Folha de S. Paulo
Novos estudos explicam porque as previsões
sobre a morte da democracia falharam
O título desta coluna não estará na capa de
algum best-seller. Sim, a discussão em torno de como morrem as democracias deu
lugar a um grupo cada vez maior de estudos qualitativos e quantitativos sobre por
que as previsões sobre o colapso das democracias falharam.
Estes estudos apontam uma debilidade
crítica das análises já
apontada aqui na coluna há pelo menos quatro anos em relação ao
best-seller de Levitsky e Ziblatt: há viés de seleção na variável dependente
(no caso, a
morte da democracia). A amostra teria que incluir os casos de sobrevivência
e morte da democracia.
Generalizações a partir de estudos de caso de Orban, Chávez, Erdogan, etc —frequentemente combinadas com referências a Hitler— têm pés de barro. Além do mais, mudanças marginais na Índia ou EUA não podem ser reportadas ponderadas pela população, como se refletissem tendências globais.
No entanto, algumas análises não cometem
este erro primário e baseiam-se em índices elaborados por instituições como
Freedom House, V-DEM, The Economist (EIU), ou Polity2. Alguns baseiam-se em
indicadores objetivos (ex: percentagem de eleições em que o incumbente ou seu
partido venceu) ou número de jornalistas assassinados.
Outros são subjetivos (ex: "como
avalia se as eleições foram limpas e justas e se a vontade popular
prevaleceu") e são sujeitas a vieses (o número de especialistas
consultados é muito pequeno).
Little e Meng desagregaram dezenas de
indicadores das fontes disponíveis concluindo que nas últimas quatro décadas
não há nenhuma evidência de declínio da democracia segundo dezenas de
indicadores objetivos; em muitos casos observa-se o contrário. Também
examinaram os indicadores subjetivos e investigaram as possíveis razões para os
vieses encontrados.
Concluíram (utilizando um modelo formal)
que a saliência e o nível crescentes de informações sobre retrocessos
democráticos explicam parte do viés. O impacto do fenômeno Trump é exemplo.
Algumas fontes têm problemas específicos. O
V-DEM —o padrão-ouro— publiciza de forma anônima as respostas dos especialistas
(cujo número varia de 5 a 11) que sugerem um intervalo de confiança para suas
respostas. Little e Meng mostraram que ele é superior ao desvio padrão das
respostas para os níveis das escalas utilizadas, comprometendo alguns
indicadores. O Polity2, por sua vez, perdeu grande credibilidade pela falta de
plausibilidade.
Após a eleição de Trump em 2016, o escore
para os EUA declinou para 5 (o mesmo que Haiti e Somália), o menor de sua
história desde 1801, inferior inclusive aos da Era Jim Crow, quando negros e
mulheres (até 1920) eram impedidos de votar.
*Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
Pois é.
ResponderExcluirRemanos tanto e hoje vivemos numa ditadura do Judiciário onde Alexandre de Moraes é o Grande ditador
ResponderExcluirA imprensa que sempre defendeu a liberdade hoje aplaude o regime de exceção em que vivemos
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