Folha de S. Paulo
Haddad convence Lula de regra para gastos,
mas preserva fôlego para perseguir compromissos de campanha
Michel Temer dizia
que os rasos índices
de aprovação ao governo lhe davam coragem para tomar o que
chamava de "medidas impopulares", como o teto de gastos. Jair
Bolsonaro, preocupado com seus próprios números e com uma reeleição
em risco, abandonou a fantasia ultraliberal e abriu tantos buracos naquele
mecanismo de controle de despesas que, na prática, ele foi demolido.
Não é trivial que a missão de refazer a regra recaia sobre um presidente de esquerda que fez campanha prometendo engordar o Orçamento. A elaboração do arcabouço fiscal levou em conta um equilíbrio complexo entre as desconfianças de investidores, o pacto de Lula com sua base fiel e a manutenção de um estoque de popularidade.
Fernando
Haddad perseguiu uma regra que tivesse a marca do aperto nas
contas depois de convencer Lula de que, do contrário, a política econômica
seria um alvo constante. A contrapartida exigida pelo Palácio do Planalto foi
uma modulação, para que o governo tivesse fôlego para atender a seus
compromissos de campanha, e uma embalagem que permitisse amortecer possíveis
acusações de estelionato eleitoral.
A criação de um limitador de despesas significa
que, cedo ou tarde, Lula terá que dizer a sua base que não poderá cumprir
alguma promessa de 2022. O governo faz um esforço para adiar esse momento
incômodo ao estabelecer uma margem mais confortável do que o antigo teto,
guardando espaço para gastos com saúde e educação.
No anúncio da nova regra, Haddad buscou
adoçar o comprimido amargo do ajuste. Disse que o arcabouço permite a inclusão
dos pobres no Orçamento, manifestou preocupação com as famílias e sinalizou que
o custo do aperto seria pago pelos mais ricos que, segundo sua equipe, recebem
benefícios indevidos.
Foi uma mensagem para os eleitores de Lula
e para grupos do PT que rangem os dentes com a ideia de um aperto. Atender a
esses grupos e acalmar agentes econômicos indóceis será um desafio permanente.
Para um artigo destes, o pessoal que frequenta aqui escreve assim: "Perfeito!".
ResponderExcluirVerdade.
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