terça-feira, 11 de abril de 2023

Andrea Jubé - Bahia é pauta de Lula na visita à China

Valor Econômico

Lula terá bilaterais com quatro CEOs em Pequim

Além dos contatos para atrair mais investidores para o Estado, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), desembarcou há 11 dias na China também com a missão de preparar o terreno das reuniões bilaterais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com empresários em Pequim. Lula anunciará novos investimentos chineses no país na sexta-feira (14), ao lado do presidente Xi Jinping.

A Bahia será um dos Estados contemplados pelos investimentos - atualmente, é uma das três unidades da federação com mais aportes de recursos chineses, depois de São Paulo e de Minas Gerais.

São esperados os anúncios de início das obras da ponte ligando Salvador à Ilha de Itaparica e de um termo de compromisso com a Build Your Dreams (BYD), fabricante de carros e ônibus elétricos, que pretende se instalar na antiga fábrica da Ford no complexo de Camaçari (BA). O governo da Bahia media as negociações, mas BYD e Ford ainda não chegaram a um acordo quanto ao valor da transação.

Além de contratos milionários na área do agronegócio, outro anúncio esperado é a venda de 20 aviões modelo E195-E2, jatos de médio porte da Embraer. Não há confirmação, entretanto, da assinatura do contrato. O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, faltou a uma agenda com Lula nessa segunda-feira e não é certo que ele retornará à China para integrar a comitiva presidencial.

Com 12,4 quilômetros, a ponte Salvador-Itaparica é uma das maiores obras no formato de parceria público-privada (PPP) e é sempre citada como referência pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, que vai coordenar o “novo Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC)”, que será anunciado no fim do mês.

Em conversa com a coluna, o governador baiano afirmou que é alta a expectativa de autoridades e empresários chineses com a chegada de Lula, após o fim do governo Jair Bolsonaro, quando a relação do Brasil com o país asiático foi de turbulência. Bolsonaro referia-se ao vírus da covid-19 como “vírus chinês”.

 

Desde que aterrissou na China, Jerônimo fez um périplo pelas cidades estratégicas para negócios no país, passando por Shenzhen, Guangzhou, Shanghai e Pequim.

Jerônimo ressaltou que a Bahia é atraente para os chineses, pela geografia (tem portos e aeroportos) e porque os projetos têm continuidade, segundo ele, porque o mesmo grupo governa o Estado há 16 anos. “[Jaques] Wagner e Rui [Costa] fizeram várias viagens à China”, lembrou, citando os ex-governadores do PT.

No Estado, Jerônimo disse que uma das prioridades com os chineses é o início das obras da ponte de Itaparica, que estão com atraso de mais de dois anos porque foram paralisadas na pandemia.

Com investimentos estimados de R$ 7,6 bilhões, a obra foi arrematada pelo consórcio chinês formado pela China Railway 20th Bureau Group Corporation (CRCC20) e China Communications Construction Company (CCCC), que venceu a licitação em 2019. Eles teriam um ano para elaborar o projeto de execução e mais quatro anos para entregar a obra.

Segundo Jerônimo, neste ano as empresas devem executar a dragagem da área de acesso ao porto de Salvador, e devem concluir a ponte em até quatro anos. O governador já se reuniu com executivos da CRCC20, e deve acompanhar Lula em agenda prevista com o CEO da China Communications Construction Company (CCCC), Wang Tongzhou. Lula também terá bilaterais com os executivos da BYD, Wang Chuanfu; da Huaweii, Ren Zhengfei; e da State Grid (SG), Zhang Zhigang. A Huaweii também tem negócios na Bahia na área de inteligência e conectividade.

Com o grupo BYD, Jerônimo trabalha para que a fabricante de carros e ônibus elétricos, bicicletas e baterias, instale-se no local onde funcionava a fábrica da Ford no complexo de Camaçari. A BYD, por meio de um braço da empresa, a Skyrail, também conduz a obra do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que vai substituir os antigos trens do Subúrbio Ferroviário de Salvador. A obra começou orçada em R$ 1,5 bilhão em 2019, e subiu para R$ 5,2 bilhões na fase 2.

A participação de carros elétricos no Brasil é baixa, de 3,37% no primeiro trimestre, mas viu um aumento de 50% nas vendas no mesmo período. Para atrair a BYD, o governo da Bahia prometeu incentivos fiscais, segundo Jerônimo, e pretende ampliar a frota de ônibus elétricos. São 20 coletivos urbanos elétricos rodando há quase um ano em Salvador, e Jerônimo cogita lançar editais para a compra de ônibus elétricos para o transporte escolar, e não descarta que esse projeto seja ampliado ao plano nacional.

No evento da Apex Brasil no dia 29 de março, o diretor de operações da BYD para a América Latina Li Tie elogiou iniciativa da SPTrans, que proibiu a aquisição de ônibus zero quilômetro movidos a combustível fóssil.

Nos bastidores, executivos chineses têm reclamado da dificuldade de realizar projetos no Brasil por causa da complexidade do sistema tributário e das leis trabalhistas. Chineses não folgam mais do que uma ou duas vezes ao mês, enquanto brasileiros têm jornadas de segunda a sexta-feira.

Ao Valor, o CEO da Huaweii no Brasil, Sun Baocheng, em entrevista publicada ontem, disse que as leis tributárias e insegurança jurídica dificultam a vinda de mais empresas ao país, e cobrou a votação da reforma tributária.

No discurso sobre o marco de 100 dias do governo, Lula afirmou que é preciso trazer o Brasil “de volta à civilidade”, e citou o hábito de que os brasileiros dão “bom dia” para a outra pessoa no elevador, mesmo que não se conheçam. Lamentou que isso esteja se perdendo para o clima de ódio. “Se um aperta o 2º, e o outro o 3º, já são inimigos”.

Em sintonia com Lula, Sun Baocheng usou o exemplo do elevador para elogiar o calor humano dos brasileiros na entrevista ao Valor. Ele mora no Brasil há nove anos, e disse que no começo, estranhou a troca de cumprimentos no elevador, porque os chineses não falam com estranhos. Há expectativa na comitiva de Lula de que um caldo de empatia reforce os ingredientes para a atração de mais dinheiro chinês.

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