O Globo
Vemos um Lula muito mais no papel de pessoa
ofendida que no cargo majestoso que demanda grandeza, jamais desforra
Lula,
no melhor estilo de Jair
Bolsonaro, falou de vingança contra o ex-juiz, ex-ministro e
senador Sergio Moro,
prometendo:
— Não tá tudo bem. Só vai estar bem quando
eu f.... esse Moro (....) Eu tô aqui pra me vingar dessa gente.
No dia seguinte prosseguiu tachando como
uma “armação” de Sergio Moro as investigações da Polícia Federal reveladoras do
perigo que o senador e sua família corriam. O que vemos é a presença e a força
da vingança como instituição básica (mas escondida) da vida política nacional.
A vingança é uma resposta obrigatória a uma
ofensa. Marcel Mauss, no clássico “Ensaio sobre a dádiva”, estuda a coerção
exercida pelos presentes e demonstra como o doar exige o receber e o retribuir.
Do mesmo modo, o que é vivido como ultraje deflagra sentimentos vingativos que
a impessoalidade do republicanismo democrático tolhe, mas — como testemunhamos
— não extingue.
O desabafo de Lula 3 remete ao poder oculto dos cruéis costumes que obrigavam a matar a mulher e o negro tanto quanto ressuscitam o arquivingador: o Conde de Monte Cristo. Na vingança, o apregoado Estado Democrático de Direito transforma-se num instrumento de desforra pessoal quando deveria ocorrer o oposto, já que, nas repúblicas, não cabe o personalismo vingativo, mas a balança impessoal da Justiça.
A intenção do presidente Lula expõe que a
vingança é um fato tão ou mais real do que a roupa que cobre a nossa nudez
quanto à obrigação de reparar uma ofensa, que, como presente ou favor, exige
retribuição, mesmo que as circunstâncias dessa ofensa sejam controversas.
Ninguém aceita um tapa na cara. Aliás, nos
tempos antigos, o bofete era o desafio para um duelo. Do mesmo modo que no
livro de Alexandre Dumas — “O Conde de Monte Cristo” —, a prisão por intrigas
(ou “armações” como diz Lula) de Edmond Dantès deflagra sua épica vingança
contra os seus detratores.
A reação de Lula prova a força dos
costumes. Ela supera a convenção impessoal dos republicanismos, tão difícil de
pôr em prática no Brasil. Realmente, como aplicar a um ex-presidente a
igualdade republicana marcada pela impessoalidade? Como sair do labirinto
legalista cujo desenho contraditório resgata uma densa história de vingança
quando — tal como ocorreu com o marinheiro Edmond Dantès — transforma um
presidente de origem humilde, um homem que se fez a si mesmo lutando contra um
regime militar ditatorial, numa perfeita ilustração do revanchismo do Conde de
Monte Cristo?
A ética republicana deveria neutralizar o
passado a ser reparado pelos meios impessoais da Justiça. Mas, como somos todos
humanos, demasiadamente humanos, vemos um Luiz Inácio muito mais no papel de
pessoa ofendida que no cargo majestoso que, pela natureza, demanda grandeza,
jamais desforra.
A dura verdade, porém, é que a prisão lida
como desonra é muito mais forte que os ditames republicanos. O que a vingança
traz à tona é a presença de uma vítima injustiçada de uma operação policial
mentirosa. Agora, porém, eleito pela terceira vez como presidente da República,
ele confrontará, implacável, o carrasco.
A índole vingativa exibe a obrigação de
retribuir a ofensa. Vingar, como ocorreu com Monte Cristo, faz o vingador
encarnar a vingança, como mostrei em meu “Carnavais, malandros e heróis”.
Agora, Lula faz parte da mitologia dos Malasartes como agente de uma
reciprocidade negativa tão bem estudada na tese de doutorado de Marcos Milner.
Em resumo, Lula, como vingador, é uma
demonstração cabal do velho dito:
— Quem foi rei nunca perde a majestade.
Conciliar isso com nossos projetos
democráticos igualitários — enfrentando também a regra de ouro do “você sabe
com quem está falando?” debaixo do espectro do bolsonarismo — não é fácil...
Não nos esqueçamos que Dantés tem o mesmo nome do pretenso assassino de Púshkin. Os dois teriam travado um duelo falso, para permitir a Púshkin fugir para Paris. Em compensação, Dantés ficaria com a mulher (Natália) de Púshkin, que, aliás, já era sua amante ... Há uma lenda urbana que assevera que quem escreveu o Conde de Monte Cristo teria sido Púshkin e não Dumas. Os dois se chamavam Alexandre e tinham caligrafia idêntica. E Dumas escreveu uma obra em que demonstrava conhecer perfeitamente o russo e a Rússia, incluindo sos amigos de Púshkin. "Fake News"?
ResponderExcluirO espírito vingativo de Lula não contribui pra melhorar a vida do povo e nem beneficia o seu governo.
ResponderExcluirPessoas de Escorpião são vingativas por natureza. Se colocá-lo num vidro cheio de álcool ele lhe dará um olhar tremendo antes de cometer suicidio, assim também e a cobra que o Lula disse ser, lembram-se?
ResponderExcluirDalton Dallagnol é antipânico e narcisista nunca me enganou .Quis tirar uma onda de experiente mas nunca passou de um exibicionista com o ego tamanho do balão espião chinês (3 ônibus). Deveria ter sido explodido, a época, assim teria livrado a todos de seu dispensável mau caratismo e embromação. Sempre que ele vem a minha memória sinto ânsia de vômito.
ResponderExcluirLula, como vingador, é tão ruim e parcial quanto Moro, como juiz. Lula não pode se igualar ao juiz corrupto no que ambos têm de pior. Lula é um político muito melhor que o politiqueiro Moro, e tem que se diferenciar como líder progressista e democrático, o que Moro e Dallagnol nunca foram e jamais serão.
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