Valor Econômico
Ao STF, Bolsonaro fingiu executar plano,
mas o ignorou
Que o ex-presidente Jair Bolsonaro trataria
a pauta indígena como mais uma de suas agendas ideológicas, catapultadas pela
poderosa máquina de ódio e desinformação que funcionava a passos do seu
gabinete, não era segredo para ninguém. Ainda assim, o nefasto saldo dos seus
quatro anos de governo, traduzido na imagem de uma senhora Yanomami à beira da
morte por desnutrição, foi capaz de chocar o mundo.
Ao Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou ao governo anterior uma série de medidas para proteger os povos originários, Bolsonaro e seus auxiliares manipularam informações, facilitaram a fuga dos garimpeiros e fizeram pouco caso das reuniões com representantes indígenas. Obrigados a prestar contas periodicamente sobre as providências em andamento, apresentaram “provas” que nada comprovaram.
O caminho da negligência estava traçado
desde o início da pandemia. Mais preocupado em ameaçar descumprir as decisões
do STF, Bolsonaro não cogitou qualquer política pública especial para os
indígenas. Coube ao ministro Luís Roberto Barroso ordenar a elaboração de um
plano nacional de contenção do vírus. A primeira versão foi tão incompleta que
precisou ser descartada. A segunda, idem. A terceira ainda era insuficiente. Um
ano havia se passado. Nesse meio tempo, as mortes entre indígenas cresceram
108%.
A homologação do plano só veio na quarta
tentativa. Na esteira dos ataques insuflados por Bolsonaro contra o STF, o alto
escalão do governo – incluindo o núcleo militar lotado no Palácio do Planalto -
mostrou antipatia pela causa desde a primeira reunião da Sala de Situação, em
julho de 2020.
Os representantes do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), por exemplo, desdenharam dos indígenas, especialmente dos
que viviam fora das áreas demarcadas, e inviabilizaram o diálogo técnico com os
especialistas, a quem costumeiramente mandavam “baixar o tom”.
Os diretores bolsonaristas da Fundação
Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama) desconheciam - ou fingiam desconhecer - os
problemas que recaíam sobre as terras indígenas, como incêndios criminosos,
ameaças de invasores e outros episódios de violência generalizada. Sem
compartilhar informações, dificultavam a busca por soluções emergenciais.
Ao longo dos três anos seguintes, uma
sequência de eventos suspeitos foi identificada pelo Ministério Público Federal
(MPF) e pela Polícia Federal (PF). Os órgãos reportaram ao Supremo, em um
processo sigiloso, uma espécie de boicote do governo às operações
anti-invasores.
Bolsonaro retirou abrupta e
injustificadamente o apoio das Forças Armadas, da Força Nacional de Segurança
Pública e da Força Aérea Brasileira (FAB) nos territórios indígenas em que os conflitos
se mostravam mais dramáticos. Alegou falta de verba e ignorou que situações de
calamidade pública, a exemplo de uma pandemia mundial, permitem a abertura de
crédito extraordinário, conforme a lei.
Depois, o governo divulgou de antemão a
data e o local em que as operações policiais aconteceriam. O Ministério da
Justiça e Segurança Pública publicou as informações no “Diário Oficial da
União”, enquanto o Ibama disparou um comunicado virtual a todos os servidores.
Alertas, os invasores tiveram tempo de sobra para esconder o maquinário e
fugir.
Há, ainda, relatos de aviões ligados ao
garimpo ilegal que voltaram a circular mesmo depois de serem apreendidos e
levados a um depósito, para posterior destruição. Por falta de controle do
tráfego aéreo, um deles por pouco não colidiu com uma aeronave comercial de
passageiros. Quanto ao plano nacional como um todo, a conclusão dos peritos foi
categórica: o governo simulou que executou, mas não executou. A defesa de
Bolsonaro não quis comentar.
As desconfianças começaram a surgir quando
dois relatos sobre um mesmo episódio - um do governo e outro do Ministério
Público - foram colocados lado a lado. No quadro comparativo, as
inconsistências ficaram evidentes. Oficialmente, Bolsonaro descrevia o
abastecimento regular e absolutamente normal de alimentos, remédios e água
potável. A realidade era outra: desassistência completa. Mais de 2 mil
documentos foram analisados.
Aberta por ordem de Barroso no vácuo da
Procuradoria-Geral da República (PGR), a investigação deve atingir Bolsonaro,
ex-ministros de Estado e ex-presidentes de autarquias diretamente envolvidas na
questão ambiental. Ficam de fora os auxiliares que ocuparam a Advocacia-Geral
da União (AGU), entre eles Bruno Bianco, o último da gestão anterior, e André
Mendonça, hoje ministro da Corte.
A hipótese mais provável é de que as
informações falsas tenham sido maquiadas pelos órgãos responsáveis e apenas
repassadas ao Supremo pela AGU, que defende o presidente da República, mas não
manda nem desmanda nas suas vontades políticas. Com bom trânsito na Corte desde
aquela época, Mendonça, na verdade, é elogiado pelos colegas por ter tentado
facilitar o diálogo entre os dois Poderes, quase sempre truncado.
De todo modo, os “erros operacionais”
relatados pelos investigadores são muito crassos para serem considerados
acidentais. Segundo um investigador a par das apurações, a performance pífia do
governo Bolsonaro reforça a percepção de conivência com a catástrofe. “É caso
de absurda ignorância ou inominável má-fé”, descreveu, dando ênfase à segunda
opção.
Com a posse do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e a criação de um inédito Ministério dos Povos Indígenas, as terras
arrasadas devem ser reconstruídas aos poucos, o que reduziria o papel do
próprio STF na questão.
Enquanto isso, as apurações prosseguem com
a PF. Para quem ainda acreditava que Bolsonaro, quando prometia afrontar o
Supremo, estava na aba da retórica, esse caso provou o contrário: desrespeitar
ordens judiciais, uma das faces do autoritarismo, era mesmo um projeto de poder
- e seguido à risca.
Dirigentes do Ibama e da Funai foram escolhidos entre MILITARES e POLICIAIS para fazerem pouco ou nada do que deveriam realmente fazer. Incompetentes e mal intencionados, tais dirigentes só atrapalharam as ações dos técnicos que trabalhavam nestes órgãos. Eles implantavam as vontades de Bolsonaro, Damares Alves e Ricardo Salles, criminosos que comandaram o desmanche dos órgãos públicos e da fiscalização ambiental. São todos cúmplices de GENOCÍDIO e crimes ambientais, tentando esconder seus crimes com mentiras enviadas ao STF e à Justiça.
ResponderExcluirÉ muita coisa errada em quatro anos.
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