O Globo
Lira aumenta pressão, e União Brasil
arranca mais cargos sem garantir apoio ao governo
Com dois meses e meio de governo, Lula
ainda não sabe com quantos votos pode contar na Câmara. Na semana passada, o
deputado Arthur Lira assustou os petistas ao dizer que o Planalto não tem uma
base “consistente” para aprovar projetos que exijam maioria simples. “Quanto
mais matérias de quórum constitucional”, acrescentou.
Lira é especialista em criar dificuldades
para vender facilidades. Assim chegou ao comando do Centrão, mastigou o governo
Bolsonaro e se tornou o todo-poderoso presidente da Câmara. Seu diagnóstico é
interessado, mas não parece muito distante da verdade.
Num cenário de alta fragmentação partidária, as siglas que apoiaram Lula conquistaram apenas 122 das 513 cadeiras. Encerrada a eleição, o presidente passou a oferecer ministérios para tentar atrair outras legendas. As mais agraciadas foram MDB, PSD e União Brasil, com três pastas cada.
A negociação só foi concluída em 29 de
dezembro, às vésperas da posse. No mesmo dia, o líder do União Brasil disparou
um torpedo na direção do palácio. “O partido seguirá independente”, avisou
Elmar Nascimento.
O deputado atacou Lula na campanha e ficou
enfezado ao não ganhar um ministério. No entanto seria ingenuidade pensar que
ele quer retaliar o governo por razões meramente pessoais. Elmar não faz nada
sem combinar com Lira.
Além da voracidade da dupla, parlamentares
apontam outro problema para a montagem da base governista. Após a derrubada do
orçamento secreto, os deputados ganharam ainda mais recursos para gastar como
desejam. Agora cada um tem direito a destinar R$ 32,1 milhões em emendas
individuais e impositivas. Isso reforçou a lógica do cada um por si — já
favorecida por um modelo em que o eleitor vota em pessoas, não em partidos.
Em artigo na Folha de S.Paulo, o cientista
político Antonio Lavareda alertou sobre os riscos causados por esse sistema
disfuncional. Ele definiu a Câmara como um agrupamento de 513 “empreendedores
individuais”, cada vez menos amarrados a acordos partidários.
Sem saber onde pisa, o governo dobra a aposta em operações no varejo. O União Brasil ainda não garantiu os votos prometidos, mas acaba de ser presenteado com novos cargos no segundo escalão. O pacote incluiu diretorias dos Correios, Telebras, Codevasf, FNDE e Dnocs.
Lula e Lira,uma dobradinha do...
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