Folha de S. Paulo
Num furo de enfoque, antecipo o balanço dos
cem dias do governo Lula
Pronto! Estão definidas as balizas ao menos da proposta de novo arcabouço fiscal. Há certo constrangimento entre os que esperavam um troço destrambelhado. "Não vai dar certo; esse arcabouço depende necessariamente de receitas elevadas." É? Por quê? Com baixa arrecadação, também cai a despesa. Não sei se notam, mas se anuncia o oposto do que os falcões do fiscalismo esperam "da esquerda": usar o Estado para bombar a economia em momentos de crise. Ao contrário: se as coisas vão bem, gasta-se mais, mas com limites, o que permitiria fazer um acolchoado para eventuais dias de inverno; se não, o contrário. Até acho que sou mais "progressista" do que o governo nesse caso... Se também isso não serve, então serve o quê?
No 89º dia da gestão Lula, procedo a um
furo de enfoque e faço um balanço dos cem. Eis que a apresentação do tal
arcabouço coincide com a volta do biltre que estava homiziado em Orlando. Ainda
pode tempestivamente comemorar a marca dos
700 mil mortos de Covid. Afinal, todos morrem um dia. Noto esforços
para normalizar o bolsonarismo como contraponto ao petismo. Não há virtude nos
territórios da morte. Ponto, parágrafo.
No mundo paralelo "Duzmercáduz", houve
um atraso na apresentação do texto. No mundo dos fatos, ele veio à luz com
cinco meses de antecedência. Segundo a PEC da Transição, a data-limite era 31
de agosto. É aquela PEC que anteciparia o Armagedom, mas com a vitória dos
desenvolvimentistas iníquos contra o Deus da Responsabilidade Fiscal. Chegou-se
a antever para este ano um déficit primário de até R$ 261,6 bilhões. Hoje,
estima-se que possa ficar em R$ 100 bilhões, coisa de 1% do PIB.
Sempre gosto de ler, em retrospecto, essas
previsões "findomundistas", oriundas, geralmente, do que chamam
"analistas", que são operadores que comandam corretoras cujos nomes
merecem um estudo de linguistas. As que recorrem a vocábulos conhecidos em
alguma língua apelam a supostos dons premonitórios, anunciando aos clientes
amanhãs sorridentes. Quando se trata, no entanto, de analisar contas públicas,
o tom é quase sempre lúgubre.
Uma proposta de arcabouço impondo que as
despesas podem crescer, no máximo, o equivalente a 70% da elevação das
receitas, estabelecendo um limite mínimo (0,6%) e máximo (2,5%) para tal
expansão concilia a responsabilidade fiscal com um tanto de
"responsabilidade social", expressão que provoca arrepios em alguns.
Mais: educação e saúde recebem, respectivamente, 18% e 15% da Receita Corrente
Líquida. Não há como subordiná-las à regra dos 70%; logo, as outras despesas
têm de crescer menos.
O ponto fulcral, parece, de algumas
discordâncias é aquele piso de 0,6% para o crescimento das despesas e a busca
de uma garantia para um mínimo de investimento público. A direita resolveu
invocar com a idade de Lula e com o seu suposto passadismo. O ódio ao Estado é
o que pode haver de mais velho, bolorento, ultrapassado e, acima de tudo,
hipócrita. Quando é que esses valentes vão invocar com os juros camaradas do
Plano Safra? Nota: recomendo que não o façam. Seria uma burrice.
O texto do governo é bom para as
circunstâncias. É mais conservador do que eu gostaria e do que esperavam
"Uzmercáduz". A palavra final será do Congresso. Se o país partir de
um déficit primário neste ano de 1% e chegar a um superávit de 1% em 2026, saindo
do vermelho já no ano que vem, será um grande feito. Do meu balanço antecipado
dos cem dias, constam ainda a vitória sobre a tramoia golpista, a ação contra o
genocídio yanomami, a
correta reestruturação do Bolsa Família, a retomada do Minha Casa, Minha Vida,
o relançamento do Programa de Aquisição de Alimentos e a volta do Mais Médicos.
É um bom caminho. Se eu estiver errado, os certos que se fartem com as batatas.
Ah, sim: Roberto
Campos Neto, presidente do BC, parece disposto a dar um voto inicial
de confiança. Bom rapaz! Em entrevista coletiva nesta quinta (30), disse que,
para cumprir a meta de inflação deste ano, os juros deveriam estar em 26,5%
—uma taxa real, pois, de uns 20%. Já imaginaram? Mataria de fome os que não
morreram de Covid, aquela do Senhor dos Territórios da Morte. É um sinal de que
não há arcabouço fiscal possível que comova o coração do nosso faraó.
RCN, "Em entrevista coletiva nesta quinta (30), disse que, para cumprir a meta de inflação deste ano, os juros deveriam estar em 26,5% —uma taxa real, pois, de uns 20%."
ResponderExcluir26,5% pela cartilha dele. Mas chamo atenção pra um ponto que considero da MAIOR IMPORTANCIA, de q eu e outros leitores deste blog tratamos ontem.
Vejam, 26,5 se tirarmos uma foto hoje. Mas ... e o filme?
E O FILME DOS 2 ANOS DE HORROR, 2021 e 2022 em q o RCN foi presidente do BC?
Se ele tivesse aplicado o remédio devido, competentemente, em 21/22, o filme seria outro, claro! SE COMPETENTE, MENOS DO Q 26,5 SERIAM NECESSÁRIOS HOJE!
Se competente, RCN teria controlado a inflação EM 2 ANOS.
ELE NAO O FEZ PORQUE ATUAVA NA REELEICAO DO GENOCIDA.
O filme mostra q a foto dos 26,5% de hoje poderia ser bem MELHOR, algo civilizado. A metástase se instalou porque faltou competência...e remédio.
Um colega alegou q "é difícil". Mas não se trata de dificuldade, mas, sim, de fazer o q é correto e necessário - afinal, pra isso ele era :independente: (só q não; ele é bolsonarista e tinha objetivo).
Se devidamente aplicada a tx de juros nos anos 21 e 22, as txs daquela época seriam menores e as de hoje idem.
Não foi omissão do RCN. Foi objetivo alcançado de ajudar o bolsonarismo. Ele foi eficiente e empurrou o problema pra frente. Só q o bozo perdeu a eleicao.
Por isso q esta foi, por parte dos bolsonaristas, a eleição mais roubada da história. Não foram apenas alguns policiais federais rodoviários manés que bloquearam eleitores lulistas. A máquina federal, em todo o seu esplendor, atuou firmemente na tramoia. E, ainda assim, LULA ganhou. Uma vitória fenomenal, apesar dos roubos.
ExcluirVerdade,Lula vencer diante de tanta tramoia foi praticamente um milagre.
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