quarta-feira, 8 de março de 2023

Vinicius Torres Freire – Pessimismo para de aumentar

Folha de S. Paulo

Projeção de carestia fica estável, em nível ruim; juros podem cair antes do fim de 23

As expectativas de inflação pararam de aumentar desde o terço final de fevereiro. As projeções para 2023 e para 2024 estacionaram em um nível alto. Inflação de 5,8% nos próximos 12 meses ainda é de lascar. Pode haver reviravolta nas estimativas em dias ou mesmo horas, mas faz uma quinzena, por aí, o pessimismo parou de aumentar.

Houve ainda um alívio minúsculo nas taxas de juros de curto prazo, um ano ou menos (as taxas de prazos maiores estão em níveis horríveis). Enfim, economistas e administradores de dinheiro grosso de "o mercado" não subscreveram até agora a sugestão do Banco Central de que a Selic deva permanecer na estratosfera dos 13,75% até o Ano Novo. Para a turma, a Selic começa a baixar no começo de novembro ou até em setembro. Há riscos, domésticos e externos —uma inflação mais resistente no mundo rico pode azedar a situação.

É uma trégua em batalha muito sangrenta. Essas projeções se devem em parte ao fato de que a economia desacelera. É uma situação parecida com a de tirar um dia de folga por causa de uma gripe ruim.

Esse alívio relativo é uma oportunidade para o governo tentar virar o jogo, depois de fazer tantos gols contra desde mesmo antes de tomar posse, a partir de novembro.

O "mercado" não comprou a ideia de que a Selic, a taxa básica da economia, deva permanecer em 13,75% até o final do ano. Na mediana das estimativas, a Selic termina 2023 em 12,75% ao ano. Para economistas do Itaú, em 12,5%. Para aqueles do Bradesco, em 12,25%.

Não é melhora em relação a situação do começo de novembro. Foi quando Luiz Inácio Lula da Silva passou a dar caneladas na ideia de controle do aumento de gasto e no BC.

Então, a expectativa de inflação de "o mercado" era menor e se esperava que a Selic terminasse 2023 em 11,25%. Para o final de 2024, a projeção era de 8%, já em nível que estimularia o crescimento em 2025, tudo mais constante

Parece também haver alguma fé (sic) em Fernando Haddad. Isto é, a esperança de que o ministro da Fazenda contenha ímpetos de retomada das ideias de Dilma 1. O plano de contenção da dívida que Haddad promete apresentar neste mês pode contribuir para o alívio do arrocho monetário (que não depende apenas do BC, mas da disposição dos donos do dinheiro de emprestar e de manter seus recursos em reais).

Por outro lado, a refrega no governo petista ainda é intensa, em particular entre Gleisi Hoffmann, presidente do PT e grilo falante de Lula, e a Fazenda.

Por exemplo, como noticiou esta Folha, o BNDES tem um plano de voltar a emprestar a taxas subsidiadas (menores que as de mercado), embora o projeto atual seja bem diferente da festa de dinheiro para empresonas de Dilma 1.

Não se sabe quando haverá empréstimo subsidiado, nem quanto, o que teria algum impacto (negativo) nas taxas de juros do mercado. Levaria um tempo para o efeito prático aparecer. Porém, o ambiente financeiro fica mais azedo com essas aparições dos suspeitos de sempre (impostos ruins, como o de exportação, intervenções desmedidas em preços, como na Petrobras, em juros, como no BNDES etc.).

Não é tão fácil descartar a ideia de empréstimos subsidiados, como o fazem economistas padrão, convencionais ou caricatamente ortodoxos. Porém, a economia brasileira é tão cheia de distorções, tributárias e regulatórias, que é difícil determinar quando um subsídio vale a pena. Além do mais, deixar a decisão de subsidiar apenas na mão do governo aumenta o risco de dar besteira.

É possível imaginar políticas alternativas, de modo comedido, pois se lida com um paciente em estado crítico —a economia deste país. No curto prazo, continua sendo mais importante estabilizar o doente e melhorar suas reações.

 

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