Valor Econômico
Nova regra e reforma tributária são esforços de modernização importantes que patinam num ambiente político difícil. Proposta quer “dessacralizar” certas despesas
Nos governos anteriores de Luiz Inácio Lula
da Silva, a possibilidade de o Brasil passar a ser membro da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estava fora do radar. A ideia de
ter um organismo internacional dando pitacos por aqui não agradava.
Nos governos de Michel Temer e de Jair
Bolsonaro, houve um giro de 180 graus e a acessão à OCDE virou prioridade. A
melhoria do ambiente de negócios, apoiada em políticas reunidas por essa
organização, assim como pelas atuações do Banco Mundial e do Fórum Econômico
Mundial, foi um dos pilares da gestão do ex-ministro da Economia Paulo Guedes.
Como resultado da aproximação, em janeiro do ano passado começou formalmente o
processo que pode resultar na aceitação do Brasil como sócio.
Com a alternância de poder na Presidência, ficou no ar a pergunta sobre como o tema seria tratado. A resposta veio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele afirmou dias atrás que o Brasil quer, sim, ingressar na OCDE.
Com que empenho, é uma questão em aberto.
Não parece haver o mesmo entusiasmo que se via no governo anterior. Tampouco se
vê o ranço das passagens anteriores do PT pelo governo.
Pelo que se comenta nos bastidores,
trata-se de uma opção pragmática. É a sequência de um processo de acessão que
está em andamento e levará alguns anos para estar concluído. E de um
alinhamento de ideias que já ocorria naturalmente, em função do que a OCDE se
propõe a ser: um centro de conhecimento que permite formular boas políticas
públicas.
As duas prioridades do momento na pasta da
Fazenda, a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal, alinham o Brasil ao
padrão da OCDE. São esforços de modernização importantes que patinam num
ambiente político difícil.
Se o Brasil conseguir instituir um sistema
tributário parecido com o da OCDE, estará dando um enorme salto, disse o
secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, em evento da
Arko Advice.
O novo arcabouço fiscal também aproximará a
gestão das contas públicas no Brasil à das economias avançadas, informam
técnicos. Muitos países reformaram seus sistemas depois da crise de 2008. Aqui,
os esforços nessa direção não avançaram.
O novo marco fiscal, além de estabelecer um
horizonte para a trajetória da dívida, virá acoplado a novos instrumentos que
buscarão dar um uso mais eficiente aos recursos públicos. Gastar melhor, em vez
de gastar mais.
Já está em curso um trabalho de avaliação
de políticas públicas. Ao menos em tese, servirá de guia para reformar ou
cortar gastos que não estão dando o retorno esperado. E eventualmente liberar
recursos para novas prioridades.
É algo que já se tentou outras vezes, sem
sucesso. Agora, novamente, fala-se nos bastidores de “dessacralizar” certas
despesas, reduzi-las, e abrir espaço para um Orçamento que atenda melhor às
necessidades da sociedade.
Difícil. A demora na divulgação do novo
arcabouço fiscal dá a temperatura de como essa ideia é mal absorvida no
conjunto do governo. Como comentou um técnico, há muitos sonhos povoando a
Esplanada dos Ministérios. Nem todos poderão ser realizados.
Outro instrumento que a atual equipe
pretende implementar é o orçamento plurianual. A ideia é colocar, na lei
orçamentária, projeções para cada despesa nos anos seguintes.
Isso serve não só para dar mais
previsibilidade à realização de investimentos públicos, como também para
explicitar a capacidade de o Orçamento absorver novas despesas. Ficará mais
visível o quanto o aumento de um determinado programa exigirá sacrifício de
outros, para que as contas públicas sigam na trajetória desenhada pelo
arcabouço.
Assim, serão necessárias escolhas. Se tudo
correr como o planejado, haverá mais números e mais informações para subsidiar
a difícil arte de buscar o equilíbrio orçamentário.
As pressões contrárias serão muitas,
considerando que o atual governo se elegeu prometendo recompor gastos em
diversas áreas. Além disso, a difícil construção da base de apoio no Congresso
demandará a liberação de recursos.
Não por acaso, a ata do Comitê de Política
Monetária (Copom) diz que o Banco Central acompanhará não só o desenho, mas a
tramitação e a implementação do arcabouço fiscal. Esses são pontos de atenção
também dos agentes do mercado.
Quanto ao desenho, já se sabe que o
arcabouço não trará uma regra draconiana para conter despesas. Os fãs do teto
de gastos deverão ficar insatisfeitos.
A resposta dos técnicos é que, para ser
crível, a regra precisa ser sustentável, inclusive do ponto de vista político.
Os sucessivos “furos” no teto de gastos não deixam dúvida quanto a isso.
Por outro lado, é possível que a nova regra
não saia tão frouxa quanto apostam os mais pessimistas. Um técnico que se diz
fiscalista e está a par da proposta opina que o arcabouço dará conta do recado.
A tramitação da proposta da nova regra
fiscal no Congresso Nacional é outro ponto de dúvida. À falta de uma base
suficientemente ampla de apoio ao governo somou-se a disputa entre os
presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), em torno das medidas provisórias (MPs). Boa parte do pacote anunciado
por Haddad em janeiro está em proposições desse tipo, que ainda aguardam
votação. O arcabouço, um projeto de lei complementar, é difícil de ser aprovado
por um governo com poucos votos. Exigirá maioria absoluta dos votos na Câmara e
no Senado. Além disso, como toda proposição legislativa, pode ser modificado.
O arcabouço fiscal procura trazer para o Brasil ideias testadas e aprovadas nos países desenvolvidos para administrar os recursos públicos de forma mais eficaz. Seria muito ruim se esse esforço fosse novamente capturado pelas forças que, há décadas, atuam para deixar tudo do jeito que está.
Me senti bem informado sobre o contexto.
ResponderExcluirQue os bons ventos venham logo.
Verdade.Eu tô que nem a Sabrina Satto,é verdade,rs.
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