O Globo
Ultimamente, no mapa das disputas mais
duras do governo, todas as rotas levam à Petrobras.
Primeiro o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, lutou para restituir a cobrança de impostos federais sobre os combustíveis,
extinta no governo Bolsonaro, enquanto a presidente do PT, Gleisi
Hoffmann, defendia a manutenção dos descontos.
O objetivo de Haddad era recuperar R$ 28,8
bilhões de arrecadação e diminuir o rombo nas contas públicas, enquanto Gleisi
queria evitar o desgaste político com a alta de preços da gasolina e do diesel.
Lula, que já havia prorrogado a desoneração uma vez, sabia que desmoralizar seu ministro da Fazenda de novo poderia ser muito ruim para a credibilidade do governo. Mas, em vez de simplesmente trazer os impostos de volta, jogou o problema no colo do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Esperava que viesse da petroleira uma solução que recuperasse os impostos sem aumentar os preços.
A única forma de fazer isso seria intervir
nos preços dos combustíveis, à moda do que se fez no governo Dilma
Rousseff. Só que hoje, justamente por causa do que ocorreu lá atrás, a
Petrobras tem a obrigação legal de praticar preços competitivos em relação ao
mercado internacional. Seu estatuto também diz que, se o governo resolver usar
a empresa para subsidiar a gasolina ou o diesel, terá de reembolsá-la.
Sem poder mexer nos preços, Prates sacou da gaveta uma ideia que ele mesmo já havia tentado emplacar quando era senador: taxar as exportações de petróleo cru, mas por apenas quatro meses — o exato tempo de vida de uma Medida Provisória.
Com isso, o governo retomou só uma parte
dos impostos sobre os combustíveis. Pode até parecer uma solução criativa, mas,
no fundo, ela pode levar a mais confusão. As empresas que extraem petróleo no
Brasil podem ir à Justiça alegando quebra de contrato, já que, quando assumiram
as concessões de blocos exploratórios, não havia esses impostos.
Podem também suspender novos investimentos
até que se tenha certeza de que a taxa sobre exportação é mesmo provisória.
Afinal, o que mais acontece no Brasil é impostos provisórios virarem
permanentes.
Na mesma terça-feira em que anunciou a nova
taxa, Haddad procurou deixar claro aos líderes do Congresso que não foi ele o
pai da ideia. Explicou, também, que o plano é deixar a Medida Provisória
caducar ao final dos quatro meses.
Isso porque se calcula no Planalto que, até
lá, o governo já terá conseguido instalar seu pessoal no conselho de
administração e na diretoria da Petrobras para mexer no estatuto e intervir nos
preços da gasolina e do diesel.
Antes, porém, Lula terá de pacificar uma
outra briga fratricida: a disputa entre o presidente da Petrobras, o ministro
de Minas e Energia, Alexandre
Silveira, e o próprio PT, para ver quem vai mandar mais na empresa.
Depois de dias convencendo Lula e companhia
dos nomes que o governo deveria indicar para compor o conselho, Prates viu
aterrissar na sede da petroleira uma lista em que vários de seus candidatos
tinham sido substituídos por gente do grupo político de Silveira.
Entre eles estão Vitor Saback, presidente
da Agência Nacional de Águas (ANA),
e Pietro Mendes, egresso do Ministério
de Minas e Energia no governo Bolsonaro, que, com o industrial Carlos
Turchetto, foram prontamente apelidados no governo de “núcleo bolsonarista” da
Petrobras.
Para piorar, Prates ainda teve de trocar um
dos que permaneceram na lista, Wagner Victer, pelo economista do PT Bruno
Moretti.
Essa movimentação causou um salseiro tão
grande em Brasília que, ao final da quarta-feira, a Petrobras comunicou ao
mercado ter adiado a data da Assembleia Geral de Acionistas, porque o governo
ainda trocará mais nomes da famigerada lista, e não daria tempo de fazer isso
no prazo recomendado pelo estatuto.
A demora fatalmente atrasará a discussão na
empresa a respeito da política de preços. Não custa para os quatro meses da
taxa de exportação vencerem sem que Lula tenha conseguido impor suas próprias
regras à Petrobras.
Por aí se vê não só o tamanho da encrenca,
mas também quanto faltam ao novo governo pessoas e ideias capazes de solucionar
os problemas de forma consistente e organizada.
Por ora, a marca tem sido a confusão e o improviso — características que só pioram as turbulências política e econômica. Falta aos navegadores de Lula uma bússola. E, sem ela, o risco de ver o navio naufragar no Triângulo das Bermudas aumenta bastante.
Sim.
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