Correio Braziliense
"O desmatamento da Amazônia durante o
governo anterior virou uma ameaça para o mundo, que reage a isso
fortemente"
A visita ao Brasil do enviado especial do
governo Biden, John Kerry, para tratar da participação dos Estados Unidos no
Fundo Amazônia, coincidiu com o recrudescimentos das queimadas na floresta.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram
registrados até 17 de fevereiro um recorde para o período. No encontro com o
vice-presidente Geraldo Alckmin e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no
Itamaraty, Kerry se comprometeu a buscar recursos "vultosos" para o
Fundo. Na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Casa Branca, o
presidente Joe Biden havia anunciado essa intenção.
Estima-se que essa participação pode chegar a US$ 50 milhões. Segundo a embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Bagley, o montante será definido numa negociação da Casa Branca com o Congresso americano. O Fundo ficou parado entre 2019 e 2022, no governo Bolsonaro. Depois da posse de Lula, foi reativado e seus recursos liberados pelos doadores, principalmente Noruega e Alemanha. A União Europeia (UE) também pretende colaborar.
O desmatamento da Amazônia durante o
governo anterior virou uma ameaça para o mundo, que reage a isso fortemente. Na
prática, Bolsonaro "internacionalizou" a Amazônia, cujo impacto no
aquecimento global é enorme, por causa das queimadas e derrubadas de árvores.
Zerar o desmatamento é a forma mais eficiente e barata de reduzir o aquecimento
global e ganhar tempo para a conversão à economia verde. Por exemplo: o presidente
da França, Emmanuel Macron, anunciou, sábado passado, durante a Feira
Internacional Agrícola de Paris, que o acordo entre o Mercosul e a UE pode
subir no telhado em razão da questão ambiental.
Na COP27, no Egito, Macron fez dobradinha
com Lula, então recém-eleito, com duras críticas ao ainda presidente Bolsonaro.
Na verdade, a advertência é dirigida principalmente à Venezuela, que passa a
ser pressionada também pelos vizinhos. Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai
têm interesse no acordo. A França, por causa da Guiana Francesa, se considera
"uma potência amazônica". Macron faz alusão ao centro espacial de
Kourou, que hospeda a base de lançamento de foguetes e satélites da Agência
Espacial Europeia (ESA). O empreendimento gera tecnologia de ponta e informática,
além de empregos.
Situada na costa setentrional da América do
Sul, como o Suriname e a República da Guiana, a Guiana Francesa parece mais um
território caribenho do que sul-americano. Está isolada do resto do continente
pela floresta amazônica, pois é essencialmente povoada na faixa atlântica. O
idioma francês e o dialeto créole, também presentes nas Antilhas, não são
falados nos países sul-americanos. Por ser uma província francesa, também foi
excluída dos tratados entre os países da América do Sul, porém representa a
França na Associação dos Estados do Caribe, junto com a Martinica e a ilha da
Guadalupe. É um enclave europeu no subcontinente.
Garimpo ilegal
Com 200 mil habitantes, mercado de consumo
pequeno e fronteira vulnerável, a Guiana Francesa se manteve isolada, mas agora
sofre com os imigrantes ilegais, principalmente garimpeiros brasileiros e
peruanos, traficantes colombianos e refugiados haitianos. O Brasil sempre deu
mais importância estratégica à cooperação com a Guiana do que a própria França,
da qual é um departamento, porque a fronteira de 760km entre os dois países nos
torna também vizinhos da UE.
Entretanto, a ponte que ligaria a Guiana ao
Amapá, o único estado brasileiro que não tem ligação terrestre com o resto do
país, não saiu do papel. A estratégica ligação entre Manaus e Georgetown,
sonhada pelos militares nos anos 1970, também não. A ligação com o Suriname,
após a construção da estrada de Cayenne ao Oiapoque, porém, virou uma porta
aberta para os traficantes colombianos e garimpeiros brasileiros — ou seja, um
problema.
As fronteiras entre Brasil, Guiana,
Suriname, Venezuela e Colômbia são praticamente virtuais, o que coloca em xeque
a soberania efetiva entre esses países, ainda mais depois que a preservação da
Amazônia se tornou um problema global. Várias operações foram realizadas pelo
governo francês para combater o garimpo ilegal na Guiana Francesa. Entretanto,
após cada operação os garimpeiros voltaram.
Em 12 de março de 2010, soldados franceses
e policiais de fronteira foram atacados enquanto retornavam de uma operação
bem-sucedida, durante a qual prenderam 15 mineiros, confiscaram três barcos e
apreenderam 617 gramas de ouro. Entretanto, os garimpeiros retornaram para
recuperar seus saques e colegas perdidos. Os soldados dispararam tiros de
advertência e balas de borracha, mas os garimpeiros conseguiram retomar um de
seus barcos e cerca de 500 gramas de ouro.
A cooperação com a França será fundamental
para conter o garimpo ilegal e o tráfico de drogas na Amazônia.
Não sabia que não tem rodovia que ligue Amapá ao resto do Brasil.
ResponderExcluirO maior obstáculo para salvar as florestas tropicais é a ilegalidade
ResponderExcluirAté que isso seja resolvido, nada mais funcionará
https://www-economist-com.translate.goog/international/2023/02/27/the-biggest-obstacle-to-saving-rainforests-is-lawlessness?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt