O Estado de S. Paulo
Esforço para revisar políticas que hoje têm polpudos espaços no Orçamento, mas sem resultado à altura, poderia gerar uma ‘pequena’ revolução
A ministra Simone Tebet passou a conversar
com interlocutores da sociedade civil para falar da agenda econômica do
governo. Tebet montou uma ótima equipe, que trabalha em pautas potencialmente
importantes para modernizar a gestão das contas públicas. Nesta semana,
recebemos a visita da ministra, que gentilmente aceitou meu convite para uma
conversa na Warren Rena.
No Ministério do Planejamento e Orçamento,
Tebet elaborou uma agenda prioritária: a adoção das revisões periódicas do
gasto (as spending reviews), a reformulação do Plano Plurianual (PPA), a
avaliação de políticas públicas e a colaboração com a Fazenda em temas como o
novo arcabouço fiscal e a reforma tributária.
O PPA precisa ter maior importância no regramento orçamentário. Da forma como é hoje, não constitui uma baliza para a elaboração das propostas orçamentárias anuais. Ele acaba sendo adaptado ao sabor da conjuntura. É o simétrico oposto do que se espera de um planejamento estratégico. O PPA, infelizmente, não funcionou, apesar da boa intenção dos constituintes, há 35 anos, que introduziram esse elemento no Capítulo de Finanças Públicas.
A ideia do PPA como instrumento de
planejamento de médio prazo vinculado ao processo de elaboração anual do
orçamento público é, no fundo, o resgate da essência contida na Constituição
Cidadã. Mas, para funcionar, os agentes políticos precisam ser expostos aos incentivos
corretos.
Ora, é a divisão de recursos orçamentários
para emendas parlamentares – que se dá numa parcela restrita do orçamento anual
– o principal atrativo para o Congresso. Não há nada de errado, a priori, mas
esse tipo de atuação acaba atraindo muito mais do que as discussões de maior
fôlego no bojo das atividades de planejamento e gestão.
É assim que, a meu ver, o PPA precisa ter
uma ligação umbilical com as propostas anuais para o Orçamento, estabelecendo,
inclusive, por meio de um cenário projetado para o PIB e as variáveis fiscais,
o espaço orçamentário prospectivo sobre o qual os orçamentos anuais poderão ser
elaborados. Nesse modelo, na hora de debater o projeto do PPA, todos se
interessariam em participar, pois ele teria o condão de definir a restrição
fiscal dos anos subsequentes.
O PPA também precisa ser subsidiado por
cenários macroeconômicos fidedignos, com projeções bem calculadas. E os
projetos e programas prioritários, no PPA, deveriam pautar a elaboração dos
orçamentos anuais. Essa escolha de projetos deveria envolver os Estados,
resgatando esse componente de desenvolvimento regional que se perdeu, em geral,
na formulação de políticas públicas no Brasil.
A revisão periódica de gastos e a avaliação
de políticas são dois meios importantes para abrir espaço fiscal ao longo do
tempo. A verdade é que o desafio das contas públicas vai além da apresentação
de um novo arcabouço ou conjunto de normas de controle. Este é essencial, sim,
sobretudo para ancorar as expectativas dos agentes econômicos. A dívida em
relação ao PIB tem de ter um horizonte de estabilização; não pode,
simplesmente, ficar solta no ar. Entretanto, para aproveitar o espaço fiscal e
orçamentário e melhor atender às demandas sociais, não basta o equilíbrio
macrofiscal.
É preciso avaliar as políticas que estão,
há décadas, penduradas no Orçamento e, pior, incrementadas de modo inercial.
Leany Lemos, João Villaverde, Renata Amaral, Gustavo Guimarães, Paulo Bijos,
Daniel Couri e Sérgio Firpo formam um time que, liderados por uma política
experiente e com boas relações no Congresso, poderá fazer grandes coisas pela
eficiência do gasto público.
A título de exemplo, conseguimos montar um
programa de avaliação de benefícios tributários, quando eu estava na Secretaria
da Fazenda e Planejamento de São Paulo, em 2022. A iniciativa foi reconhecida
pelo Tribunal de Contas do Estado. Começamos a produzir indicadores para
guarnecer análises e diagnósticos – primeiro passo para ajustes futuros bem
feitos. O trabalho foi comandado pelo subsecretário da Receita Estadual, Luiz
Márcio de Souza, e pelo chefe do Departamento de Estudos Tributários, Carlos
Gomes, ambos auditores fiscais do nosso Estado.
A fala da ministra Simone Tebet, na Warren
Rena, foi na direção certa. É provável que tenhamos bons avanços, nos próximos
anos, em matéria de planejamento e orçamento. Ainda que os efeitos fiscais, do
ponto de vista das economias a serem produzidas, possam surgir apenas no médio
prazo, temos de ter claro: em meio a tamanha rigidez orçamentária (cerca de 94%
do Orçamento é obrigatório no caso da União), esse tipo de iniciativa tende a
ser a saída mais palatável.
Este esforço para revisar políticas
públicas que hoje contam com polpudos espaços no Orçamento, mas sem resultado à
altura, poderia gerar uma “pequena” revolução em matéria fiscal e econômica. De
um lado, cabe entender que o ajuste requerido para estabilizar a relação
dívida/PIB será expressivo, da ordem de R$ 300 bilhões em três anos; de outro,
buscar alternativas novas para melhorar a eficiência do gasto e, assim,
colaborar para o crescimento econômico.
É preciso avançar com a Agenda Tebet!
*Economista-chefe e sócio da Warren Rena, foi secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo e o 1º diretor-executivo da IFI
Será que vai dar tempo de fazer tudo isso antes do final dos trâmites do processo de "empeatchement" protocolizado por alguns Deputados, o que pode gerar um referendo popular de custo mais elevado que o próprio PPA?
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