O Globo
Se não bastassem os agrotrogloditas da
Amazônia, com suas queimadas e ocupações, o agronegócio precisa se defender
também dos trogloditas do Sul. Há cerca de uma semana, 200
trabalhadores baianos foram resgatados no município gaúcho de Bento Gonçalves.
Contratados para a colheita da uva, viviam em condições degradantes. Expostas,
as vinícolas Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi lastimaram o ocorrido e
atribuíram a malfeitoria a uma prestadora de serviços. Esse é o protocolo
seguido por todas as empresas apanhadas em malfeitorias semelhantes.
Como o negócio do vinho é sensível a
exposições constrangedoras, a resposta foi rápida, clara e talvez possa se
provar sincera. Estava nesse pé a coisa quando o Centro da Indústria, Comércio
e Serviços de Bento Gonçalves resolveu entrar na discussão e saiu-se com o
seguinte disparate:
“Há uma larga parcela da população com
plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa,
sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar
para a sociedade.”
O que os doutores quiseram dizer foi o seguinte: programas assistenciais estão drenando o estoque de mão de obra informal, mal paga e, às vezes, aviltada. No século XXI, eles acham que a assistência aos pobres prejudica a economia.
Em vez de oferecer lições de ciência
política, os doutores do Centro deviam prestar alguma atenção para a qualidade
das relações de trabalho no negócio da uva.
Na metade do século XIX, fazendeiros do
Vale do Paraíba achavam um absurdo dar glebas de terras ou pagar salários a
imigrantes italianos e alemães. Era isso que se fazia no Rio Grande do Sul.
Passou o tempo e hoje há ali um próspero negócio vinícola.
Associá-lo a formas de trabalho aviltantes
ou a empresários que satanizam programas assistenciais é colocar nos rótulos
dos vinhos gaúchos a marca da estultice de alguns poucos maganos. Para
produtores concorrentes, nada melhor.
Nunca tão poucos fizeram tanto mal à
indústria vinícola quanto seus agrotrogloditas.
Palocci ganhou todas
O ministro Fernando Haddad tem motivos para
comemorar o fato de ter prevalecido sobre as posições petrolíferas da
presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Só não deve acreditar que seu adversário
fosse ela.
Durante o Lula 1.0, o ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, ganhou todas. Perdeu só a última, para Dilma Rousseff,
porta-voz de Lula.
Frito
O juiz Marcelo Bretas não sairá incólume da
investigação a que está sendo submetido no Conselho Nacional de Justiça.
A parte mais delicada, e tóxica, envolve
delações premiadas que parecem agenciadas e direcionadas.
A dúvida está no tamanho do estrago.
Melancolia em Orlando
A melancolia de Jair Bolsonaro surpreendeu
amigos que acreditaram na sua resistência a uma eventual derrota.
Desconfiado mesmo nos momentos de glória, o
capitão registra como traições gestos de puro distanciamento.
Pelo andar da carruagem, Bolsonaro poderá
ser preso pelo que se chama de “juiz da sexta-feira”. É o magistrado que prende
uma celebridade na sexta, ganha fama e tem a medida revogada na semana
seguinte.
Como Marcelo Bretas fez com Michel Temer.
Moraes e os valentões
Com sua experiência de promotor e
secretário de Segurança, o ministro Alexandre de Moraes costuma repetir que
muitos valentões desafiam a polícia na hora da prisão e, dias depois, sentam na
cama da cela para chorar.
Parece exagero, mas um bolsonarista preso
em Brasília no dia 8 de janeiro contou ao repórter Tacio Lorran:
“Eu achava que tinha um preparo
psicológico, mas não aguentei. Pedi atendimento psicológico lá. Chorar, meu
filho, é fichinha. É desespero mesmo. Não tem quem não chore lá dentro. Não vi
um pai de família que não chorou.”
Triunfalismo diplomático
Jair Bolsonaro presenteou Lula com uma
agenda diplomática de sonhos. O petista soube arquivar o pária e voltar a falar
a língua dos povos.
A passagem de Lula pela Casa Branca e a de
John Kerry por Brasília sugerem que, por algum motivo, os americanos estão
praticando uma política de muita simpatia e pouco resultado.
Lula quer entrar na mediação da guerra da
Ucrânia, defende a criação de um organismo internacional de governança
ambiental, quer reformar o Conselho de Segurança das Nações Unidas e, se lhe
sobrar tempo, aceita o prêmio Nobel da Paz.
Diplomacia barulhenta produz muitos
sorrisos e poucos resultados.
O apetite de Lula por cargos na burocracia
internacional provocou até piadas, pois a eleição do argentino Bergoglio para o
Papado teria sido uma derrota do presidente.
Efeito oposto
A ofensiva petista atrás da cabeça de
Roberto Campos Neto terá o efeito oposto. Como ele só sai antes do fim do
mandato se quiser, isso pareceria uma infeliz covardia institucional.
Por uma questão de brio, Campos Neto tem
que ficar no cargo, mesmo vestindo a camisa amarela com que foi votar e
baixando os juros.
Aposta perigosa
Alguns prefeitos de grandes cidades parecem
ter feito uma aposta. Deixam a cidade esburacada por falta de obras desde a
pandemia e se preparam para brilhar no que vem, perto da campanha.
Esse é o caso de São Paulo, onde o doutor
Ricardo Nunes espera ser reeleito.
Correm o risco de os eleitores perceberem a
malandragem.
Etiqueta
De um freguês dos programas de canais de
notícias que mostram vários analistas compartilhando a tela.
É comum que, enquanto um deles fala, outros
baixem os olhos para conferir alguma mensagem em seus celulares. Se nem os
colegas de equipe prestam atenção no que se diz, por que os outros deveriam ficar
ligados?
Fogo amigo
A divulgação da fala do general Tomás Paiva
na qual chamou de “indesejada” a vitória eleitoral de Lula foi um venenoso
episódio de fogo amigo provocado pelo ressentimento.
Em 1977, o general Silvio Frota, demitido
do Ministério do Exército, julgava-se traído pelo seu sucessor, o general
Fernando Bethlem.
Agrotrogloditas existem de norte a sul, e de leste a oeste por todo o Brasil. Todos, sem exceção, apoiavam o criminoso ambiental Ricardo Salles quando era ministro do Meio Ambiente (MMA) do GENOCIDA e ia passando a boiada da desregulamentação, do enfraquecimento da legislação ambiental e da redução ou imobilização da fiscalização ambiental federal. Também apoiavam seu substituto, levado para o MMA pelo mesmo boiadeiro e que continuou a ação inicial do seu chefe no mesmo ritmo e objetivo.
ResponderExcluir"Por uma questão de brio, Campos Neto tem que ficar no cargo, mesmo vestindo a camisa amarela com que foi votar e baixando os juros."
ResponderExcluirSe brios tivesse, Campos Neto cumpriria sua obrigação E OS JUROS BAIXARIAM. Ficar e sair não têm o condão.de lhe devolver a dignidade, o q somente será alcançado se atuar com competência. Juros estratosféricos como os nossos é q lhe tiraram os brios.
Várias notícias.
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