Correio Braziliense
Nesse contexto, Lula navega em meio à
calmaria que antecede a borrasca. Haverá uma queda de braço entre o governo e a
oposição, na qual o Centrão será o fiel da balança
Temos atualmente 28 partidos. Formalmente,
o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com um deputado, requer a fusão com o
Patriota (quatro deputados) para formar o partido Mais Brasil. Solidariedade
(quatro deputados) pede a incorporação do Partido Republicano da Ordem Social,
o PROS (três deputados). O Podemos (12 deputados) solicita a incorporação do
Partido Social Cristão, o PSC (seis deputados). Mas a movimentação mais
importante é a federação ou fusão do PP (59 deputados) e do União Brasil (47
deputados), que resultará na formação da maior bancada da Câmara, com 106
deputados.
Dos 28 partidos e federações que concorreram nas eleições passadas, apenas 13 receberão recursos do Fundo Partidário em 2023, 15 não elegeram deputados federais, nem obtiveram votos suficientes para alcançar a chamada cláusula de desempenho. Os partidos que sobreviveram estão canibalizando os demais. As maiores bancadas na Câmara são do PL, de Jair Bolsonaro, com 99 deputados, e da federação PT-PV-PCdoB, com 81 deputados, que protagonizam a polarização entre o governo Lula e a oposição.
A fusão ou formação de uma federação do PP,
liderado pelo ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira e pelo presidente da
Câmara, Arthur Lira (AL), com o União Brasil, sob comando do deputado Luciano
Bivar (PE) e o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, consolida a hegemonia do
Centrão no Congresso, alicerçado no controle sobre a distribuição de emendas do
relator no Orçamento da União.
Essa hegemonia no Congresso cria condições
mais favoráveis para o Centrão arrancar concessões do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, seja na ocupação de cargos do governo, seja na aprovação de seus
projetos, que geralmente caminham lado a lado. Além disso, o controle sobre as
emendas, ao lado das mordomias e privilégios dos detentores de mandatos, além
dos recursos dos fundos partidário e eleitoral, desequilibrarão a disputa nas
eleições municipais.
Outras fusões e incorporações também
deverão ocorrer e compor um espectro partidário mais reduzido e de perfil
político mais claro. Considerando o perfil das legendas, a direita mais
ideológica será representada pela aliança do PL com o Republicanos, sob forte
influência do ex-presidente Jair Bolsonaro, cuja capacidade de transferência de
votos nas eleições ficou provada em 2018, 2020 e 2022.
MDB e PSD, com 42 deputados cada, são as forças mais importantes de centro e centro-direita, respectivamente, o que deixa muito pouco espaço para o surgimento de um partido social-liberal, ao centro. PSB, PDT e a Federação Rede-PSol ocupam o espaço da centro-esquerda, ao fazer aliança com Lula. A federação PSDB-Cidadania, com 18 deputados, saiu muito enfraquecida da eleição e vive uma indefinição em relação ao rumo a tomar, uma vez que a opção de ampliação da federação com o Podemos, não se consolidou e o projeto da "terceira via" subiu no telhado, com a participação de Simone Tebet no governo Lula. Além disso, suas bancadas se deslocaram da centro-esquerda para a centro-direita.
Crescer ou crescer
Quando Lula se refere à "cooperativa
de partidos", está passando recibo de que essa movimentação pode se tornar
uma dor de cabeça nesse começo de mandato. A grande maioria do Congresso se
move por interesses, velhas práticas como o patrimonialismo, o fisiologismo e o
clientelismo estão vivíssimas. Tudo converge para as emendas de relator, nas
quais os verdadeiros autores não são conhecidos. Mesmo nos partidos mais
programáticos, o transformismo se impôs durante a gestão de Lira, reconduzido
ao cargo com amplíssima maioria. Não existe mais "baixo clero" porque,
agora, quem manda são suas principais lideranças, muitas das quais
desconhecidas do grande público.
Nesse contexto, Lula navega em meio à
calmaria que antecede a borrasca. Haverá uma queda de braço entre o governo e a
oposição, na qual o Centrão será o fiel da balança. A mão pesada do governo
sempre influencia as votações, ainda mais com um presidente recém-eleito, mas
isso depende da preservação da popularidade de Lula, que venceu por estreita
margem e enfrenta uma oposição radical nas redes sociais, que já demonstrou ser
capaz de ganhar as ruas.
A maior ameaça à governabilidade é a
situação da economia, principalmente o baixo crescimento, que inviabiliza as
promessas de campanha de Lula. As medidas tomadas pelo governo até agora, tanto
na área econômica — como a cobrança de impostos sobre combustíveis — quanto na
área social — caso do novo Bolsa Família —, não têm sustentabilidade enquanto a
taxa de juros estiver em 13,75%.
Com um crescimento do PIB de 2,9% em 2022,
o mercado começa a projetar uma inflação da ordem de 4,9% para este ano, bem
abaixo do último Boletim Focus, que era de 5,9%. Se isso ocorrer, o presidente
do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, estará na berlinda novamente,
porque a taxa de juros se tornará uma ameaça ainda maior ao governo Lula. Não
por acaso, a artilharia petista novamente se voltou contra ele, mas sua
blindagem é o Centrão.
Sei.
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