O CC do Partido Comunista Brasileiro se reuniu no corrente mês de
maio e, tomando por base o informe apresentado pela CE, fez uma análise da
situação internacional, da situação nacional e da atividade do Partido, no
período decorrido desde sua ultima reunião.
Assinala-se nesse período, com o acontecimento marcante, o golpe
militar reacionário de 1 de abril do ano passado, com a conseqüente deposição
do presidente João Goulart e a instauração, no País, de uma ditadura
reacionária e entreguista. Interrompeu-se assim, o processo
democrático em desenvolvimento. As forças patrióticas e democráticas
e, em particular, o movimento operário e sua vanguarda – nosso Partido - sofreram
sério revés. Modificou-se profundamente a situação política
nacional.
As conclusões a que chegou o CC, após os debates, estão contidas
na seguinte resolução:
As lutas do povo brasileiro desenvolvem-se num quadro de uma
situação internacional caracterizada pelo fortalecimento das posições do
socialismo, pelo Ascenso do movimento nacional-libertador e do movimento
operário internacional, pelo crescimento das forças empenhadas na preservação e
consolidação da paz mundial.
A política de paz realizada pela União Soviética e demais países
socialistas, apoiada em seu avanço econômico, técnico e científico e inspirada
no princípio da coexistência pacífica, penetra cada vez mais fundo na
consciência de todos os povos. Desenvolve-se com vigor o movimento
de emancipação nacional da Ásia, África e América Latina.
A conjuntura econômica dos países capitalistas mais desenvolvidos
mantém-se, em geral, em ascenso. Aumenta o interesse, no campo capitalista,
pela intensificação das relações econômicas com os países do campo socialista,
o que amplia as condições objetivas da política de coexistência
pacífica. Mas, simultaneamente, e em conseqüência também do
continuado agravamento da crise geral do capitalismo, aguçam-se as contradições
interimperialistas, que se manifestam especialmente na disputa de mercado e se
refletem, com maior destaque, em posições assumidas pelo governo francês em sua
política externa.
É nessa situação que o imperialismo, particularmente o norte-americano, intensifica suas atividades em diferentes regiões do mundo, empreendendo atos de agressão contra os povos que lutam pela libertação nacional. A situação internacional se agrava sensivelmente.
A intervenção no Congo por parte das forças ianques e belgas; a
repressão da ditadura portuguesa às lutas do povo de Angola; a intervenção da
Grã-Bretanha na Guiana Inglesa; as provocações da República Federal Alemã em
torno de Berlim e a tentativa de organizar a Força Atômica Multilateral e criar
um cinturão atômico nas fronteiras dos países socialistas – todas essas medidas
constituem não apenas violações dos direitos dos povos, mas também novas
ameaças à paz mundial.
Ante a firme resistência do povo do
Vietnã do Sul, dirigido pela Frente Nacional de Libertação (Vietmin), o governo
de Washington estende a sua agressão ao Laos e ao Camboja, bombardeia o
território da República Democrática do Vietnã (Vietnã do Norte), ataca sua
marinha mercante e de guerra. Para sufocar a luta do povo dominicano contra a
reação e para defender os interesses dos monopólios ianques, desembarca tropas
na República de São Domingos, utilizando a OEA para dar cobertura a essa
monstruosa agressão.
A intensificação da agressividade do imperialismo norte americano
expressa a orientação da chamada “doutrina Johnson” de esmagamento pela força
dos movimentos democráticos e de libertação nacional. E tem também o
objetivo de provocar guerras locais e limitadas, para impedir a distensão
internacional, atendendo aos interesses dos círculos mais agressivos de Wall
Stret e do Pentágono. Tais ações despertam, entretanto, os protestos
e a revolta dos povos do mundo inteiro, inclusive do povo dos Estados
Unidos. Contribuindo, assim, de um lado, para sério agravamento da
situação internacional, concorrem de outro lado, para desmascarar cada vez mais
o imperialismo norte-americano como opressor e explorador dos povos, como
inimigo da paz, despertando novas forças para a luta em defesa dos povos
oprimidos e contra as ameaças de nova guerra mundial.
Na América Latina, torna-se cada vez mais evidente o contraste
entre a situação do povo cubano que, sob a direção de Fidel Castro, prossegue
na construção vitoriosa da sociedade socialista, e a dos demais povos
latino-americanos, que padecem sob a crescente exploração dos monopólios
ianques. Aumenta a miséria das massas trabalhadoras, aguça-se a crise de
estrutura e crescem as contradições entre as forças progressistas de cada país
e os monopólios norte-americanos. Em alguns países como Venezuela, Colômbia,
Guatemala e São Domingos, as lutas antiimperialistas tomam a forma de luta
armada. Os Estados Unidos, prosseguindo, embora, na política da “Aliança para o
Progresso”, que visa em parte à realização de reformas limitadas em benefício
das burguesias locais, não vacilam em intervir diretamente pela força, ou
provocar golpes reacionários e apoiar governos ditatoriais, para assegurar e
consolidar seu domínio espoliador. De março de 1962 para cá em sete países –
Argentina, Peru, Guatemala, Equador, São Domingos, Honduras e Bolívia - além do
Brasil, foram dados golpes de Estado, sob a orientação e com apoio do governo
de Washington.
Nada disso impede, entretanto, que os povos da América Latina
continuem avançando no caminho da democracia e da emancipação
nacional. Na Argentina, os comunistas reconquistaram o direito de
organizar-se e propagar suas idéias. O governo do Chile estabeleceu
relações diplomáticas com a União Soviética e outros países
socialistas. O México mantém relações com Cuba, apesar da resolução
em contrário da OEA. Entre as amplas massas, cresce o ódio ao imperialismo
ianque e a determinação de lutar contra a reação interna. Na medida em que se
unam e lutem, na medida em que fortaleçam sua solidariedade e sua ação conjunta
contra o inimigo comum, os povos latino americanos serão tão invencíveis como o
heróico povo irmão de Cuba, glória e exemplo para toda a América Latina.
No Brasil, com de 1 de abril, assenhorearam-se do poder os
representantes das forças mais retrógradas e antinacionais: agentes do
imperialismo norte-americano, latifúndios e grandes capitalistas ligados aos
monopólios ianques. Constituiu-se uma ditadura militar, reacionária
e entreguista, sendo o governo de fato exercido por um grupo de generais a
serviço da Embaixada dos Estados Unidos.
A submissão do país aos interesses dos monopólios norte-americanos
assume proporções jamais vistas. Foi praticamente abolida a lei que limitava a
remessa de lucros para o exterior. Realizou-se a negociata da compra do acervo
da Bond and Share. Duplicou-se o montante do “Acordo do Trigo” com os Estados
Unidos. Facilita-se a importação de produtos agrícolas norte-americanos.
Adotou-se uma política de minérios de acordo com as exigências da Hanna Mining
Co. Foi assinado o “Acordo sobre Garantias de Investimentos Privados”, que
concede privilégios aos interesses norte-americanos e constitui sério atentado
à soberania nacional. Missão militar ianque faz o levantamento
aerofotogramétrico de nosso território. A política econômica e
financeira é ditada pelo FMI.
A ditadura leva à prática uma política de inteira dependência ao
governo dos Estados Unidos. Rompe relações com Cuba. Serve de instrumento e
porta voz do Departamento de Estado na OEA. Toma posições contra os povos que
lutam contra o imperialismo na Ásia e na África. Apóia a tirania de
Salazar. Solidariza-se com a agressão ianque à República Democrática do Vietnã
e com o brutal atentado à soberania do povo de São
Domingos. Permite, sob o pretexto da realização de experiências
científicas, a construção de base para foguetes e armas nucleares em território
nacional.
Após as violências e arbitrariedades resultantes da aplicação do
Ato Institucional, inclusive a mutilação do Congresso Nacional e de Assembléias
Estaduais, prosseguem os inquéritos policiais-militares, com o objetivo de
perseguir, prender e torturar milhares de cidadãos, desde trabalhadores e
jovens estudantes até professores, magistrados, escritores, artistas,
jornalistas, militares, padres católicos, parlamentares, pessoas, enfim, de
todas as classes e camadas sociais. Sindicatos de trabalhadores continuam sob
intervenção. É aprovada uma lei contra o direito de greve. Impede-se o livre
funcionamento da Une e demais entidades estudantis.
Maiores sofrimentos e privações são impostos aos trabalhadores e a
todo o povo. Elevam-se os impostos indiretos. Libera-se o preço dos produtos
essenciais a alimentação popular. Nova lei do inquilinato determina a majoração
dos aluguéis. Enquanto a carestia aumenta sem cessar, o reajustamento dos
salários dos operários e dos vencimentos do funcionalismo público é contido em
nível inferior ao da elevação dos preços. O salário mínimo subiu em apenas 57%,
num período em que o custo de vida se elevou em mais de 90%. Aumenta
o desemprego.
A política econômico financeira da ditadura também atinge os
interesses da burguesia nacional, cada dia mais ameaçada pela concorrência
imperialista. Reduzem-se as atividades comerciais e industriais. Acumulam-se os
estoques nas fábricas. Cai a produção. As concordatas e falências aumentam em
número e valor. Acentua-se o processo de desnacionalização da indústria
brasileira.
A política da ditadura torna mais aguda as contradições que
dividem a sociedade brasileira. Acentua-se a premência das reformas de
estrutura.
Numa tentativa de ludibriar a Nação, a ditadura se mascara de
reformista e chega a apresentar-se como revolucionária. Procura
impingir como reforma agrária um “Estatuto da Terra” que, com exceção dos
dispositivos limitadores da taxa de arrendamento – aliás, de difícil aplicação
– não passa de um plano de colonização. Sua “reforma política”
possui conteúdo nitidamente reacionário. Os projetos da Lei Eleitoral e de
Estatuto dos Partidos Políticos visam de fato reduzir o número e impedir a
organização de partidos políticos, transformam os partidos em organizações
burocráticas subordinadas ao aparelho de Estado, ameaçam a representação
proporcional, tornam praticamente impossível a representação das minorias. A
exigência de maioria absoluta nas eleições para presidente da República e
governadores de Estado golpeia o voto popular direto, transferindo para o
Congresso e as Assembléias estaduais a escolha final dos eleitos.
Os interesses nacionais exigem a concretização de reformas
efetivas na estrutura da sociedade brasileira que golpeiem o domínio do
imperialismo sobre nossa economia e o domínio da propriedade da terra pelos
latifundiários. A ditadura, que representa exatamente os interesses do
latifúndio e dos monopólios imperialistas norte-americanos, não realizará essas
reformas.
A política da ditadura fere os interesses da Nação. Aprofunda-se a
contradição entre nosso povo e a minoria reacionária e entreguista que assaltou
o poder. Essa contradição constitui, no momento, a expressão peculiar da
contradição principal da sociedade brasileira, define a essência de todos os
conflitos políticos, sobre eles atuando como fator determinante.
Começam a se ampliar e aprofundar as manifestações de resistência
à ditadura e de oposição à sua política reacionária e entreguista.
Lutam os trabalhadores chegando a utilizar a arma da greve, em
defesa de direitos conquistados e contra a redução de salários. Reativa-se no
campo, embora lentamente, o movimento de sindicalização surge choques com os
grileiros e as forças policiais, conflitos entre os assalariados do açúcar e os
usineiros do Nordeste. Os estudantes se insurgem contra a lei 4464, em defesa
da autonomia do movimento estudantil, na UNE, e das suas demais
entidades. Os intelectuais se arregimentam contra o terror cultural
e para exigir a restauração das liberdades democráticas e a retomada do
desenvolvimento econômico do País. Amplos setores da burguesia
nacional, principalmente através de entidades como a Confederação Nacional da
Indústria, exigem modificações nos pontos básicos da política econômica e
financeira, denunciam a desnacionalização da nossa indústria. Avoluma-se o
repúdio da opinião pública às violências e arbitrariedades da polícia e dos
encarregados dos inquéritos policiais-militares. Há manifestações do poder judiciário
de condenação à essas violências e arbitrariedades, presos políticos são
libertados. Partidos e correntes políticas se unem em torno da exigência de
restabelecimento das liberdades democráticas e de realização de eleições
livres.
Amplos setores sociais, que manifestaram apoio ou simpatia ao
golpe, sentem-se ludibriados e prejudicados pela
política reacionária e entreguista da ditadura, tendem a unir-se aos
que a ela se opõem. Modifica-se, a favor das forças democráticas e patrióticas,
a conjuntura que, em abril de 1964, favoreceu a reação e possibilitou a vitória
dos golpistas. Estreita-se a base social da ditadura.
Essa situação leva ao aguçamento das contradições entre os
golpistas e a instabilidade do governo. Insiste o Sr Castelo Branco em suas
medidas de institucionalização da ditadura, procurando oculta-la através da
fachada da “democracia representativa”. Mas persiste a pressão dos grupos da
extrema direita no sentido da suspensão total dos direitos e garantias
constitucionais, pela instauração de uma ditadura sem máscara. Apoiando embora,
no essencial, a orientação reacionária e entreguista da ditadura, outros
setores golpistas assumem posição de crítica à sua política
econômico-financeira, procurando assim, capitalizar em seu benefício, para fins
eleitorais o crescente descontentamento popular.
A intensificação da resistência e oposição de nosso povo à
ditadura levará a que a sua instabilidade aumente, aprofundará a divisão entre
os golpistas. Crises de governo e novos golpes militares podem ocorrer. Nesse
caso, só a intervenção ativa das massas nos acontecimentos, levantando suas
próprias bandeiras de luta, poderá impedir uma solução reacionária, com a
simples substituição de golpistas no poder, e impor a retomada do processo
democrático.
Desde o início, os comunistas se colocaram em posição e combate à
ditadura. Através de entendimentos com partidos, correntes políticas e com
personalidades, e, principalmente, através de nossas ações entre as massas,
temos procurado participar ativamente do agrupamento das forças que contra ela
lutam. Os fatos comprovam que este é o caminho acertado.
O objetivo tático imediato a alcançar, nessa luta, é isolar e
derrotar a ditadura e conquistar um governo amplamente representativo das
forças antiditatoriais, que assegure as liberdades para o povo e garanta a
retomada do processo democrático interrompido pelo golpe reacionário e
entreguista. Os comunistas se empenham no sentido de que tal governo
seja o mais avançado possível, mas compreendem que a sua composição não poderá
deixar de refletir o nível alcançado pelo movimento de massas e a correlação de
forças existente no momento em que se constituir.
O êxito dessa luta dependerá fundamentalmente da unidade de ação
de todas as forças, correntes e setores políticos que se opõem à ditadura. A
formação dessa ampla frente de resistência, oposição e combate à ditadura será
possível através da luta pelas liberdades democráticas, em defesa da soberania
nacional, pelos direitos e interesses imediatos dos trabalhadores e do povo,
pelo desenvolvimento de nossa economia, pelo progresso do País. A defesa das
liberdades democráticas constitui o elo principal dessa luta. Inseparável de
todas as demais reivindicações constitui, por isso mesmo, a mais ampla e mobilizadora,
capaz de unificar e canalizar todos os movimentos reivindicatórios para a ampla
frente de combate à ditadura.
Nas circunstâncias atuais, a luta por eleições livres e nossa
participação ativa em todas as campanhas eleitorais se revestem de enorme
importância para fazer avançar as lutas pelas liberdades democráticas e pela
conquista de um novo governo. Com essa compreensão é que devemos
participar das eleições estaduais deste ano, das eleições estaduais e federais
de 1966, além das que se realizam nos municípios. Particular importância possui
os pleitos eleitorais em Estados como Guanabara, Minas Gerais, Goiás e Paraná,
bem como as eleições municipais de Porto Alegre.
Ao participar ativamente das campanhas eleitorais, devem os
comunistas ter em vista que elas se tornem, no processo de sua realização, um
meio para aglutinar forças contra a ditadura, desmascará-la diante das massas,
conquistar postos que sirvam para combatê-la e, afinal, derrotá-la. É,
portanto, do interesse do proletariado e demais forças contrárias à ditadura
lutar por eleições efetivamente livres, exigir a livre manifestação de todas as
correntes políticas de oposição e o exercício do direito de propaganda sem
censura, bem como lutar contra todas as discriminações políticas e ideológicas,
oriundas do Ato Institucional ou de novas leis sobre incompatibilidades ou
inelegibilidades, por maio das quais pretenda a ditadura riscar
arbitrariamente, da lista de possíveis candidatos, todos os cidadãos que não
mereçam sua confiança.
Os comunistas devem lançar-se com decisão e entusiasmo à campanha
eleitoral do Estado e do município em que atuem, e cogitar, do desde logo do
pleito de 1966, para o qual já se movimentam as várias correntes
políticas. Devem ser o elemento unificador por excelência, capaz de
encontrar, em cada caso concreto, a melhor maneira de unir as mais amplas
forças contrárias à ditadura em torno de plataformas unitárias e de candidatos
que mereçam a confiança popular.
É essencial dar à campanha eleitoral um caráter de massas, de luta
firme pelas liberdades democráticas, de maneira a não permitir à ditadura
utilizar-se das eleições para “legalizar” o poder usurpado. Nos casos em que
este objetivo se tornar praticamente inviável, podem as forças de oposição à
ditadura adotar o voto em branco, como meio de protesto contra a transformação
do pleito numa farsa destinada a acobertar com uma espúria “legalidade” o
governo do golpe de 1 de abril.
É fazendo da campanha eleitoral uma campanha de massas que será
possível assegurar a realização de eleições livres e a posse dos eleitos e
criar condições políticas para que possam governar.
No desenvolvimento da luta contra a ditadura, devemos utilizar as
mais variadas formas. Cabe aos comunistas saber estimular a iniciativa das
massas e encorajar a luta por todos os caminhos que favoreçam a retomada do
processo democrático. Para tanto, devem ser utilizadas todas possibilidades
legais, sem que isso se reduza à “legalidade” concedida pela ditadura. As
massas devem ser estimuladas a não aceitar
as restrições da ditadura aos seus direitos de reunião, de greve,
de manifestação pública, de propaganda, etc. O ascenso das lutas poderá levar a
choques violentos com a reação, inclusive a choques armados. É dever do Partido
preparar-se e preparar as massas para tais eventualidades.
O esforço principal dos comunistas deve intensificar-se na
intensificação do trabalho entre as massas, na defesa do fortalecimento de suas
organizações, na organização e desencadeamento das lutas pelos seus direitos e
reivindicações.
Seja qual for a forma que a luta contra a ditadura venha a
assumir, a ação das massas constituirá sempre u7m fator decisivo, capaz de
assegurar o avanço do processo político de acordo com os interesses do povo. É
através da ação que o povo ganhará confiança em suas próprias forças. Através
da ação é sempre possível alcançar êxitos parciais, por pior que seja a reação,
êxitos que ajudarão a encorajar as próprias massas a reforçar suas
organizações, estreitar sua unidade e avançar para ações cada vez mais
vigorosas. É deve dos comunistas saber colocar-se no nível de compreensão das
massas, para levá-las à ação e ganhá-las para as posições políticas de
vanguarda.
A passividade frente à ditadura é o grande perigo que ameaça as
forças populares e o nosso Partido. É nosso dever combatê-la, tendo em vista
que decorre tanto da superestimação das forças dos golpistas, como das ilusões
de que a ditadura caia por si mesma, minada pelas contradições que a dividem. È
necessário compreender que nossa intervenção em qualquer crise de governo só
poderá ter resultado positivo na medida em que formos capazes de mobilizar
massas. Isso significa que devemos ser vigilantes, saber acompanhar os
acontecimentos, mas que o mais importante, o premente, o decisivo é o nosso
trabalho de massas, nosso esforço constante para nos ligarmos às massas,
esclarecê-las, despertá-las, mobilizá-las para a ação, organizá-las e uni-las.
A fim de ganhar as massas para a ação, é indispensável saber
levantar as reivindicações mais sentidas de cada setor da população. Devemos
intensificar as lutas pela revogação do Ato Institucional, a anulação aos
atentados aos direitos individuais resultantes de sua aplicação, pela
libertação dos presos políticos, pela solidariedade aos perseguidos e suas
famílias, pela anistia geral, pela liberdade e autonomia para os sindicatos de
trabalhadores, entidades estudantis e demais organizações populares; contra o
terror cultural, pela liberdade de cátedra.
Outro elemento mobilizador de massas é a luta contra a política econômico-financeira
da ditadura, política de carestia, de elevação de impostos, de desvalorização
forçada do cruzeiro em relação ao dólar, de redução do salário real. Devemos
ter a maior iniciativa junto a outras forças e lutar por melhores condições de vida
para os trabalhadores, contra a carestia e o desemprego, em defesa dos direitos
conquistados, a legislação do trabalho e da previdência social. Participar de
forma ativa e unitária das eleições sindicais e procurando, ao mesmo tempo,
organizar os trabalhadores nos locais de trabalho.
Importância particular tem as lutas das grandes massas
trabalhadoras do campo contra a exploração do latifúndio e pela reforma
agrária, por suas conquistas e reivindicações imediatas, especialmente pela
aplicação do Estatuto do Trabalhador Rural, garantia ao acesso e à posse da
terra, regulamentação e baixa da taxa de arrendamento.
Devemos dar maior atenção às reivindicações específicas das
mulheres. É de grande valor sua participação na luta em defesa da paz, contra a
carestia, pelas liberdades democráticas, pela solidariedade aos presos e
perseguidos políticos, pela anistia.
Merece todo apoio a luta do funcionalismo público e autárquico em
defesa dos seus direitos e reivindicações, em especial o reajustamento de
vencimentos.
A política entreguista da ditadura fere os sentimentos patrióticos
das mais amplas camadas do nosso povo, que poderá ser mobilizado para a luta em
defesa da soberania nacional, contra as concessões aos monopólios norte
–americanos e à submissão do Brasil ao governo de Washington, contra
ratificação pelo Congresso do Acordo sobre Garantia dos Investimentos
Privados. As sérias ameaças que pesam sobre as empresas estatais, em
particular a Petrobrás, possibilitam ampla mobilização de massas em sua defesa.
A luta pelo progresso do País, contra a política
econômico-financeira que desnacionaliza a indústria nacional, que leva à
estagnação econômica, que nega recursos às obras públicas, ao desenvolvimento
econômico do Nordeste (SUDENE) e do Norte (SPEVEA), à instrução do povo e ao
desenvolvimento cultural, à pesquisa científica – permitirá a mobilização de
amplos setores da população.
Por sua vez, a agressão militar dos Estados Unidos no Vietnam e,
agora à República de São Domingos exige que se intensifique a luta pela paz,
contra a política de guerra do governo norte-americano, pela autodeterminação
dos povos, pela solidariedade aos povos agredidos, contra o envio de soldados
brasileiros para o exterior. É dever dos comunistas encontrar formas novas que
permitam na atual situação reorganizar e ampliar a luta pela paz em nosso País.
A luta permanente pela solidariedade ao povo cubano e pelo restabelecimento com
o governo de Cuba deve ser intensificada com a realização do Congresso
Latino-Americano de Solidariedade à Cuba e pela libertação dos povos.
E intensificando nossa atividade entre as massas, nas fábricas,
fazendas e escolas, nas grandes concentrações populares, que poderemos forjar a
ampla frente única de luta contra a ditadura. Dando especial atenção
à formação da frente única pela base, devemos realizar entendimentos com
personalidades, correntes e partidos políticos, com todos os que se opõem às
forças reacionárias que usurpam o poder.
À medida que aumenta a instabilidade da ditadura, que cresce a
ação das massas populares, as várias forças políticas, na defesa de seus
interesses, cuidam do futuro imediato e da eventualidade da substituição do
governo, procurando o caminho a ser trilhado de acordo com os objetivos de cada
um. Como representantes do proletariado, devemos apresentar nossa própria visão
tática, buscando ganhar para ela as forças aliadas.
Ao mesmo tempo em que intensificam a luta pela derrota da ditadura
e a conquista de um governo representativo das forças que a ela se opõem, têm
os comunistas como perspectivas a conquista de um governo nacionalista e
democrático, capaz de iniciar e levar adiante as reformas de estrutura,
aproximando nosso povo dos objetivos da atual etapa da revolução brasileira. É
com essa perspectiva que os comunistas se colocam à frente das massas,
indicando o caminho que conduz à solução dos problemas brasileiros e se empenhando
para que o proletariado, através do fortalecimento da sua unidade e organização
e da aliança com os trabalhadores do campo, passe a exercer papel hegemônico no
processo revolucionário.
Ao examinar a situação do Partido e os novos problemas que devemos
agora enfrentar, o CC coloca em primeiro lugar a necessidade de levar adiante e
aprofundar o processo autocrítico em que nos encontramos e que deve ser coroado
com a realização do VI Congresso.
O CC saúda a preocupação crítica e autocrítica que se manifestou
em todo o Partido em busca dos nossos erros e das causas que contribuíram para
o revés sofrido, preocupação em que vê saudável espírito revolucionário de amor
ao Partido e de ardente aspiração pela elevação do nível ideológico de suas
fileiras.
A fim de estimular esse processo autocrítico, damos conhecimento
ao Partido das principais conclusões a que pôde até agora chegar o CC, na
análise que fez dos acontecimentos relacionados com a vitória do golpe de 1 de
Abril, a respeito das falhas e erros da atividade dos comunistas.
A vitória do golpe militar pôs à descoberto muitas de nossas mais
sérias debilidades. Fomos colhidos de surpresa pelo desfecho dos acontecimentos
e despreparados não apenas para enfrentá-los, como também para prosseguir com
segurança e eficiência em nossa atividade nas novas condições criadas no País.
Revelou-se falsa a confiança depositada no “dispositivo militar” de Goulart.
Também falsa era a perspectiva, que então apresentávamos ao Partido e às
massas, de uma vitória fácil e imediata. Nossas ilusões de classe,
nosso reboquismo em relação ao setor da burguesia nacional que estava no Poder,
tornaram-se evidentes. Cabe-nos analisar o processo que nos levou à semelhante
situação.
Resultado de uma árdua batalha política e ideológica, a linha
aprovada pelo V Congresso constituiu-se em poderoso instrumento revolucionário
que permitiu ao Partido estreitar suas ligações com as massas e participar
ativamente da vida política, contribuindo de tal maneira para o avanço do
processo revolucionário que contra nosso Partido se levantaram raivosos os
inimigos da revolução. Mas, desde a posse de Goulart, que se deu como resultado
de um compromisso da burguesia nacional com as forças reacionárias, preocupados
em lutar contra a conciliação começamos a nos afastar da linha
política. Esse processo culminou nos últimos meses do governo
Goulart, quando de fato abandonamos a luta pela justa aplicação da linha.
Era sem dúvida indispensável combater com firmeza a política de
conciliação. Foi justa nossa posição contra o Plano Trienal e contra
a negociata de Bond and Share. E foi devido à luta contra a política de
conciliação que fracassaram as tentativas reacionárias de abril e outubro de
1963, quando Goulart pretendia, a pretexto de atacar a direita, tomar medidas
para conter o avanço do movimento popular. Conduzimos, entretanto, a luta
contra a conciliação de forma inadequada.
Nossa atividade em relação ao governo de Goulart era orientada, na
prática, como se sua política fosse inteiramente negativa. Desprezávamos
seus aspectos positivos de grande importância, como, em sua política externa, a
defesa da paz, da autodeterminação dos povos, do princípio de não intervenção,
o desenvolvimento das relações diplomáticas e comerciais com os países
socialistas, e, sua política interna relativo respeito às liberdades
democráticas, o atendimento de reivindicações dos
trabalhadores. Nossa oposição ao governo adquiria o sentido de luta
contra um governo entreguista, com o objetivo principal de desmascará-lo
perante as massas.
Atuávamos considerando a luta contra a conciliação como a forma
concreta pela qual devia ser combatido, nas condições então existentes, o maior
inimigo do nosso povo – o imperialismo norte-americano. Semelhante posição
política só poderia levar ao desvio do golpe principal, transferindo-o para a
burguesia nacional. Ao invés de concentrar o fogo da nossa luta
contra o imperialismo norte-americano e seus agentes internos, nós dirigíamos
nossos ataques fundamentalmente contra a política de conciliação, atingindo o
imperialismo quase só em conseqüência desses ataques. Daí a despreocupação em
combater agentes descarados do imperialismo norte-americano como Lacerda e
Ademar. Daí a despreocupação com as manobras e articulações do próprio
imperialismo, com a intensificação de sua agressividade contra os povos por ele
dominados. Daí a subestimação do perigo de golpe de direita,
considerado mero espantalho para amedrontar as massas. Concentrando
nosso fogo no governo, exigíamos medidas cada vez mais avançadas, sem levar em
conta nossas próprias debilidades e a fraqueza do movimento nacionalista e
democrático, bem como a efetiva correlação de forças sociais que então existia,
o que põe a nu a persistente influência do subjetivismo em nossa atividade.
Deixamos de lado o fato de que o próprio avanço do processo
democrático ameaçava os privilégios dos monopólios estrangeiros, dos
latifundiários e da grande burguesia entreguista, que ainda possuíam fortes
posições. Uma falsa avaliação da realidade não nos permite ver que a correlação
de forças sociais, nos últimos meses do governo Goulart, tornava-se dia a dia,
menos favorável às forças nacionalistas e democráticas. Uniam-se os
reacionários e entreguistas, que conseguiam atrair para seu lado amplos setores
da burguesia nacional e da pequena burguesia urbana, descontentes com a
situação e que não concordavam com as crescentes ameaças ao regime
constitucional vigente. As forças da direita armavam-se e preparavam
aceleradamente o golpe.
Em princípios de 1964, quando Goulart, movido por seus próprios
objetivos políticos, procurou aproximar-se das forças populares, acentuou-se,
em nossa atividade, o afastamento da linha política do V Congresso.
Subestimamos a importância que tinha para o povo brasileiro a realização das eleições
e não cuidamos de aplicar a Resolução Eleitoral aprovada pelo CC, ao mesmo
tempo em que estimulávamos o golpismo continuista de Goulart. Ao invés de
alertar as massas e convocá-las à luta contra a ameaça de um golpe de direita,
claramente revelada na ação de Lacerda, Ademar e seus sustentáculos militares,
lançamos a nota da Comissão Executiva de 27-3-64, na qual, ao lado da
reivindicação de formação imediata de um novo governo, que “pusesse termo à
política de conciliação”, transferimos o centro de ataque para o Parlamento,
exigindo a reforma constitucional e ameaçando o Congresso. “O plebiscito –
dizia a nota – deverá ser convocado pelo Congresso ou, no caso de omissão,
protelação ou recusa deste, pelo próprio Poder Executivo”. Permitíamos,
desta forma, que a defesa da legalidade fosse utilizada pelas forças da reação
para enganar amplos setores da população e arrastá-los ao golpe reacionário. E
na prática abandonávamos a orientação tática contida em nossa linha política.
Na raiz de nossos erros está uma falsa concepção, de fundo
pequeno-burguês e golpista, da revolução brasileira, a qual se tem manifestado
de maneira predominante nos momentos decisivos de nossa atividade
revolucionária, independentemente da linha política, acertada ou não, que tenhamos
adotado. É uma concepção que admite a revolução não como um fenômeno de massas,
mas como resultado da ação de cúpulas ou, no melhor dos casos, do Partido. Ela
imprime à nossa atividade um sentido imediatista, de pressa pequeno-burguesa,
desviando-nos da perspectiva de uma luta persistente e continuada pelos nossos
objetivos táticos e estratégicos, através do processo de acumulação de forças e
da conquista da hegemonia do proletariado.
O exame autocrítico dos nossos erros e a análise de suas causas
mais profundas constituem fator decisivo na luta pela justa aplicação de nossa
linha política.
Com a vitória do golpe militar e a implantação da ditadura
reacionária e entreguista, nosso Partido enfrenta uma nova situação e novos
problemas. As tarefas de sua construção, sob todos os aspectos, assumem
importância decisiva. Devemos dedicar os maiores esforços à recuperação das
Organizações de Base e à criação de novas, principalmente nas empresas,
fazendas e escolas, e seu fortalecimento político, ideológico e orgânico,
capacitando-as a cumprirem suas pesadas tarefas.
É indispensável que todo o Partido adquira a convicção de que cabe
aos comunistas um papel de vanguarda na luta para derrotar a ditadura, o que
exige espírito revolucionário, desprendimento e capacidade de sacrifício. Se
devemos combater o aventurismo, a pressa pequeno-burguesa, precisamos também
compreender que a inércia política não é menos prejudicial à causa da
Revolução. Nas condições atuais, só cumpriremos nosso dever se formos capazes
de fazer de nosso Partido a força organizadora e dirigente do movimento pela
reconquista das liberdades democráticas. Isto requer de cada militante grande
sentido de responsabilidade e não menor combatividade.
Mais de quarenta anos de atividade já mostraram que só poderemos
intervir com êxito nos acontecimentos na medida em que nos mantivermos unidos,
procurando aplicar com firmeza a orientação traçada pelo Comitê Central e
demais órgãos dirigentes, lutando sem vacilações em defesa do centralismo
democrático, pela direção coletiva e pela mais rigorosa disciplina. É na
unidade política, orgânica e ideológica do Partido que reside sua força.
Apoiados na ciência do proletariado, na doutrina invencível do
marxismo-leninismo, no internacionalismo proletário, nas resoluções do
movimento comunista internacional, contidas nas Declarações de Moscou de 1957 e
1960, saberemos dirigir com êxito a luta histórica do nosso povo pela completa
emancipação nacional, pela paz, a democracia, o progresso e o socialismo, pela
vitória mundial do comunismo.
*Voz Operária, Suplemento Especial, Resolução Política do Comitê
Central do Partido Comunista Brasileiro, maio de 1965.
Belo contraponto ao almoço milicomemorativo da Redentora.
ResponderExcluirSugere-se republicação anual.
Espetacular. Força, ação, aqui é o PARTIDÃO!
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