domingo, 19 de março de 2023

Míriam Leitão - As tempestades no horizonte

O Globo

Com Congresso parado e cenário internacional turbulento, o ministro Fernando Haddad ainda viverá teste com a divulgação do arcabouço fiscal

Há crises se formando aqui e no exterior, complicando a vida do governo Lula, que tem que entregar resultados a curto prazo. O Congresso parado é o primeiro desafio do presidente em seu objetivo de reorganizar a administração e aprovar os projetos que marquem a mudança. As MPs enviadas não andaram um milímetro. A queda de braços entre Arthur Lira e Rodrigo Pacheco pode fazer com que elas caduquem. Há outros tremores. Ainda não se sabe a evolução da crise bancária que começou localizada, mas ainda não parou. Os economistas dizem que os recentes abalos não são nada comparáveis à crise de 2008, mesmo assim os bancos perderam globalmente US$ 500 bilhões em valor de mercado em uma semana, segundo cálculos do Financial Times. As ações de resgate estão ficando cada vez mais amplas.

O presidente da Câmara dos Deputados pede que seus interlocutores façam uma conta simples. São 29 medidas provisórias aguardando apreciação, muitas do governo passado e do atual. Se para cada comissão mista são indicados 12 senadores, seriam necessários quantos senadores? Seriam 348. Claro que o mesmo senador pode ser nomeado para várias comissões mistas, mas teria que correr de uma para a outra.

Lira está, como se sabe, em guerra contra as comissões mistas que, na visão dele, sub-representam a Câmara e dão mais peso ao Senado. São 12 deputados e 12 senadores. Por isso, ele diz que elas são antidemocráticas. O problema para Lira é que as comissões mistas estão previstas na Constituição. Portanto, a volta ao rito de antes da pandemia seria retomar a tramitação estabelecida na lei maior. É mais fácil ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, defender seu ponto de vista. Os dois, como Lira me disse, estão se falando pouco. Essa falta de diálogo se agrava com a judicialização do assunto, através da apelação do senador Alessandro Vieira ao STF.

O maior prejudicado com a guerra de poder entre as duas casas do Congresso é o Executivo que precisa gerir o país depois de um governo desastroso. Da área econômica há no Congresso, entre outras, uma MP difícil sobre voto de qualidade no Carf, contra a qual grandes contribuintes têm investido pesado. Tem outra devolvendo o Coaf ao Ministério da Fazenda e a que repõe os impostos sobre a gasolina.

Externamente, o tempo está fechando. Um ambiente em que bancos quebram e precisam ser resgatados não é favorável a nenhum governo, principalmente a um que começou cercado de expectativas e desafios. E tem a extrema direita à espreita. Um banco de nicho e regional na Califórnia não é nada, disseram os analistas, quando fecharam o SVB. Aí veio a quebra do Signature. Também pequeno, disseram. O Crédit Suisse, com seus 167 anos e várias encrencas, reportou dificuldades contábeis e recebeu um empréstimo bilionário do banco central suíço. Mas a sangria continuou. O First Republic foi socorrido com US$ 30 bilhões oferecidos por bancos de Wall Street, depois de uma negociação que envolveu a secretária do Tesouro, Janet Yellen, e o presidente do FED, Jerome Powell. Mas suas ações continuaram em queda. O índice americano de bancos caiu 16%, o da Europa, 15%, e o do Japão, 9%. “Esforços para estabilizar o sistema financeiro e afastar um pânico mais amplo foram apenas parcialmente bem sucedidos”, avaliou sexta-feira uma reportagem do Financial Times. Fundos de pensão que têm recursos no Crédit Suisse pedem soluções mais rápidas.

Se nada mais acontecer, a crise for contida e os problemas isolados, ainda assim o ambiente econômico estará mais hostil. Errar ficou mais caro. Com o Congresso parado e sombras se formando no horizonte internacional, o ministro Fernando Haddad viverá, nos próximos dias, o teste de fogo de sua gestão com a divulgação do arcabouço fiscal.

A semana em que o país deverá conhecer a proposta do arcabouço, começará com um seminário internacional no BNDES, realizado em parceria com o Cebri e Fiesp, sobre “uma estratégia de desenvolvimento sustentável para o século XXI”. Lá estarão estrelas da economia mundial como o Nobel Joseph Stiglitz, James Galbraith, moderados por André Lara Resende. Presente no seminário, o trio que até agora tem se dado muito bem, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Simone Tebet. Vai ser um diálogo fascinante, mas o pano de fundo são propostas bem divergentes sobre para onde devem ir a política monetária e a política fiscal de um país que precisa crescer.

 

3 comentários:

  1. @mestreandion19/3/23 12:45

    Há uma discrepância entre os negócios bancários no exterior e o que chamam de Teto de gastos onde a cidade de Brasília se transformou no caixa 2 do Ministério da Fazenda nos gastos da TERRACAP na construção de anexos e dos super confortáveis prédios das instâncias do Judiciário além das mansões nas áreas consideradas nobres aos arredores dos aeroportos próximos do preço de um milhão cada cuja sociedade média leva anos para obter o capital. Além de tudo a cidade continua sendo estatutária com uma Câmara Distrital e não vive por conta própria sem uma Constituição, o que acarreta ainda, após 60 anos de sua construção, matando as pessoas que lutam por este tipo de desvinculação do sistema fazendário, e agora, o restante do país que se exploda?

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  2. Q phorra é essa, mestreandion?

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  3. Míriam Leitão sabe das coisas.

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