indígenas.
Logo, logo suas dragas voltam, com "o mercado" colocando as "vendas" nos idiotas.
A tempo : EREMILDO para presidente.
Eremildo já presidiu o país entre 2019 e 2022! Ou, se não foi ele, foi alguém do mesmo tipo... Que no último dia fugiu covardemente pra Flórida e está escondido lá até agora!
ResponderExcluirEremildo,rs.
ResponderExcluirEremildo, o Bolsonaro, ou algo assim...
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