O Globo
Quatro anos é pouco para botar um país nos
eixos, mas tempo de sobra para acertar o tom
Na equipe de transição de todo governo,
deveria haver uma turma de carpinteiros. Caberia a eles, ainda antes da posse,
desmontar o palanque. As peças seriam encaixotadas, e as caixas trancadas a
cadeado — daqueles com temporizador, para só permitir a abertura daí a quatro
anos.
Isso evitaria no governante a tentação de
permanecer encarapitado no púlpito, microfone em punho, agarrado às promessas
que não cumprirá. Sem o pedestal, só lhe restaria pôr os pés no chão e
governar.
Figurinistas também seriam fundamentais.
Trajes, acessórios e adereços de campanha (bandeiras, bonés, camisetas)
voltariam para o armário, onde ficariam guardados a sete chaves. Um novo
figurino — o de estadista — entraria em cena, em substituição ao de candidato.
Iluminadores se encarregariam de jogar nova luz sobre o eleito. Sem tantos filtros, sem áreas de sombra. Apaga-se a luz cênica — a dos truques de mágica, feita para esconder, desviar a atenção — e acende-se outra, aquela dos centros cirúrgicos.
Um bom cenógrafo vetaria o uso de
cercadinhos — tanto os de gradis de alumínio para militantes, na calçada,
quanto os de sofás, nos salões, para entrevistas chapas-brancas. Esse
profissional saberia que a fase de picadeiro ficou para trás e que a plateia
agora é o país inteiro.
Vencida a etapa de transição, seria de bom
alvitre incluir na equipe um roteirista. Não para criar um personagem (que já
existe e deve ser bom — tanto que pareceu verossímil a milhões de eleitores),
mas para evitar que ele se perca no papel. Para lembrá-lo de que há um roteiro
(também conhecido como “programa de governo”) a seguir. Um arco dramático (e
bota dramático nisso!) que vai do rescaldo de uma calamidade até a
reconciliação de um povo consigo mesmo.
Uma figura arcaica e praticamente extinta
pode ser de grande valia nessa trupe: o ponto. Uma espécie de grilo falante —
ou superego bonzinho — que sopre no ouvido do ator-governante aquilo que — por
falha de memória, de convicção ou de caráter — ele pareça ignorar, mas que
estava bem claro no script. Perdão, majestade, mas teorias de conspiração e as
feiquenius pertencem a eles — essas coisas quem diz é o vilão, esqueceu?
Desculpe, milorde, mas esse vocabulário chulo acaba nos colocando no mesmo
nível daquele a quem nos queríamos mostrar superiores. Não, Excelência, não é
hora de falar em vingança — o amor venceu, lembra?
Mesmo o ator mais tarimbado tropeça. Tem um
branco. Erra a marcação. Protagonista, descuida de abrir espaço aos
coadjuvantes. Cai na armadilha de atuar apenas para a fila do gargarejo. E se
encanta com os próprios cacos, em prejuízo da dramaturgia que a plateia
esperava ver.
Nada que não se possa corrigir ao longo da
temporada — quatro anos é pouco para botar um país nos eixos, mas tempo de
sobra para acertar o tom.
Tudo fica mais complicado quando o ator
principal é, também, autor, diretor e animador da claque. Mas, enquanto o
público pagante — que, por acaso, é o dono do teatro — não começar a vaiar, a
atirar ovos e tomates, dá para salvar o espetáculo. E impedir que a peça
anterior, de triste memória, entre de novo em cartaz.
Podiam começar chamando os carpinteiros
para desmontar o palanque.
Lula eh um ladrão que não deveria ter sai do da cadeia. Ovo podre e tomate eh pouco para esse biltre.
ResponderExcluirAos carpinteiros compete erigir os palcos. E, para não dizer que não falei das flores, incumbe-lhes montar os edifícios sobre os quais são erigidas as políticas. Mais do que desmontar os palanques, cabe-lhes levantar os andaimes, os palanques, as escadas. Sem elas, nenhum edifício que hoje é tido como monumental teria sido levantado.
ResponderExcluirAbçs.
ResponderExcluirEu coloco todas as minhas esperanças na possibilidade de que a justiça eleitoral torne bolsonaro inelegível. Se não acontecer que o bom senso do povo brasileiro o rejeite definitivamente. Mas, por favor elites e mídias brasileiras ajudem a encontrar um candidato idôneo que possa servir ao Brasil e não se servir do Brasil em proveito próprio. Peço, aqui, licença ao imortal Mário de Andrade para usar um seu personagem. Lula e Bolsonaro sempre somam 2 Macunaimas, heróis sem nenhum cárater, a única diferença é se posicionarem nessa posição ideólogica de subdesenvolvido, direita ou esquerda.