quinta-feira, 16 de março de 2023

Ruy Castro - Tais militares, tais civis

Folha de S. Paulo

Eles não imaginavam que, sob Bolsonaro, teriam de aprender a ser como aqueles que desprezam

Civis não podem entrar de surpresa num quartel militar e sair pintando postes sem autorização —os militares são muito ciosos de seus postes. Civis não podem invadir as repartições dos quartéis e sair carimbando despachos ou assinando promoções de segundo sargentos a primeiro sargentos —os militares são muito específicos a respeito de despachos a serem carimbados e de quais segundo sargentos merecem passar a primeiro. E, claro, nenhum civil pode se candidatar a general e, mesmo que seja absurdamente aceito pela comunidade militar, continuar se dizendo civil, com os gozos e benesses dos civis.

Já o contrário é possível. Os militares têm o direito anual de rolar seus pesados tanques e canhões pelas ruas dos civis, sem ligar para o estrago do asfalto sob as rodas e lagartas. Os militares podem trabalhar como funcionários em repartições civis, abrir gavetas, escarafunchar fichários, cantar as secretárias e ainda serem pagos para isso. E, pior, um general pode subir em palanques eleitorais e continuar general com os privilégios dos generais —como o de ser julgado por seus pares, não pela Justiça civil, e sair assobiando no azul.

É verdade que, num regime democrático, um militar só fará tudo isso com o estímulo de um civil, geralmente o presidente da República. Foi o que tivemos com Bolsonaro. Os militares estavam quietos nas casernas, limitando-se a rosnar em surdina contra as bandalheiras civis, quando viram em Bolsonaro a resposta às suas preces. Para muitos, ali estava o homem que botaria ordem no país. E pularam no seu colo.

Só não imaginavam que, sob Bolsonaro, teriam de acobertar desmatadores, cobrar propinas por vacinas, praticar charlatanismos, arapongar desafetos do presidente, tumultuar as eleições, abrigar golpistas, exterminar indígenas, contrabandear joias etc. —o rol é vasto.

E, que nem os civis, aprender a mentir.

 

7 comentários:

  1. Ruy, os milicos são piores do que tudo isso. Afinal, como vc disse que eles "... viram em Bolsonaro a resposta às suas preces.", os milicos oram pra belzebu.

    Daí que "acobertar desmatadores, cobrar propinas por vacinas, praticar charlatanismos, arapongar desafetos do presidente, tumultuar as eleições, abrigar golpistas, exterminar indígenas, contrabandear joias, aprender a mentir etc." ERAM PEDIDOS COM FÉ NO TINHOSO.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pô, os milicos oraram e deus lhes respondeu com o envio do genocida?
      Nem o diabo 😈 faria melhor (ou pior).

      Excluir
  2. Us miliko sifu

    ResponderExcluir
  3. Nas escolas cívico-militares inventadas pelo GENOCIDA, os militares monitores podem ganhar, só de adicionais ao soldo mensal, valores maiores que os salários dos professores que realmente dão aulas e fazem esta escolas funcionar!
    A única novidade do DESgoverno Bolsonaro na área educacional foi incluir militares em algumas escolas e permitir que eles embolsassem legalmente valores que fazem falta a toda a Educação brasileira.
    Um ex-militar, Carlos Alberto Decotelli, iria substituir o saudoso Abraham Weintraub (que hoje fala mal e critica o miliciano fujão e muambeiro), mas havia falsificado sua dissertação de mestrado e forjado um título de doutor que ele não possuía, apesar de se considerar com pós-doutorado. O sujeito era tão mentiroso quanto o criminoso que estava na Presidência e hoje está escondido nos EUA.

    ResponderExcluir
  4. As preces dos militares foram atendidas com a chegada do (falso) messias...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. De fato o estrago na reputação de nossas FFAA foi imenso, levará décadas para esta nódoa seja esquecida, se é que será.

      Excluir
  5. Os militares se sujaram todo.

    ResponderExcluir