segunda-feira, 13 de março de 2023

Ana Cristina Rosa - Elemento suspeito cor padrão

Folha de S. Paulo

A responsabilidade por conter o racismo institucional é do Estado

O dia depois de amanhã merece atenção dos brasileiros antirracistas e interessados em transformar uma realidade que, mais do que injusta, é inconstitucional.

É que na quarta-feira (15) deverá ser retomado o julgamento sobre a validade de prova obtida em abordagem policial baseada na cor da pele.

As vítimas diretas dessa ilegalidade, como de praxe, são os negros. Mas numa sociedade que se pretenda justa e igualitária, é importante que todos desempenhem seu papel social.

Contudo, a responsabilidade por conter o racismo institucional é do Estado.

Semana passada, as Nações Unidas denunciaram novamente a disparidade de tratamento dispensado pela polícia brasileira aos cidadãos em razão da cor da pele. Segundo o Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, as chances de um negro ter um encontro fatal com a polícia aumentaram cerca de 6% em 2021. Entre os não negros, a tendência foi de queda de 31%.

Os dados reforçam os resultados da pesquisa Elemento Suspeito, que em duas edições (em 2003 e 2022) explicita o racismo na atividade policial e revela a "dimensão traumática" das abordagens.

Os levantamentos, feitos no RJ pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), apontaram que os maiores alvos dos agentes de segurança são os jovens negros.

Enquanto 48% da população da capital fluminense é negra, o percentual de pretos e pardos abordados pela polícia chegou a 63%. E fica pior: 17% foram parados mais de 10 vezes! Coincidência? Com certeza não.

Em suma, o que deveria ser visto como atividade corriqueira torna um preto "elemento suspeito cor padrão", como dizem os policiais pelo rádio das viaturas, conforme revelou a pesquisa pioneira do CESeC.

É isso o que o faz um negro ser abordado por: andar a pé na rua ou na praia; andar de moto (com ou sem capacete); estar numa van; dirigir um carro; ou estar num bar.

Afinal, quais critérios objetivos levam a polícia a suspeitar de uma pessoa?

 

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