sábado, 25 de março de 2023

Pablo Ortellado - As teorias conspiratórias de Lula

O Globo

Nas eleições presidenciais, o candidato Lula se apresentou aos eleitores como contraponto à insensatez bolsonarista, antidemocrática, anticientífica, mentirosa e conspiracionista. Mas uma declaração sobre a ação da Polícia Federal (PF) para prender integrantes do PCC que tramavam o sequestro de Sergio Moro mostrou, mais uma vez, como Lula também é seduzido pelo modo de pensar conspiratório.

A operação da PF prendeu nove integrantes da facção criminosa que planejavam sequestrar Sergio Moro e assassinar outras autoridades. A operação foi anunciada pelo próprio ministro da Justiça de Lula, Flávio Dino. Em entrevista em Itaguaí, na quinta-feira, Lula afirmou:

— É visível que [a operação] é uma armação do Moro.

Ele insinuava que o plano de sequestro poderia ter sido forjado por Moro e seus aliados na Justiça (a juíza que determinou as prisões substituiu Moro na Lava-Jato) para apresentar o atual senador no papel de vítima. A especulação delirante, irresponsável e sem provas foi agravada por outra declaração, dada no dia anterior em entrevista ao site Brasil 247. Lula disse que, quando estava na prisão, acreditava que só ficaria bem “quando foder esse Moro”.

Infelizmente Lula não deu apenas uma declaração infeliz, motivada pelo ressentimento contra o juiz que o colocou na cadeia. Ele tem sistematicamente feito uso de um modo de pensar conspiratório e tomado decisões políticas importantes com base nestes entendimentos. Na mesma entrevista, apresentou outra leitura conspiratória sobre toda a Operação Lava-Jato:

— Tenho consciência de que a Lava-Jato fazia parte de uma mancomunação entre o Ministério Público brasileiro, a Polícia Federal brasileira e a Justiça americana, o Departamento de Justiça. Eu tenho certeza disso, porque foi uma coisa que envolveu toda a América Latina e era uma coisa para destruir mesmo. Porque as empresas da construção civil brasileira estavam conquistando espaço no mundo inteiro.

Ainda na prisão, em 2018, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Lula sugeriu que os Estados Unidos “estão por trás de tudo o que está acontecendo na Petrobras”. E continuou:

— Porque interessa para eles o fim da lei que regula o petróleo, o fim da lei que regula a partilha. O Brasil descobriu a maior reserva de petróleo do mundo do século XXI. E não se sabe se tem outra. Não sei se você já tem uma compreensão sociológica de junho de 2013. O Brasil virou protagonista demais. E ali eu acho que começava o processo de tentar dar um jeito no Brasil. Como diria meu amigo Celso Amorim, eu não acredito muito em conspiração. Mas também não desacredito.

De acordo com esse modo conspiratório de pensar, a investigação da Lava-Jato e os protestos de junho de 2013 foram orquestrados pelo governo de Barack Obama para prejudicar as empreiteiras brasileiras que atuavam na América Latina, para barrar a soberania da Petrobras e para afundar um Brasil que se erguia sob o governo do PT.

Lula também não parece persuadido de que a facada de que Bolsonaro foi vítima foi real. Em entrevista à TVT em 2019 considerou a facada “muito estranha”:

— Uma facada que não aparece sangue em nenhum momento, uma facada que o cara que dá a facada é protegido por segurança do Bolsonaro (sic), a faca que não aparece em nenhum momento.

Segundo essa teoria da conspiração, amplamente difundida na esquerda, a facada de Bolsonaro foi uma encenação para vitimizá-lo e extrair efeitos eleitorais. Seria a explicação —ou uma das explicações —para a vitória de Bolsonaro nas eleições.

Vou me limitar a esses exemplos, mas as declarações conspiratórias de Lula são abundantes. Quando perde, Lula tende a explicar o sucesso dos adversários pela orquestração de um pequeno grupo de agentes superpoderosos que agem em segredo —por uma teoria da conspiração.

As teorias são especulativas, inverossímeis e sem provas. Muitas vezes alucinadas, como supor que os jovens nas ruas em 2013 eram marionetes dos Estados Unidos ou que os médicos da Santa Casa de Juiz de Fora e do Hospital Albert Einstein em São Paulo se uniram para acobertar uma facada encenada. Quase sempre são adotadas para escapar de explicações mais razoáveis e verossímeis, que evidenciariam os muitos erros de Lula e do PT. Esse modo de pensar conspiratório poderia ser apenas uma idiossincrasia, uma característica folclórica e até simpática do presidente, se não orientasse suas ações políticas e se não influísse nas decisões de governo.

 

3 comentários:

  1. Uma análise informativa e sensata! Parabéns ao autor e ao blog que divulga seu trabalho!

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  2. Certíssimo o jornalista que foi muito elegante pois na verdade o atual presidente cuja vitória pode ser creditada à completa ignorância do oponente, não passa de um falastrão que ainda acho que está discursando para os trabalhadores de São Bernardo do Campo onde poderia falar qualquer asneira que lhe desse na cabeça. Será que esta última besteira sobre a tal armação lhe foi soprada pela presidente do partido dele? Não duvido não!!!

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