O Estado de S. Paulo
Lula errou ao postergar o anúncio do arcabouço fiscal para depois da sua viagem para a China
Arthur Lira é hoje o principal aliado
político do ministro Fernando Haddad para aprovar o projeto de uma nova regra
de controle das contas públicas com maior aperto fiscal, sem exceções, e forte
suficiente para apontar uma trajetória de reversão do déficit das contas públicas
já em 2024.
Enquanto Haddad sofre pressão de ministros do governo, do PT e dos partidos da base aliada para fazer uma regra mais flexível e com escapes que permitam mais gastos, Lira sai em defesa do ministro da Fazenda ao dizer que o seu projeto terá respaldo da Câmara e que com ele tem o melhor diálogo.
É um recado bem claro ao governo Lula. Lira
e o Centrão não deixarão que o novo arcabouço fiscal seja aprovado com grande
liberdade para Lula gastar ao longo dos próximos quatro anos.
Se o projeto chegar frouxo ao Congresso,
Lira será o fiador do aperto da nova regra fiscal. Essa será a sua agenda
econômica para 2023, o que deixou claro ao empurrar esta semana a reforma
tributária para depois na lista de prioridades. O apoio de Lira vai muito além de
uma preocupação puramente fiscalista com a saúde das contas públicas.
Impossível esquecer que o Centrão no governo Bolsonaro jogou a responsabilidade fiscal para o alto e patrocinou uma escalada populista para buscar a reeleição do ex-presidente.
Lula errou ao postergar o anúncio do
arcabouço fiscal para depois da sua viagem para a China. Atropelou o
compromisso do ministro Haddad de apresentar o projeto ainda em março, fomentou
intrigas entre ministros, renovou a imprudente artilharia ao presidente do Banco
Central, Roberto Campos Neto, e pavimentou a desconfiança com a nova âncora
fiscal.
O que ficar de fora e de dentro do projeto
revelará os princípios e as prioridades do governo. O arcabouço vai revelar as
contradições internas e de governabilidade do governo. As principais:
ministério da Fazenda versus Casa Civil, ala política e BNDES. E as questões
com a base do Congresso, ainda não testada e em atrito com a disputa entre os
presidentes do Senado e da Câmara em torno da tramitação das medidas provisórias.
Num ambiente tão tumultuado, o anúncio da
nova regra pelo governo tende a acabar em anticlímax. Antes mesmo de o projeto
ser enviado pelo governo, a atenção já está completamente voltada para os
parlamentares e as negociações paralelas. Será tudo muito custoso.
Se quiser ter protagonismo no debate da regra fiscal, Haddad deveria pensar melhor e desistir de acompanhar Lula na viagem à China. Os próximos dias serão decisivos para o seu plano econômico.
Tá difícil!
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