Folha de S. Paulo
É grave tentar estender à população um
núcleo particular de crenças
O Senado instalou sua
própria bancada evangélica, com o objetivo de tentar barrar a legalização
dos jogos de azar e enfrentar pautas que podem ampliar o acesso ao aborto ou
descriminalizar as drogas, além de defender a liberdade religiosa.
Sou liberal. Religiosos têm todo o direito de achar que jogo, aborto (ou mesmo sexo) e drogas são pecado. Sendo este o caso, têm o dever moral de convencer seus fiéis a ficar longe dessas obras do demônio. Podem, se quiserem, jogar pesado na consecução dessa meta. Os católicos, por exemplo, inventaram um engenhoso sistema de excomunhão automática ("excommunicatio latae sententiae") para quem se envolver com abortos. Não sei se funciona (apostaria que não muito), mas não vejo problema em religiões (ou clubes) se valerem de regras próprias, ainda que esdrúxulas ou draconianas, desde que abraçadas voluntariamente por seus membros.
O que me parece inaceitável é que religiosos
tentem impor suas preferências também para pessoas que não partilham de sua fé.
Vejo aí uma confissão de impotência e uma usurpação. A sensação que dá é que,
como não conseguem convencer nem os fiéis a seguir a doutrina, procuram
terceirizar para o Estado a função de bedel. Se o jogo é ilegal, fica menos
trabalhoso manter o rebanho longe do bingo.
Bem mais grave, me parece, é buscar
estender a toda a população um núcleo particular de crenças. Aí já não é mais
preguiça, mas um caso de violação a um dos mais fundamentais princípios do
Estado liberal democrático, que é a aceitação de que diferentes pessoas e
grupos vivam segundo seus próprios valores. Nem todos precisam ver jogo, sexo e
drogas como pecado. Tentar universalizar a proibição é uma impostura
autoritária.
Pior, a bancada
evangélica se põe em contradição. Não dá para defender o banimento e,
ao mesmo tempo, propugnar pela liberdade religiosa. Basta lembrar que há
religiões que usam drogas em seus cultos.
A "liberdade religiosa" defendida por este pessoal é só para que eles tenham toda a liberdade que querem, para oprimir ou perseguir outras religiões.
ResponderExcluirA liberdade religioda que esse pessoal quer é fundamentalmente RELIGIO$A
ResponderExcluirQual religião usa droga em seus cultos?
ResponderExcluirVinho tem álcool, e álcool é droga que pode causar dependência. O pessoal do Santo Daime usa plantas que contêm drogas.
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