Folha de S. Paulo
Sistema proporcional de lista aberta é
barreira para ampliação
Precisamos de mais mulheres
no Parlamento? Minha resposta é "depende". Não teria nada
contra um Legislativo mais feminino e, no último pleito, meus votos foram para
duas deputadas. Mas acho importante destacar que a posse de dois cromossomos X
não é garantia de qualidade. Um Congresso coalhado de Damares e Michelles,
por exemplo, embora inegavelmente feminino, seria pior que o atual, pois nos
aproximaria de uma teocracia, o que, para mim, é um dos piores mundos
possíveis.
Nem sempre concordo com Platão, mas ele tinha razão ao afirmar que as diferenças entre os sexos não são muito relevantes, especialmente na política (e ele disse isso para justificar que mulheres tivessem em sua República acesso aos mesmos cargos de comando que os homens, posicionamento incomum no patriarcado do século 4° a.C.).
Não escrevo, porém, para enaltecer o
"protofeminismo" (com muitas aspas) de Platão, mas para discutir o
que, a meu ver, é uma das barreiras à ampliação da representação
feminina nas câmaras e assembleias no Brasil: o sistema
proporcional de lista aberta.
Na maioria dos países que se valem do
sistema proporcional, o eleitor vota numa lista fechada e preordenada de
candidatos, elaborada pelo próprio partido. A soma dos votos define quantas
cadeiras cada agremiação conquistará. No Brasil, o eleitor tem muito mais
poder. Ele não só determina, pela legenda escolhida, quantos deputados cada
partido fará mas também ordena, pelo voto nominal, o lugar de cada candidato na
lista.
Se adotássemos a lista fechada, corrigir a
sub-representação feminina seria simples. Bastaria estabelecer que as listas
alternem nomes femininos e masculinos. Em uma eleição chegaríamos aos 50%. Mas
a opção do nosso constituinte foi por dar poder total ao eleitor. É uma escolha
legítima, mas que vem com uma série de efeitos colaterais, alguns positivos,
outros negativos. Democracia é complicada mesmo.
Pois é...
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