Folha de S. Paulo
Empresas poderão simplesmente limitar
debates sensíveis, tirando das mídias sociais seu grande mérito
Imagine que alguém diga, numa rede social, que Lula deu um golpe; que urnas foram fraudadas. É o tipo de afirmação que, para muitos, atenta contra a democracia e deveria ser retirada o mais rápido possível. Mas e a afirmação de que Michel Temer também deu um golpe? Nem digo que as duas sejam equivalentes (não são), mas mostrar isso exige uma argumentação nada trivial. Outro exemplo: negacionismo de ciências médicas deve ser deletado, mas e negacionismo de ciência econômica? Como, aliás, diferenciar, no dia a dia, negacionismo e real discordância ou ceticismo?
Com o receio de serem responsabilizadas por
conteúdos que "atentem contra a democracia" mesmo na ausência de
qualquer decisão judicial, o mais provável é que as empresas evitem essas
discussões abstratas e simplesmente limitem debates polêmicos sobre temas
sensíveis, isto é, aqueles temas que mobilizem as paixões. Ao fazer isso,
tirarão das redes o seu grande mérito: engajar a sociedade no debate público.
Temos desde os anos 80 a democracia do
voto, mas a oligarquia das opiniões. O mundo todo era assim. Agora temos também
a democracia da opinião. Um número cada vez maior tem
acesso aos meios para se expressar e ser ouvido. O Brasil era um país
em que o discurso padrão era o da alienação política: "Tudo farinha do
mesmo saco lá em Brasília, e não adianta tentar mudar". Esse discurso
mudou desde
2013. As pessoas se interessam e querem mudar a sociedade.
As novas tecnologias dão a sensação (em
alguma medida real) de que isso está ao alcance de nós. Engajar-se na disputa
política passa a fazer sentido. Nessa mesma medida, a autoridade automática que
era conferida às instituições de geração de conhecimento (jornais, institutos,
órgãos oficiais etc) não basta mais para persuadir pessoas. Essa autoridade
vinha da falta de alternativas, e as alternativas agora existem.
No velho sistema, especialistas produziam
conhecimento, que por sua vez era simplificado e divulgado na imprensa e na
educação. Quem tinha espaço para falar tinha passado por um longo preparo que
justificava sua posição. Do lado da maioria que não tinha esse espaço, era
enfatizada a importância cívica de se aprender alguns desses conteúdos.
Infelizmente, quase ninguém busca informação apenas pelo dever cívico de se
"manter informado" e ter um voto consciente. A maioria de nós só irá
atrás de uma informação na medida em que precise dela —e vencer uma discussão
ou aumentar sua reputação é um forte motivador.
Eu jamais conheceria os passos institucionais
que levam à aprovação de uma vacina se não fosse a polêmica das vacinas
de Covid. Idem para como se dá o monitoramento do desmatamento no
país. Milhões de pessoas estão nesse mesmo barco. Aqui a lógica se inverte:
todo mundo fala, mesmo sabendo muito pouco; e a divergência nas redes —que se
dá em meio a erros, teimosia, gente honesta e desonesta—é ela própria o motor
de aprendizado.
Na ausência de controles que impedem o
acesso de todos à voz, caberá àqueles que produzem conhecimento e informação de
qualidade —seja na pesquisa científica ou no jornalismo— entrar de forma mais
decisiva no campo de embate retórico em que todos estão em pé de igualdade.
Em vez de bolar novos caminhos para proibir
o erro, devemos equipar as pessoas para pensar por conta própria. Se essa
possibilidade for limada por controles do discurso cada vez mais exigentes, as
redes ficarão pasteurizadas, politicamente castradas, o público apático e a
estrutura de poder vigente, portanto, mais solidificada.
Para ouvir as merdas que Petistas falam em Blogs, tem que censurar mesmo e urgente, o nivel e muito baixo com a bosta-rala rolando.
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