O Globo
Putin não quer o Nobel da Paz, quer vencer
os separatistas, que são uma ameaça à Federação Russa.
Na marca de um ano da invasão da Rússia na
Ucrânia, nada melhor para conhecer as intrincadas razões do primeiro-ministro
russo Vladimir Putin para desencadear essa ação irresponsável, do que ler “O
Mago do Kremlin”, do cientista político italiano Giuliano Da Empoli, lançado no
Brasil no final do ano passado, premiado com o Grand Prix da Academia Francesa.
Putin é um homem que não se interessa em ganhar o Prêmio Nobel da Paz, mas em
vencer os separatistas, que representam uma ameaça à Federação Russa.
Autor do essencial “Engenheiros do Caos”, livro no qual descreve a ação de extremistas de direita no uso das ferramentas digitais para provocar rebeliões pelo mundo afora, e interferir na política de outros países, Da Empoli faz a ligação de seu novo livro com o anterior, mostrando como o uso político das redes sociais na internet teve papel fundamental para Putin, reforçando as suspeitas de que a Rússia teve participação direta na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos em 2016 e, possivelmente, na de Bolsonaro em 2018 no Brasil.
Foi na produção do primeiro livro que ele
se deparou com a figura de Vladislav Sukov, “O Mago do Kremlin”, que no romance
foi identificado como Vladimir Baranov, o principal assessor de Putin durante
anos, que engendrou a política baseada nos algoritmos que usaria os novos meios
digitais para impor sua visão de mundo. No livro anterior, Da Empoli falava de
Steve Bannon, o guru da extrema-direita dos Estados Unidos e da família
Bolsonaro.
Deixou o mago do Kremlin para um livro
próprio, e fez bem. Na concepção de Sukov, como os instrumentos digitais foram
inicialmente concebidos para a utilização militar nas guerras, não seriam
dedicados à liberdade individual. Ao contrário, seriam meios estratégicos para
indução das populações às vontades de um governo central. O objetivo seria
“fazer com que fiquem enraivecidos. Todos. Cada vez mais”.
Ou, como diz Vladimir Baranov, o alter-ego
de Vladislav Sukov, alguns valores que são básicos nos países democráticos
ocidentais, como o livre arbítrio, os direitos individuais, a própria
democracia, ficaram obsoletos diante do novo mundo digital, que “transformou a
humanidade em um único sistema nervoso”. É a definição do espírito de manada
que ele identifica com “configurações padronizadas”.
Sukov seria uma espécie de versão atual,
usando algoritmos, de Rasputin, o monge místico que exercia forte influência
sobre Alexandra Feodorovna, a mulher do último czar Nicolau II, estimulando a
visão de Putin de reunificação da Grande Rússia. Desde a criação da imagem
forte e atlética de um Putin que, saindo da KGB, sucedeu a Ieltsin, um líder
fraco e bêbado. Para ressurgir, a Grande Rússia precisava de um líder que
espelhasse o poder do país. O que o povo russo exige de seu comandante, diz
Putin, é ordem interna, além de poder externo.
O pacote de “image laudering” do regime
incluiu a realização das Olimpíadas de Inverno e da Copa do Mundo de futebol. A
invasão da Ucrânia, precedida do incentivo a radicais russos na região do
Donbass, é um dos efeitos de sua atuação, assim como a guerra da Tchetchênia .
Quando se fala de “teatro político”, não é uma figura de linguagem, no caso de
Sukov/Baranov. Ele foi ator e trabalhou na televisão, e tinha o objetivo de
transformar a Rússia num grande teatro, onde a vontade do Czar Putin deveria
prevalecer sempre.
Utilizando-se de uma citação de Constantin
Stanislavski, Putin é descrito como o ator que coloca a si mesmo em cena, que
não precisa atuar porque está tão impregnado por seu papel que o roteiro da
peça se tornou sua própria história.
Em tempos de inteligência artificial
tomando o lugar de pessoas, Sukov/Baranov imagina que um dia um homem apenas
dominará o mundo, mas, na verdade será a máquina que dominará o mundo, colocada
a funcionar por um homem.
Merval no lugar certo pra falar de suas 'leituras': 13° nalista de hoje!
ResponderExcluirSei.
ResponderExcluirPutin, Trump e Bolsonaro - juntos e misturados! Enquanto o GENOCIDA aproveita sua estadia na Flórida, sonha em se reencontrar com seus 2 ídolos. Que nada querem com um covarde fujão como o criminoso brasileiro...
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