O Globo
Governadores pedem negociação ampla com
governo federal e menos submissão orçamentária
A reforma tributária, um dos pilares do
projeto reformista do governo Lula, que dependerá de ampla negociação no
Congresso, terá um debate muito mais amplo do que apenas o aspecto financeiro,
no que depender dos governadores dos sete estados que compõem o Consórcio de
Integração Sul e Sudeste (Consud), que se reuniram nos últimos três dias no
Rio.
O aspecto político da relação entre os entes federativos (municípios, estados e governo federal) foi destacado por todos os governadores – de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – que desejam uma maior autonomia diante do governo federal e uma relação de menos submissão orçamentária.
O governador do Rio, Claudio Castro, usou o
termo “agiotagem” para criticar os termos da negociação das dívidas dos estados
e foi seguido por todos os demais, independente da questão partidária. Com
linguagem menos coloquial, mas com o mesmo espírito, a carta do Rio de Janeiro,
lançada ao final do encontro, ressalta que “os estados do Sul e do Sudeste
respondem por 93% da dívida pública com a União, representando cerca de 60
bilhões e que, em alguns casos, sua dinâmica se mostra insustentável”.
“É impensável que, num ambiente onde o
crescimento econômico é muito inferior aos encargos dos contratos de dívida com
a União, os estados paguem suas dívidas e ainda invistam em infraestrutura,
modernização e na manutenção dos serviços públicos essenciais”, ressaltam os
governadores.
O ministro das Relações Institucionais,
Alexandre Padilha, otimista em relação às negociações, ressaltou que o
equilíbrio fiscal e a política de proteção do meio ambiente são as duas
diretrizes básicas para a negociação dos estados e municípios com o governo
federal. O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Antônio Anastasia,
ex-governador de Minas Gerais e ex-senador, fez uma análise interessante do que
chamou de “DNA” do brasileiro, forjado a partir da dependência da Coroa
portuguesa, que seria o de esperar a chegada de um “salvador da Pátria” para
resolver as questões do país.
Essa tendência, reafirmada pela preferência
do presidencialismo já constatada várias vezes em plebiscitos, seria a base da
centralidade do governo federal nas decisões políticas e econômicas. Para Anastasia,
essa situação só mudará se houver uma reeducação cívica dos cidadãos e
“magnanimidade” do governo federal para entender que, ganhando os estados e
municípios, ganhará o país como um todo.
O poder do pacto federativo foi
exemplificado com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de permitir que
os estados tomassem a frente da ação contra a Covid-19, diante da inércia e,
muitas vezes, da ação negativa do governo federal. A vacinação contra a Covid,
que já estava atrasada, seria muito mais prejudicada se a decisão final ficasse
a cargo do governo Bolsonaro.
O ministro Padilha garantiu que o governo
federal está disposto a trabalhar em conjunto com estados e municípios, e na
Carta do Rio de janeiro os governadores também se colocam prontos a trabalhar
em conjunto com o governo federal e municípios na aprovação de uma reforma
tributária de base ampla, que aumente a eficiência econômica: “Ao persistirmos
neste descompasso, os estados acabarão por perder dinamismo econômico, gerando
menos emprego e renda, dificultando o combate à redução da pobreza”.
O governador de São Paulo, Tarcisio de
Freitas, ligado ao ex-presidente Bolsonaro, defendeu que o país teve “uma série
de avanços nos últimos anos com reformas estruturantes que destravaram setores
da nossa economia”, ressaltando as concessões, “uma forma de diminuir os
gastos” e melhorar a eficiência dos serviços. O ministro Padilha colocou as
concessões e Parcerias Público-Provadas como instrumentos eficientes para o
desenvolvimento do país, mostrando que a ojeriza a elas está superada.
Pois sim.
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