Correio Braziliense
O Congresso e o Supremo repudiaram o golpismo,
o governo ganhou tempo para preparar as medidas econômicas de impacto
anunciadas nesta semana. Mas houve muita fricção política
Com dois meses de mandato, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva não teve a tradicional trégua de 100 dias concedida
aos governantes pela mídia e pela oposição, sem falar no “fogo amigo” de
aliados e até mesmo dos petistas, por causa das divergências e disputas de
poder na sua equipe de governo. Na primeira semana de gestão, Lula vivia ainda
o inebriante clima gerado pela festa da posse, cuja sacada de subir a rampa do
Palácio do Planalto com os representantes das minorias proporcionou imagens
históricas, de repercussão internacional.
Pensava-se que estava tudo certo, ninguém da sua equipe imaginava que o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) seriam invadidos sete dias depois. O presidente da República passava um fim de semana em São Paulo, porém, no domingo, decidiu viajar a Araraquara, para ver pessoalmente os estragos causados pelas chuvas, ao lado prefeito petista Edinho Silva. Entretanto, naquele 8 de janeiro, “nuvens negras” — como aquelas que antecederam o golpe de 1964, que destituiu o presidente João Goulart — encobriram o Planalto Central. Lula decretou intervenção no Distrito Federal, delegando ao ministro da Justiça, Flávio Dino, a responsabilidade de conter os danos. O governador Ibaneis Rocha foi afastado do cargo.
A decisão de não decretar uma operação de
Garantia da Lei e da Ordem (GLO), recorrendo às tropas do Comando Militar no
Planalto, não fora por acaso. Desde o quebra-quebra bolsonarista de 12 de
dezembro, dia de sua diplomação, quando os “patriotas” acampados em frente ao
QG do Exército incendiaram ônibus e até tentaram invadir o prédio da Polícia
Federal, sabia-se que havia uma tentativa de golpe em marcha. No estado-maior
de Bolsonaro, os generais Braga Netto, seu candidato a vice, Augusto Heleno
(GSI) e Luiz Ramos (Secretaria de Governo), o ex-comandante da Marinha
almirante Almir Garnier Santos, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que
está preso, e o deputado Eduardo Bolsonaro apoiavam a decisão de Bolsonaro de
não reconhecer o resultado da eleição.
Derrapagem
A minuta do decreto presidencial apreendida
pela Polícia Federal na casa do ex-ministro da Justiça, que destituiria o
ministro Alexandre de Moraes da presidência do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) e convocaria novas eleições, por muito pouco não fora assinada por
Bolsonaro, que resolveu viajar para Miami, bastante deprimido. Fora convencido
a sair de cena num jantar na casa do ministro do Supremo Tribunal Federal Dias
Toffoli, articulado pelo ex-ministro das Comunicações Fabio Faria. Os ex-ministros
Ciro Nogueira (Casa Civil) e Flávio Rocha (Secretaria de Assuntos
Estratégicos), um almirante da ativa, e o ministro do Tribunal de Contas da
União (TCU) Jorge Oliveira, contrários a qualquer tentativa golpista, atuaram
como bombeiros no episódio.
Não conformados, Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
e Anderson Torres viajaram para Miami, onde passaram o ano-novo com Bolsonaro.
Hoje, as investigações da Polícia Federal estão apurando as responsabilidades
sobre graves falhas no dispositivo de segurança da Esplanada dos Ministérios,
que estava a cargo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), da Guarda
Presidencial e da Polícia Militar do Distrito Federal. Na crise, por terem
impedido que os vândalos fossem presos no acampamento em frente ao
Quartel-General do Exército, na madrugada de 9 de janeiro, o comandante militar
do Planalto (GMP), Gustavo Henrique Menezes Dutra, e o comandante do Exército,
general Júlio César Arruda, foram substituídos. Outras mudanças nos comandos
militares do Planalto foram feitas pelo novo comandante do Exército, Tomás
Ribeiro Miné Paiva.
Graças também à atuação do ministro
Alexandre de Moraes contra os golpistas, a situação foi controlada. Houve
atuação firme e decidida dos Três Poderes. O Congresso e o Supremo repudiaram o
golpismo, o governo ganhou tempo para preparar medidas econômicas de impacto
para a sociedade, que começaram a ser anunciadas nesta semana. Mas houve muita
fricção política com os aliados, a mídia e o Congresso, após Lula atacar o
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e criticar as altas taxas de
juros.
A trégua proporcionada pela defesa da
democracia derrapou na política econômica. O ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, ficou com a credibilidade abalada, sob ataque da presidente do PT,
Gleisi Hoffmann, e fortes pressões do mercado financeiro. Mas o governo começou
a deslanchar na economia. Haddad anunciou um aumento do salário mínimo para R$
1.320 a partir do 1º de Maio e um alívio na cobrança do Imposto de Renda. Nesta
semana, fez a manobra mais difícil: a volta da cobrança de impostos sobre
combustíveis, simultaneamente à redução de preços da gasolina e do diesel pela
Petrobras. Também foi anunciada a reestruturação do Bolsa Família e a rolagem
das dívidas dos consumidores inadimplentes.
É muita coisa em tão pouco tempo.
ResponderExcluirFez bem.
ResponderExcluirE bem feito.
Vem mais aí.