O Estado de S. Paulo.
Haddad terá de gastar saliva para convencer pessoal do governo de que regra não é arrocho
É só o começo da guerra que Fernando
Haddad, trava com a ala expansionista do governo e do PT em torno do anúncio do
novo arcabouço fiscal. É uma guerra tribal, relata um interlocutor da coluna.
Enquanto Haddad quer e precisa mostrar uma
nova regra fiscal que pareça robusta e crível, a ala expansionista do governo
está fazendo de tudo para que o novo arcabouço seja o mais flexível e gradual
possível no processo de reversão do déficit das contas públicas.
Como Haddad e três integrantes da sua equipe já deixaram claro que o modelo contém uma regra de controle das despesas, o ponto central que está pegando na definição do arcabouço é o que ficará de fora do limite de gastos. Quais os investimentos, os projetos prioritários. O que inclui o tamanho do novo PAC que Lula quer fazer.
A informação antecipada em entrevista ao
Estadão pelo secretário executivo do Ministério, Gabriel Galípolo, de que
haverá uma reversão do déficit das contas do governo federal já em meados de
2024 com a nova regra fiscal, foi mal recebida pelos expansionistas.
Esse grupo acredita que, para acelerar o
crescimento, vale até mesmo ser fiscalmente irresponsável nesse momento. Tudo
se arruma depois com mais crescimento e resultados melhores nas contas do
governo.
A meta que Lula e seus auxiliares perseguem
é garantir um crescimento no primeiro ano do governo de 2,5% em 2023. A
pesquisa Focus do Banco Central aponta uma previsão de 0,89% e o Ministério da
Fazenda de 1,6%. Muito caminho pela frente.
O economista Felipe Salto, da Warren Rena,
mostrou em estudo que uma regra que permite uma alta das despesas baseada em
metade do crescimento passado do PIB, mesmo excluindo investimentos (que
poderiam crescer pela taxa cheia do PIB), desaceleraria a dívida e geraria
estabilidade se observada de modo sistemático. Não seria um ajuste brusco, mas
a conta mostra que é possível conciliar flexibilidade e força para cumprimento.
Entre a apresentação da proposta ao
presidente Lula ontem até o anúncio oficial, muita água ainda vai rolar nos
bastidores do governo. E depois vem mais batalha no Congresso.
Haddad vai precisar gastar muita saliva
para convencer internamente o pessoal do governo que a regra não representa um
arrocho e ao mesmo mostrar aos investidores que o modelo tem capacidade de
colocar as contas públicas numa trajetória de estabilização de alta da dívida
pública, mesmo que demore um pouco mais para isso acontecer.
O ministro terá de ser um equilibrista à
beira do penhasco.
Bom teste para um futuro governo Haddad
ResponderExcluirSerá que, lendo esta coluna, o filósofo Denis Rosenfield conseguirá entender a diferença entre política governamental de Lula e ideologia do PT?
ResponderExcluirFato.
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