O Globo
Não há sentido em o PT fazer campanha
contra uma política econômica que tem lógica e coerência
O PT repete erros antigos e os usa para
justificá-los, como se assim amenizasse os estragos decorrentes. O ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, teve uma vitória política importante contra o próprio
partido ao conseguir convencer o presidente Lula de que a volta dos impostos
federais dos combustíveis seria fundamental para o equilíbrio das contas
públicas.
Não há sentido em o PT fazer campanha
contra uma política econômica que tem lógica e coerência diante da crise que o
país enfrenta. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, selou em decorrência
uma aliança com o PSOL em favor de “uma política econômica de esquerda”.
Seria “de esquerda” provocar o desequilíbrio fiscal com medidas populistas, como o fim dos impostos dos combustíveis? Se for isso, Bolsonaro é de esquerda, pois foi o que fez para ganhar votos na campanha eleitoral em que foi derrotado, nunca é demais lembrar, por uma diferença ínfima de votos. Se fosse simples assim fazer uma política econômica que estimule o desenvolvimento sem provocar inflação, a solução teria sido dada pela “nova matriz econômica” do ex-ministro Guido Mantega, iniciada no final do segundo mandato de Lula e aprofundada no governo Dilma, com as consequências que o país sofre até hoje.
Haddad, para dar um ar de normalidade a
essa autoflagelação do PT, lembrou que ainda em 2003 o partido também fez um
abaixo-assinado criticando a política econômica de então, pedindo a saída de
Antonio Palocci, ministro da Fazenda durante o primeiro governo Lula. Como
ficou claro, Palocci tinha toda a razão ao dar continuidade à política
econômica do governo antecessor, baseada justamente no equilíbrio fiscal, em
metas de inflação e no câmbio flutuante.
A diferença é que hoje a situação
econômica, no Brasil e no mundo, é muito pior, e é preciso tomar medidas muito
mais duras para superar a crise. Nos primeiros governos Lula, o vice-presidente
José Alencar foi o maior opositor dos juros altos definidos pelo Banco Central,
que não tinha independência ainda e abrigava um tucano, o deputado federal
Henrique Meirelles. A campanha do vice não abalou o BC de então, que, com o
apoio do presidente Lula, tinha autonomia incontestável.
No primeiro mês de governo, os juros, que
já estavam em 25% para tentar conter a inflação que acelerava, subiram para
25,5%, o que provocou a revolta petista. Lula só foi interferir no Banco
Central no final do segundo mandato, influenciado por Mantega. Os juros, que já
tinham estado em 26,5% no primeiro mandato, estavam em 11,25%, e Lula achou que
não precisava mais de Meirelles.
Só não o substituiu pelo economista Luiz
Gonzaga Belluzzo — que chegou a ser convidado —porque o Brasil recebeu o grau
de investimento da agência Standard & Poor’s. Sinal de que a economia havia
entrado nos trilhos. Os detalhes estão narrados no livro “Eles não são loucos”,
do jornalista João Borges, editado pela Penguin.
Hoje, com o Banco Central independente fora
do controle do governo, é o próprio Lula quem vocaliza a insatisfação com os
juros em 13,75%. O ministro Haddad, sob fogo cruzado do PT, deu uma
demonstração de força e também de que leva a sério o compromisso com o
equilíbrio fiscal. Mas entrou na liça para forçar uma queda nos juros.
Ele espera que esse esforço que fez para
dobrar o presidente Lula seja recompensado com uma queda dos juros, o que daria
a ele mais força interna no PT. A visão política dos petistas de que o
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, está boicotando o governo por
ser bolsonarista também predominou na gestão de Meirelles no BC e de outros
economistas liberais na ocasião, como Marcos Lisboa, Murilo Portugal e Joaquim
Levy.
A falta de visão de longo prazo provoca
situações bizarras, como aquela em que se meteu Gleisi Hoffmann. Ao criticar a
posição de Haddad sobre a taxação de combustíveis, ela disse que promessas de
campanha seriam “descumpridas” se fosse retomada. Quem fez as promessas de
campanha foi o presidente Lula, que autorizou a volta.
"O PT repete erros antigos e os usa para justificá-los"
ResponderExcluirEsse tal Merval disputa com um tal de Waack a paternidade da frase citada, tanto a usam em seus textos.
Mas nunca vêem os seus próprios erros nem as próprias 'bundas nas janelas'
Todo mundo comete erros,perfeito só o criador.
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