Folha de S. Paulo
Presidente pode arrumar a casa antes de
viajar ou deixar país e governo no fogão da crise
No final da semana, Luiz Inácio
Lula da Silva vai à China. A gente espera que não vá à breca. Com
sorte e habilidade, pode driblar a encrenca mundial e nacional. Caso tolere
mais burrices, como as que têm vazado de seu governo, vai viajar deixando uma
panela fervendo no fogo de crises.
A semana que vem poderia ser divertida, não
houvesse tanto risco de desgraça.
Os donos do dinheiro, especialmente os negociantes frenéticos de dinheiro, esperam que o presidente diga algo sobre o plano do que fazer de gastos e dívida, o "arcabouço fiscal" de Fernando Haddad. Caso não diga nada, mande tudo de novo para a prancheta ou vazem mais frituras de Haddad, o caldo engrossa mais.
Já no final da semana que passou, havia gente do Planalto e do PT vazando malícias para os jornais. Não deu para entender ainda se é manobra do gênero "olha, não temos nada a ver com isso" (pacote fiscal de Haddad) e "o presidente está fazendo isso a contragosto". Ou se tentam de fato avacalhar o teto de gastos de Lula, mais flexível ou conversível, mas um limitador de despesa e dívida.
Pode ser a segunda hipótese: sabotagem.
Afinal, o governo toma atitudes inacreditáveis, como essa história de baixar na
marra a taxa de juros do consignado, mistura de burrice com
inadvertência culposa. Há muita gente no governo que acredita sinceramente em
decretos sobre preços e rendas, na melhor das hipóteses um negacionismo
ingênuo, mas sempre ignaro.
Na quarta-feira (22), o Banco Central do
Brasil e o dos EUA decidem o que fazer e dizer da taxa básica de juros. No caso
do Brasil, quanto menos ansiedade fiscal (expectativa de dívida pública maior)
menos difícil será encomendar uma baixa de juros.
Os donos do dinheiro e até o Banco Central
estão esperando Lula chutar para o gol. Na verdade, os negociantes de dinheiro
grande esperavam derrubar juros desde novembro. Mas Lula chutou para fora e deu
caneladas.
Para diversão maior, nesta segunda-feira
(20), o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), polo
esquerdista dos economistas do governo, promove um seminário que vai juntar
justamente adversários luminares de planos de controle de gastos e dívida.
Esse tiroteio de decisões graves e
diversionismos vai acontecer em meio a uma névoa espessa de incerteza,
"fog" de guerra. A desconfiança nos bancos pode até amainar, por um
tempo. Mas não dá para dizer que o problema agora se limite a bancos.
A variação recente e alucinada das taxas de
juros de títulos de governos, do americano em particular, pode causar mais
baixas, se essa própria variação já não é sinal de que tenha gente sangrando
por aí. Há pouca informação, se alguma, sobre o que se passa em partes grandes
dos mercados financeiros. Tem fundo de previdência bichado? Fundos de hedge
explodindo?
Além disso, parte da crise vai continuar em
fervura baixa.
Bancos vão emprestar menos. Tão menos a
ponto de empurrar economias centrais para a recessão? Além das perdas com
ativos desvalorizados por causa de juros em alta, haveria mais inadimplência.
Taxas básica de juros a esta altura vão
continuar a derrubar bancos ou alguém mais?
Por mais que as autoridades econômicas
estejam seguindo o manual e muito mais, segurando as pontas da finança, há o
risco do pânico. Os mandarins da economia tiveram seu dedo na vaquinha de
bancos que tenta evitar a quebra do First Republic, outro banco médio americano
no bico do corvo. Na Suíça, vão além de abrir as burras do banco central para o
bichado Credit Suisse (CS). Tentam agora fazer um casamento na delegacia entre
UBS e CS, sob ameaça de trabuco. Pânicos não têm razões, porém.
Como diz o clichê, esta crise pode ser uma
oportunidade. Lula pode viajar com a cama arrumada. Ou largar uma panela no
fogo.
Se não soubesse que é do Vinicius Torres Freire, diria que era um 'miriamleitão' melhorado
ResponderExcluirVinicius Torres entende do riscado.
ResponderExcluir