O Globo
Ministro vai apresentar novo arcabouço
fiscal, negocia a reforma tributária e encara um cenário externo tenso
Há muitas emergências na vida do ministro
da Fazenda neste momento. É tudo ao mesmo tempo agora. Fernando Haddad passou o
fim de semana ligando para Roberto Campos Neto, que estava no BIS, para
banqueiros e, ontem de manhã, antes do evento de O GLOBO e do Valor, já havia
conversado com dois banqueiros. Chegou ao local, onde falaria de reforma
tributária, contando que, no mundo inteiro, os mercados estavam ruins pelo
temor de que a quebra do SVB, banco do Vale do Silício, contamine outras
instituições financeiras. “As informações ainda não são suficientes para se
saber o tamanho do problema”.
Esta semana estava cheia antes de surgirem esses temores, porque Haddad está apresentando ao presidente Lula a sua proposta de novo arcabouço fiscal. O ministro tem que conseguir a façanha de conquistar apoio do governo e do mercado, ao mesmo tempo.
Tudo teve que ser pensado com cuidado.
Arcabouço foi nome sugerido pelo economista Persio Arida. Teto não poderia ser
por motivos óbvios. Âncora também foi descartada. “Certas palavras disparam
gatilhos”, explicou um economista do governo. O arcabouço não pode ser rígido
como o teto de gastos, que tinha algumas burrices como a de não diferenciar
doação de receita própria do governo no cálculo do limite. Não pode ser
“pró-cíclica” como a Lei de Responsabilidade Fiscal, que nas crises, quando a receita
caía, aprofundava os cortes para manter o superávit. A equipe econômica teve
que sondar alguns especialistas, mas não podia falar com ninguém de mercado
financeiro porque a informação poderia ser usada.
Haddad tem que reverter, o que ele chamou,
de “medidas demagógicas do governo anterior”, que tiraram muitos recursos dos
cofres públicos e preparar o futuro da sua gestão e do governo. Há uma pressão
adicional, segundo ele disse ontem no debate, que eu mediei junto com Fernando
Exman, do Valor Econômico.
— A política está no horizonte dos
governos, porque o crescimento da extrema direita é um fenômeno mundial e o
desemprego é um caldo cultural no qual crescem coisas como a xenofobia.
Nessa agenda lotada, tudo tem que estar no
prazo certo. O arcabouço precisa ser aprovado para que o Ministério do
Planejamento consiga formular a Lei de Diretrizes Orçamentárias, que vai para o
Congresso em abril, já com base nele.
A negociação da reforma tributária pode ser
mais dura do que o ministro está imaginando. Haddad acha que pode aprovar até
junho na Câmara e até outubro no Senado. A questão é que é uma nova legislatura
e há novos governadores. O debate estava maduro para que a reforma fosse
aprovada no governo anterior, e essa chance foi desprezada. Agora, pode não haver
o mesmo consenso. O ministro tem trabalhado para convencer, mas reforma
tributária é aquilo que todos querem que aconteça e, quando chega nos detalhes,
cada ente federado acha que está perdendo, cada contribuinte teme pagar mais
impostos.
Eu perguntei sobre um dos problemas que
avalio como urgente. O mercado de ouro é cheio de ilegalidades e tem servido
para lavar todo o tipo de crime. Um ponto para começar a fechar as brechas que
facilitam a vida dos criminosos é uma instrução normativa da Receita Federal de
2001, que permitiu que a nota fiscal na primeira venda do ouro não seja
eletrônica. Precisa ser revogada. O ministro disse que recebeu um dossiê sobre
isso da ministra Marina Silva e deu um prazo à Receita de 30 dias para haver
uma solução.
Ontem mesmo, o presidente Lula estava na
Reserva Raposa Serra do Sol participando da 52ª Assembleia Geral dos Povos
Indígenas. Lá ele se comprometeu mais uma vez a acabar com o garimpo nas terras
indígenas. O primeiro passo é essa instrução normativa da Receita. Os sinais
que Lula tem dado é de forte envolvimento com a agenda indígena, ambiental e
climática.
A lista de tarefas na economia é sempre
muito grande, mas depois de uma péssima transição como foi a do governo
Bolsonaro para o governo Lula, com estouro nas contas, juros altos, urgências
de novos parâmetros fiscais e reformas a serem negociadas, tudo ficou mais
complexo. E como se já não fosse problema suficiente, há essa ameaça de mau
tempo no exterior. As bolsas europeias fecharam em forte queda, todos os bancos
tiveram quedas grandes. É sempre assim, quando uma instituição financeira
quebra, mesmo quando é pequena como agora. Os bancos vivem da confiança dos
depositantes e investidores. E confiança é algo bem tênue.
Arcabouço é muito estranho. É sinônimo de quebra-cabeça: uma série de tentativas e erros. Com a cooperação de uns e outros, quanto aos detalhes e as cores, as peças vão ocupando seus devidos lugares. Os acertos produzem felicidade. É preciso paciência. Lógica. Racionalidade.Criatividade. Visão do todo. Nos dias de hoje contar para uma criança o que o Ministro quer fazer ela se expressa assim: não é um Puzzle é um Lego. Comunicação atual fala mais que estruturalismo acadêmico.
ResponderExcluirVem muitos aborrecimentos para nosso país. Rapid deterioration: Moody’s cuts outlook for all U.S. Banks. Pegou não uma gripe desta vez, que esperar de uma pneumonia?
ResponderExcluirQue esperar do Dólar continua nas alturas?
ResponderExcluirSera que o Lula vai poder desta vez?
ResponderExcluirArgentina vai afundar no furacão? E agora?
ResponderExcluirMíriam Leitão sabe das coisas.
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