O Estado de S. Paulo
O colapso do Silicon Valley Bank (SVB) nos
Estados Unidos é a ponta de um iceberg que mostra vulnerabilidades do sistema
financeiro global.
Por tudo quanto se sabe, o banco quebrou
não por fraude ou por aplicação em ativos de qualidade duvidosa. Quebrou porque
estava superaplicado no mais seguro título do mundo, o do Tesouro dos Estados
Unidos (o treasury).
É fácil entender por que o treasury pode se desvalorizar e deixar um grande banco na pior, como aconteceu. Se os juros sobem rapidamente, os detentores de títulos não conseguem revendê-los no mercado pelo mesmo preço de face. Numa conta sem rigor aritmético, um treasury de US$ 1 mil que paga juros de 2% ao ano rende US$ 20 ao ano. Se os juros sobem para 5% ao ano, o novo treasury paga US$ 50 ao ano. Para render os mesmos US$ 50, o título de US$ 1 mil com juros contratuais de 2% ao ano tem de ser negociado no mercado a US$ 953. No caso do SVB, os correntistas correram aos saques – o banco teve de vender seus ativos a preços mais baixos e, de uma hora para outra, ficou sem caixa.
Isso não tem a ver com falta de segurança
do título. Bastaria esperar pelo vencimento para garantir os retornos contratuais.
O que houve foi um descasamento de prazos. Se essa complicação derrubar mais
bancos, com fragilidades dessa ou de outra ordem, como é o caso do Credit
Suisse, poderá tornar-se crise sistêmica.
No final dos anos 1970 e início dos 1980, o
Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), dirigido então por
Paul Volcker, atirou de repente os juros para 20% ao ano para combater a
inflação. Mas, apesar da forte recessão que se seguiu, nada parecido aconteceu,
porque o mercado financeiro dos Estados Unidos e do mundo era relativamente
pequeno. Em 2015, o valor total dos ativos das instituições financeiras do
planeta era de US$ 325 trilhões, cerca de quatro vezes o PIB global daquele
ano. Hoje, está em torno de mais de US$ 485 trilhões. Uma trinca nessa barragem
ficou muito mais perigosa.
Agora os organismos reguladores do sistema
financeiro global e os grandes bancos centrais têm de dar prioridade para
debelar o risco de uma crise sistêmica. Isso exige redução dos juros – o
contrário do que vinha sendo programado. A dominância financeira, digamos
assim, impede que os grandes bancos centrais executem a política monetária
(política de juros) mais adequada para reconduzir a inflação para as metas
estabelecidas.
Essa não é a única consequência
macroeconômica importante. Os bancos serão obrigados a acionar mecanismos de
autodefesa e isso exigirá contração do crédito e, assim, cobrará um preço em
recessão.
Embora esteja menos exposto do que os
países centrais, o Brasil não está ileso. O Banco Central do Brasil
provavelmente terá de reduzir os juros. Forte retração do crédito, já
restringido pelo fator Americanas, ficou mais provável. E o climão geral está
mais para algum contágio via recessão.
Enfim, um assunto de interesse público e que não é fofoquice das brabas. Muita agonia por vir se a economia descambar por um rumo indesejado. De hora em hora, as acoisas pioram
ResponderExcluirDólar nas alturas que o Lula disse que iria baixar, falar é fácil.
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