Presidentes de Brasil e EUA ressaltaram importância da preservação ambiental e fortalecimento da democracia
Patrícia Campos Mello e
Thiago Amâncio / Folha de S. Paulo
WASHINGTON - Na primeira reunião
entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Joe Biden como presidentes do Brasil e
dos EUA, realizada na Casa Branca, em Washington, nesta sexta-feira (10), o
petista convidou o líder americano para discutir um mecanismo de governança
global que force os países a acatar decisões na área climática.
Em declarações dadas na presença de
jornalistas no Salão Oval, os dois líderes destacaram a importância da
preservação ambiental e reforçaram a necessidade de fortalecer instituições em
defesa da democracia.
"A questão climática, se não tiver uma governança global forte e que tome decisões que todos os países sejam obrigados a cumprir, não vai dar certo", afirmou o petista ao democrata. "Não sei qual é o fórum, não sei se na ONU, não sei se é no G20, não sei se é no G8, mas alguma coisa temos que fazer para obrigar os países, o nosso Congresso, os nossos empresários a acatar decisões que tomamos em nível global."
Já Biden, na toada de retomada dos elos
entre os países após dois anos dormentes, disse ver o Brasil como
"parceiro natural para enfrentar os desafios atuais, globais e em especial
as mudanças climáticas".
A reunião a sós entre Lula e Biden estava
programada para durar apenas 15 minutos, mas a conversa levou cerca de 50. De
lá, eles tiveram uma reunião ampliada, com a comitiva ministerial que acompanha
o petista e parte do gabinete do democrata. Em clima caloroso, bem diferente do
encontro que teve com Jair Bolsonaro (PL) no ano passado, Biden disse a Lula
ser "uma honra recebê-lo de volta na Casa Branca".
Nas declarações iniciais, o presidente
brasileiro, assim como já havia feito em viagem à Argentina, em janeiro,
criticou Bolsonaro diversas vezes, ainda que outra vez não tenha citado o nome
do rival. "Tivemos um presidente que mandava desmatar, mandava garimpeiros
entrarem em áreas indígenas, mandava garimpar nas florestas que demarcávamos
como reserva na Amazônia", afirmou Lula.
Ambos os presidentes foram vítimas de
tentativas de golpe por parte de apoiadores de seus antecessores, que negavam
os resultados das eleições —em 6 de janeiro de 2021 em Washington e em 8 de
janeiro de 2023 em Brasília. Assim, a defesa da democracia virou um tema de
conexão entre os dois líderes.
"Temos alguns problemas para trabalhar
juntos: nunca mais permitir que haja um novo capítulo do Capitólio e que nunca
mais haja o que aconteceu no Brasil", disse Lula. Biden iniciou sua fala
dizendo que as "duas nações são democracias fortes que foram duramente
testadas —e prevaleceram".
Quando o petista disse que o dia de
Bolsonaro "começava e terminava com fake news", Biden afirmou que a descrição
soava familiar, em comentário referente a Donald Trump, o que gerou risadas na
sala.
Lula chegou à
Casa Branca às 17h50, no horário de Brasília, e cumprimentou o presidente americano com um
aperto de mãos que simbolizou a reaproximação entre Brasil e EUA após
dois anos de tensões.
Ele chegou acompanhado da primeira-dama, Janja
Lula da Silva, e foi recebido pelo presidente americano no jardim dos
fundos da Casa Branca. Jill Biden, mulher do democrata, tomaria um chá com
Janja, mas a agenda foi cancelada porque a americana não estava se sentindo bem
—ela fez um teste para Covid, e o
resultado foi negativo. Janja então fez um tour pela Casa Branca enquanto os
presidentes se reuniam.
A visita de Lula a Washington foi cercada
de expectativas, depois das relações estremecidas da Casa Branca com Brasília
no período em que Biden conviveu com Bolsonaro no
comando do país —apoiador de primeira hora do ex-presidente
Donald Trump, o ex-presidente ainda ecoou alegações de fraude na eleição
americana. Biden e Bolsonaro nunca se falaram por telefone e só
se reuniram uma vez.
Pela manhã, Lula se encontrou com o senador
Bernie Sanders e com parlamentares democratas na Blair House, onde está
hospedado. Um dos principais líderes da esquerda nos EUA, Sanders capitaneou
ações de parlamentares americanos por respeito à democracia no Brasil. Ele
aprovou no Senado, no fim de 2022, uma
resolução instando a Casa Branca a romper relações em caso de golpe de Estado.
Depois, Lula se reuniu com os
deputados Alexandra
Ocasio-Cortez, Pramila Jayapal, Sheila Jackson Lee, Brad Sherman e Ro
Khanna. AOC, como a estrela da ala à esquerda do Partido Democrata é conhecida,
afirmou que o presidente brasileiro "é uma inspiração" e mostrou
conhecer programas sociais criados em governos petistas, como o Bolsa Família e
o Minha Casa, Minha Vida, ambos citados em português.
Enquanto Lula recebia os parlamentares,
três bolsonaristas apareceram próximo à Blair House para protestar, chamando-o
de ladrão. Outros apoiadores, com caixa de som, gritaram a favor do petista.
O bolsonarista Alessandro Lúcio Boneares,
ligado ao grupo de imigrantes Yes Brasil, dirigiu três horas do estado de Nova
York até Washington para protestar contra o presidente. Com um megafone, ele
gritava "Lula ladrão, seu lugar é na prisão", acompanhado de duas
outras pessoas com cartazes contra os ministros do Supremo Tribunal Federal
(STF) e dizendo que a eleição brasileira havia sido roubada.
Uma das razões para Lula ter se hospedado
na Blair House, não em um hotel, era evitar protestos. O local é cercado quando
há autoridades estrangeiras, e a segurança é feita pelo Serviço Secreto
americano.
A nova
embaixadora americana no Brasil, Elizabeth Bagley,
viajou a Washington para acompanhar a visita. Ao se encontrar com Lula na
última semana, em Brasília, afirmou que estava "muito confiante de que os
dois presidentes serão melhores amigos", pois ambos têm
"personalidades muito envolventes". Disse ainda que Biden vê Lula
"não apenas como líder de seu país, mas um líder regional e global".
A presença de Bagley na Casa Branca
contrasta com a situação do Brasil. A visita de Lula à capital dos EUA
aconteceu num momento de troca no comando da embaixada brasileira em
Washington.
O novo governo indicou
Maria Luiza Viotti como nova representante do governo no país, mas o nome
dela ainda precisa ser aprovado pelo Senado. O embaixador atual, Nestor
Forster, muito identificado com o bolsonarismo, ainda não deixou o posto, mas
tirou férias durante a visita para evitar uma saia justa. No período, a
embaixada está a cargo de Bernardo Paranhos Velloso, número dois na
representação.
Uma visita presidencial com uma embaixada "acéfala" fez com que a viagem fosse toda organizada diretamente por Brasília, com pouca participação da representação brasileira no exterior.
Como disse Obama, Lula é o cara.
ResponderExcluirE mais da metade dos brasileiros botou o genocida pra fora.
É o Brasil de volta ao 🌎.
Além de posto pra fora no Brasil, bolsonaro foi escorraçado pelo mundo; ninguém o recebia - o Brasil virou pária.
ExcluirNão disse a espécie de cara, que pode ser, bobão, língua solta, que fala errado, que não lê e que cheio de ego acha-se o máximo. Pode ser também aquele que fez piada do ponto G para o Bush, mal sabendo que o americano do norte não faz piada de mau gosto, como os americanos do sul, os da latrina.
ResponderExcluir