O Estado de S. Paulo
Comprometido com a reindustrialização,
Alckmin foi o único membro do Executivo a apresentar, até agora, algo parecido
com planejamento
Passado um mês e meio da posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua devendo um plano de governo – um roteiro para gerar crescimento econômico, ampliar o emprego e propiciar melhores perspectivas a milhões de famílias. Suas manifestações mais notáveis, até agora, foram o falatório contra os juros altos, o ataque à autonomia do Banco Central (BC) e a contraposição da responsabilidade social à responsabilidade fiscal. Além disso, houve a promessa de generosos financiamentos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como se crédito oficial barato bastasse para gerar prosperidade e modernização. O espetáculo pode ter entusiasmado o cercadinho petista, mas o público mais crítico tem reagido com poucos aplausos e algumas vaias. Os únicos sinais de planejamento partiram, por enquanto, do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Estagnação e mediocridade compõem os
cenários projetados, até agora, por economistas do mercado e de instituições
multilaterais. A economia crescerá 0,79% em 2023 e 1,50% no próximo ano, segundo
a pesquisa Focus divulgada na segunda-feira passada, 6 de fevereiro. Em sua
atualização do panorama global, publicada no fim de janeiro, o Fundo Monetário
Internacional (FMI) aponta para o Brasil uma expansão econômica de 1,2% em
2023, inferior à média estimada para os países emergentes e em desenvolvimento
(3,9%) e bem abaixo, também, da projetada para o mundo rico 2,7%). Pelas contas
do Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve aumentar 0,8%
neste ano e 2% no próximo.
O Brasil parece destinado, na maioria das
projeções, a crescer no máximo 2% ao ano. Esse limite aparece há muito tempo
nas estimativas do mercado e nos cenários das instituições internacionais. As
explicações incluem, quase sempre, referências a investimento insuficiente,
excesso de burocracia oficial, insegurança jurídica, formação deficiente de mão
de obra, demasiado protecionismo e pouca integração nas cadeias globais de
produção e comércio.
Todos esses fatores afetam, sem dúvida, o
funcionamento da economia brasileira, mas seria preciso dar mais atenção à
prolongada crise da indústria. Além de perder peso na formação do PIB, o setor
industrial está emperrado há muitos anos. O quadro piorou de forma
indisfarçável a partir dos mandatos da presidente Dilma Rousseff. A produção da
indústria geral ainda cresceu 0,4% em 2011, início de seu governo, e o desastre
se tornou evidente nos anos seguintes. O desempenho do setor industrial foi
negativo em sete dos 12 anos contados no período de 2011-2022, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Celebra-se com frequência a consolidação da
agropecuária como o setor mais eficiente, mais competitivo e mais firme da
economia brasileira, mas o predomínio do setor rural é em parte explicável – e
pouco se fala disso – pelo enfraquecimento da atividade industrial. Alguns
segmentos e grupos da indústria mantiveramse prósperos, nesse período, e esse
conjunto inclui as fábricas vinculadas ao agronegócio.
Durante décadas, a indústria liderou o
crescimento e a modernização da economia brasileira. O setor poderia reassumir
esse papel, voltando a destacar-se na geração de emprego produtivo e de
qualidade, na absorção, produção e difusão de tecnologia e na inserção do País
no mercado internacional de bens de alto valor agregado. Ao falar da
reindustrialização, o ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin tem mencionado
as várias dimensões dessa tarefa, incluída a reinserção no comércio global.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem
lembrado a reação de seu governo à crise internacional de 2008. De fato, o
Brasil enfrentou com sucesso a instabilidade financeira, naquele momento, e o
passo inicial foi o estímulo proporcionado pelo BC, um detalhe esquecido,
aparentemente, na recente fala presidencial. A liberação de recursos para
investimento, com apoio do Tesouro, também foi importante, mas essa política,
lançada no início de 2009 como ação emergencial, deveria ter sido encerrada no
fim daquele ano. Mantida por vários anos, no entanto, resultou em desperdício,
em distribuição de benefícios injustificáveis e em depredação das finanças
públicas.
Se tiver aprendido algo útil com os erros
petistas, o presidente Lula terá uma boa chance de iniciar uma política
eficiente de reindustrialização, de modernização produtiva e de retomada do desenvolvimento
econômico e social. Será preciso, obviamente, atuar em várias frentes, com
destaque para a educação fundamental, a formação de capital humano, a pesquisa
científica e tecnológica, o fortalecimento da infraestrutura e a diplomacia
econômica, sem insistir nas tolices, é claro, das articulações Sul-Sul. Para
isso, o presidente precisará esquecer seu cercadinho, renunciar às brigas
inúteis e custosas e garantir segurança aos investidores por meio de uma gestão
séria, prudente e sem uso político das estatais e de outros componentes do
aparelho público.
Colunista blablabloso a soldo e comprometido com o mercadinho
ResponderExcluir