quinta-feira, 30 de março de 2023

Míriam Leitão - O grande ajuste de Haddad e Lula

O Globo

O ministro da Fazenda e o presidente aprovaram uma proposta forte de ajuste fiscal de três pontos percentuais do PIB em um mandato

O governo Lula se propõe a fazer em quatro anos um ajuste de três pontos percentuais do PIB e isso é um enorme esforço. Ontem, o que foi aprovado na conversa do Palácio do Planalto é que essa administração, que se iniciou com pouco mais de 2% de déficit público, chegará a 1% de superávit primário no final do mandato. Isso será conseguido por etapas, mas com passos fortes. O desequilíbrio entre receita e despesa será zerado no ano que vem, depois em 2025 haverá um superávit de 0,5% do PIB e no último ano, um superávit de 1% do PIB.

Como chegar lá, se o governo começou com o país com desequilíbrio para este ano de R$ 230 bilhões? Primeiro, o ajuste já começou a ser feito. As medidas iniciais do ministro Fernando Haddad corrigiram algumas evasões fiscais e, em parte, as desonerações indevidas. Na entrevista que me concedeu, ainda antes da posse, ele me disse que o déficit de R$ 230 bilhões não ocorreria. E realmente o país deve fechar este primeiro ano com um pouco mais de R$ 100 bilhões.

Segundo, o arcabouço apresentado ontem pelo ministro Fernando Haddad aos líderes políticos da Câmara, depois de aprovado pelo presidente. Ele parte do ponto de que a despesa crescerá menos que a receita, e haverá mecanismos de ajustes em caso de não atendimento desse parâmetro. Isso levaria ao superávit de 1% no último ano do governo.

Tudo o que foi apresentado aos líderes políticos ontem comprovou o que eu já tinha contado aqui na coluna de terça-feira, que sairia esta semana, e também que todas as despesas estarão sujeitas ao limite de gastos.

Ontem fiz uma longa entrevista com André Lara Resende, que foi ao ar na Globonews, e cuja transcrição você pode ler aqui.

Ele tem uma visão diferente sobre gastos públicos e uma crítica forte à taxa de juros. André tem contestado a visão convencional da política monetária e até da política fiscal. Seu pensamento é complexo, por isso o melhor é ver a entrevista ou ler a transcrição, mas o que ele tem falado não pode ser entendido como uma licença para gastar. Quando perguntei se o governo pode gastar mais do que arrecada, ele respondeu que depende da qualidade do gasto.

– Ele tem obrigação de gastar bem. Tanto no custo de operação do estado, que deve ser o menor possível. O estado deve ser eficiente. Nas suas transferências, quando transfere renda para pessoas mais pobres, é bom que estes gastos sejam cobertos por receitas tributárias, por impostos. Isto é uma forma de impor ao governo uma disciplina. As pessoas pagam impostos e dizem: quero ver se meu imposto está sendo bem usado. Os gastos de investimento, não necessariamente. Desde que o estado invista bem, que a taxa de retorno de investimentos seja maior do que o custo de financiamento do governo, isso se justifica. Se o governo gastar mal, não importa como chame a despesa, isso não é justificado, como gastos demagógicos e eleitoreiros.

André acha que a melhor medida da dívida não é a bruta de 73% do PIB. Sobre a qual houve várias projeções de crescimento, inclusive feitas pelo Banco Central, que não se realizaram. Ele prefere o conceito de dívida líquida, com o desconto das reservas cambiais, e mais o desconto do que o Tesouro tem no caixa único no Banco Central. Daria 45% do PIB. Essa é uma das razões pelas quais ele acha que os juros deveriam cair substancialmente. Na entrevista, ele não entrou em detalhes quando perguntei como deveria ser a nova regra fiscal, mas não poupou de críticas o Banco Central. Disse que a última ata é extremamente arrogante.

– O BC está se arvorando, com uma equipe de jovens tecnocratas que acreditam piamente nos modelinhos equivocados que eles estão olhando, e se acham no direito de passar pito no Congresso, no presidente eleito e no Judiciário. O BC, com a autonomia que lhe foi concedida, passou a se considerar um quarto poder. E um quarto poder que dá lições de moral e se considera acima dos demais poderes. É muito preocupante.

O ministro Fernando Haddad, que faz moderadas críticas ao Banco Central, está apresentando agora a regra fiscal que substituirá o falido teto de gastos. O desafio dele é o de ser aprovado pelo Congresso e depois ser transportado para a Lei de Diretrizes Orçamentárias. A questão é que se os juros não caírem o custo da dívida permanecerá proibitivo com efeito, como alertou André Lara Resende, sobre todas as empresas.

 

11 comentários:

  1. Finalmente, um espaço pro contraditório na voz do grande Lara Resende. O penúltimo parágrafo é o melhor de toda a coluna, expõe a leitura que Lara faz do comunicado e de quem está por detrás dela. Em resumo, um bando de pauloguedista que quer é arrocho nos salários e projetos de contenção nos gastos públicos típicos da ortodoxia liberal. E, por fim, mas não menos importante, o alerta da Miriam para os empresários e adjacentes que não vivem de renda praticamente afirmando que as vozes deles tem de ser ouvidas para que o BC altere sua rota. Sem pressão esses pauloguedistas vão continuar trabalhando para Faria Lima em detrimento de todos os outros setores do país.

    ResponderExcluir
  2. Campos Neto falhou em todos os anos do desgoverno biroliro. Nestes casos, a inflação sempre, repito, sempre estourou a meta.
    No 1o ano do Lula, a inflação ainda está descontrolada.
    Resumindo: Campos Neto e sua equipe estão devendo competência.
    Nos anos bozo, o presidente do BC trabalhou pela reeleição do genocida, deixando a inflação galopar, e por isso nunca teve choques com o jegues. Afinal, ambos são bolsonaristas.
    Lula não tem esta ajuda - com incompetência da BC, vivemos o pior dos mundos: JUROS E INFLACAO ALTA. A quem isso interessa senão ao fujão e sua súcia?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. *juros e inflação altos

      Excluir
    2. Não! Roberto Campos Neto, durante o governo Bolsonaro "não "deixou a inflação galopar"!

      Bolsonaro aumentava gastos com objetivos eleitorais; Roberto Campos aumentava os juros para esterilizar os gastos eleitorais de Bolsonaro.

      Anônimo! Eu e você não gostamos de Bolsonaro. Eu também não gosto de Lula e me parece que você gosta. Mas eu e você sabemos que nossas conversas aqui são sobre o Brasil e baseadas nos dados e nos fatos brasileiros, e não em crença, desejo e narrativas e muito menos são conversas deliberadamente contra ninguém.

      Vamos aos dados do que eu disse::
      -Em março/2021, a inflação era 1,75% e a Selic era 2%.
      -De março/2021 a agosto/2022 Bolsonaro fez gastos eleitorais.
      -Toda vez que Bolsonaro fez gastos eleitorais, Campos Neto aumentou a taxa de juros para anular as consequências dos gastos de Bolsonaro.

      -Resultado::
      Nesse período, a taxa de juros foi aumentada 11 vezes por Roberto Campos, passando de 2% em março/2021 para 13,75% em agosto/2022. Depois de agosto/2022 a taxa de juros não mudou mais e está parada em 13,75 desde lá.

      A inflação, que chegou a mais de 10% em dezembro/2021, hoje está com previsão de 5,96% e ainda exigindo Selic alta.

      Bolsonaro aumentou gastos fora da meta e descumpriu a âncora fiscal. Lula, com a PEC dos gastos de janeiro, precisava de R$52,5 contra a fome e entrou com pedido para gastos de R$168Bilhões, podendo chegar a R$200Bilhões. Isso tudo com já um deficit previsto em orçamento de R$230Bilhões.

      E, em um país com tanta dívida e tanto desequilíbrio fiscal, estão gritando para o Banco Central baixar os juros sem nem mesmo substituir primeiro a âncora fiscal que ninguém cumpre.

      Vamos esperar o Brasil ter nova âncora e seus primeiros resultados serem medidos para resolvermos os juros ou despejar o Brasil em uma terceira aventura econômica populista em 15 anos.

      EdsonLuiz.

      Excluir
    3. "Roberto Campos aumentava os juros para esterilizar os gastos eleitorais de Bolsonaro."

      Sim, concordo. Mas os remédios aplicados pelo RCN foram insuficientes, ié, NÃO ESTERILIZARAM. Por isso a inflação galopou - estouros de meta não me deixam mentir.
      Conclusão: os remédios ficaram aquém do necessário por uma razao: não atrapalhar a reeleição.
      Esse é o ponto: ele é bolsonarista. Seus remédios não anularam as traquinagens do bozo porque não seria eleitoralmente conveniente.

      Excluir
    4. Caro anônimo das 16:09, o sr. diz q em 03/21 a inflação era de 1,75 e selic de 2.
      Se o Campos Neto não conseguiu manter estes índices em tais níveis, ele, presidente do BACEN, serve pra quê? Não deveria ele ter aplicado medidas MAIS AMARGAS?

      Excluir
    5. Não é fácil, a decisão do BC.
      E vejam como até entre nós é uma discussão difícil::
      ▪A Selic está parada em 13,75% desde agosto/2022.
      ▪A previsão de inflação anterior para este 2023 era 5,89% e está em 5,96. Mas o importante para a decisão do BC é a situação mais à frente.
      ▪Previsão::
      -2024:: era 3,94; foi para 4,0%.
      -2025:: era 3,6; foi para 3,78%.
      A inflação está indicando alta.
      Influenciando isto tem i)A falta de uma âncora que sirva; ii)A guerra maldita das ditaduras contra o anseio de liberdade da Ucrânia; ii)As correções, nas economias principais da expansão monetária feita para a Covid, etc.

      Declarações das forças políticas no poder também impactam as expectativas. As do Haddad ajudam um pouco; outras, atrapalham bastante.

      Agora, vamos à questão de o trabalho de Roberto Campos ter sido bom ou insuficiente para controlar a inflação.
      ▪O BC subiu os juros básicos em mais de 11% em 15 meses. A transmissão dos efeitos dessas medidas leva um tempo até surtir efeito, alguns meses:: os últimos aumentos da Selic só estão começando agora. Os efeitos estão começando a aparecer levemente no crédito. Se na próx. reunião a Selic baixar uns 0,25, será pelo crédito mais fraco e por nada mais.

      ●Se o BC houvesse pesado ainda mais a mão, imaginem como estaria a economia agora. O custo para corrigir seria muitas vezes maior do que vai ser.
      ▪E tem isso também:: uns acham que subir a Selic de 2% para 13,75 foi pouco, imagine? E outros, como o Lula e a Gleisi, pelo que vemos são contra esse controle e querem que baixe a Selic sem eles ajudarem.

      Bolsonaro não dava para Roberto Campos uma política Fiscal que ajudasse a completar o trabalho de derrubar a inflação; Lula também não dá. Populistas são iguais e não fazem o difícil; só fazem o fácil e que dá voto.

      Vou parar aqui. É uma discussão difícil e eu sei que não consigo ser claro, até porque nisso é difícil ser claro. Peço desculpas. E estou ocupando muito espaço. Peço desculpas por isso também.

      Só vou fazer um registro:: eu não tenho nenhuma simpatia por quem apoia populistas, mas fiquei admirado de Roberto Campos à noite colocar uma merda de uma camisa verde-amarela e usar na campanha de Bolsonaro e pela manhã ser perfeitamente profissional e fszer seu trabalho como economista.
      EdsonLuiz.

      Excluir
    6. Informação bate com pareceres de um Tribunal de Contad, mas acrescento: usaram a inflação com propósito de incrementar o ICM, muitas vezes Campos demonstrou contrariedade com a interferência do Paulo Guedes -Bolsonaro é Campos foram usados por esse aprendiz de ditador o tempo todo, pra não dizer que eu não disse.

      Excluir
  3. O "grande" André Bosta Resende. Nanico de M. Os pais do real são o Gustavo Franco e o Pedro Malan. Esse Bosta Resende só serve pra cortar qdo a Porcona levanta a bola....

    ResponderExcluir