Valor Econômico
Popularidade presidencial move pautas no
Congresso
“O
melhor presidente do país foi o senhor e não a Dilma.” O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva ouviu esta frase de um ministro a quem cobrou pressa nos
resultados. Por semanas a fio, o enredo desta pressa foram as provocações
dirigidas por Lula contra o Banco Central, uma toada que remete ao isolamento
da ex-presidente do PIB nacional na crise que precipitou o fim de seu governo.
Na manhã dessa terça-feira, o presidente voltou a falar em pressa durante o relançamento do Conselho Nacional de Segurança Alimentar: “Estamos há 59 dias no governo. Não temos mais quatro anos. Temos três anos e dez meses e um dia pela frente”. E explicitou sua preocupação com a marca que os 100 dias de seu governo terá. Uma gestão que já fez o primeiro repasse da merenda escolar aos municípios - os mesmos R$ 0,36 que embalaram a campanha petista contra o governo Bolsonaro.
Quatro horas depois, a pressa de Lula cedeu
a uma lombada com o anúncio da reoneração dos combustíveis. O ministro da
Fazenda ganhou tempo ao demonstrar a Lula que se acelerar rumo ao desatino
fiscal seu governo vai se parecer mais com o de Dilma Rousseff do que com os
mandatos que lhe permitiram entregar a faixa com a maior popularidade da
redemocratização.
As primeiras pesquisas mostraram que Lula
começa o governo muito mais próximo da magra vitória de outubro do que da
consagração de 2010. Conseguiu capturar, até aqui, menos de 10% do eleitorado
do ex-presidente, o que é pouco para devolver o bolsonarismo ao seu núcleo
duro.
Uma das razões é que Lula tem que
administrar uma rejeição resiliente. Enfrenta um lavajatismo recalcitrante e um
bolsonarismo que custa a voltar para a pasta de dente. São fenômenos que
ultrapassam a batalha eleitoral e se incorporaram à paisagem. Podem fazer com
que, no limite, as ambições de Lula se realizem num governo mais popular do que
a figura do presidente.
A notícia de que o vice-presidente, Geraldo
Alckmin, terá agendas de governo independentes do titular e até do próprio
Ministério da Indústria e Comércio que comanda parece responder a esta
percepção. Será uma agenda mais afeita a políticas públicas populares, como o
Bolsa Família ou o Minha Casa Minha Vida.
Tanto melhor se o mesmo acontecer com
agregados pela frente ampla, como Marina Silva e Simone Tebet, do que com
aqueles incorporados pelo mandarinato parlamentar, como Juscelino Filho.
É como maestro de um governo que, efetivamente,
traduza esta frente ampla que Lula pode ser reconhecido por uma fatia mais
expressiva dos 57 milhões que, em outubro, optaram por Jair Bolsonaro e custam
a largá-lo. O lulismo que ultrapassa as fronteiras do governo parece um
fenômeno datado e circunscrito aos seus dois primeiros mandatos. Lula não
precisou dos moderados apenas para ganhar a eleição. Ele precisa deles para
governar.
Esta ideia apareceu em muitos discursos de
sua campanha e em atos de seu governo como aquele que presidiu a união federativa
em favor dos desabrigados do litoral norte de São Paulo. Na prática, porém, não
é a frente ampla que tem movido o governo, mas a pressa de Lula.
Os ministros têm se surpreendido com o grau
de cobrança de um presidente pouco afeito a uma rotina indulgente. Num único
dia, sua agenda chegou a registrar 15 audiências. Se a primeira-dama, Janja da
Silva, tivesse tanto poder como lhe imputam, não se estenderia tanto. Como Lula
é o mais velho de sua equipe, tem licença para cobrar que o ritmo se reproduza
na Esplanada.
Passou a reclamar menos da imprensa e a
cobrar mais dos ministros pelas más notícias que recebe. Sua equipe hoje se
divide entre aqueles que, cobrados pelo chefe, se apressam a tomar providências
e a dar entrevistas para anunciá-las, doa a quem doer, e aqueles outros que
buscam ganhar tempo costurando, internamente e com os demais Poderes, os
impactos das demandas emanadas do gabinete presidencial.
Um integrante do primeiro time explica que
a celeridade com que dá sequência às demandas de Lula é pautada também pelo
fogo amigo. Colado em Lula, se protege dos adversários internos. O mundo gira e
o Brasil roda, só as labaredas dos governos petistas não se extinguem.
Um integrante do segundo time diz que
costura de fora para dentro na tentativa de ampliar a base do governo. Ao
tentar responder às demandas de Lula pelo desfazimento da herança bolsonarista,
tem encontrado parlamentares aliados ao governo passado, que, a cada momento em
que o presidente pisa num calo do bolsonarismo, mais dificuldades têm para
justificar, junto à sua base, uma aliança com o novo governo.
O choque entre a pressa de Lula e as
lombadas da Esplanada só não é maior porque é uma equipe calejada esta que aí
está. Somados os mandatos dos ministros em governos estaduais ou em outras
passagens pela Esplanada, chega-se a 70 anos. Experiência de governo permite
saber onde dá para acelerar e as curvas em que se pode capotar.
Nenhum deles, porém, tem a experiência
acumulada por Lula em embates parlamentares. E esta parece ser a real motivação
da pressa do presidente. O 8 de janeiro, e o genocídio ianomami estenderam não
um tapete, mas um colchão vermelho de boa vontade com a estreia do governo.
Com o início efetivo da agenda do
Congresso, a partir da próxima semana, é que se poderá aquilatar o quão fino já
está este colchão. A agenda do Executivo no Congresso tem enroscos como a
reforma tributária, o arcabouço fiscal e a reoneração dos combustíveis. O
“orçamento secreto” foi apenas parcialmente desidratado. A autonomia do
Congresso também conta com os fundos partidário e eleitoral para se impor
frente ao Executivo. E as lideranças do Centrão ainda se valem do bolsonarismo
recalcitrante, em pautas como a CPI do 8 de janeiro, para tentar reaver os
espaços perdidos.
Seus patrocinadores tentam se valer dos
mesmos métodos do ex-presidente. Pretendem, com a comissão, levar os
governistas a esticar a corda com as Forças Armadas, onde prosperam as
desavenças internas em torno da submissão à nova ordem, para desestabilizar não
apenas a sociedade, mas o novo governo.
É esta turbulência que marca o início
efetivo dos trabalhos legislativos. A velocidade de tramitação das pautas do
Executivo no Congresso é proporcional à capacidade de entrega de seu governo e
à popularidade dela decorrente. Vem daí a pressa. E também as lombadas.
É dificil mas vai dar certo
ResponderExcluirNa torcida.
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