Folha de S. Paulo
Emprego, varejo e serviços superam
previsões; inverno deve estar chegando, mas atrasou
O número de novos empregos
formais cresceu bem mais do que o esperado em março, segundo os
registros federais de contratações e demissões (Caged). Em fevereiro, as vendas no varejo também
aumentaram muito além do que previa a média das previsões de economistas do
setor privado. Foi assim também com aumento da receita do setor
de serviços. São os dados mais recentes disponíveis no IBGE.
Sim, estamos já à beira de maio. Os dados
são, pois, velhuscos. Mesmo assim, dizem alguma coisa sobre o desempenho
da economia no
primeiro trimestre e, provavelmente, explicam em parte a persistência da
inflação, em particular a de serviços.
A economia deve ter crescido a uma taxa decente no primeiro trimestre deste 2023. Segundo economistas do Itaú, a economia (o PIB) teria crescido 1,2% no primeiro trimestre. Nas contas do pessoal do Bradesco, 1,3%. No quarto trimestre de 2022, o PIB havia recuado 0,2% em relação ao trimestre anterior, segundo o dado oficial do IBGE.
Faltam informações setoriais relevantes a
respeito de março e, mais relevante, o dado oficial do PIB do primeiro
trimestre. Assim, é mais temerário do que de costume especular o que vai ser do
desempenho econômico mesmo no curto prazo, neste 2023. É quase certo que o
Brasil não mudou de patamar. Isto é, que a economia possa crescer muito além
daquele 1,4% ao ano que se viu de 2017 a 2019 (depois da Grande
Recessão e antes da epidemia).
No entanto, tem havido erros enormes de
projeção, sinal de que talvez não se compreenda a nova configuração produtiva
do Brasil depois de uma década em que houve o colapso inédito de 2015-2016,
seguido logo depois pelo tombo provocado pela epidemia. Houve reformas ditas
liberais (em especial a trabalhista e a tributária).
É possível que alguns fatores de curtíssimo
prazo ainda estejam empurrando com a barriga uma economia prestes a tropeçar e
cair na segunda metade do ano. Por exemplo, houve o aumento do Auxílio
Brasil/Bolsa Família para R$ 600 em agosto do ano passado; outro
aumento neste ano, com a inclusão de mais famílias na lista de beneficiados.
A agropecuária foi
bem.
De impacto maior, porém, tem sido o aumento
real do rendimento médio do trabalho e da massa
salarial, ainda que os incrementos sejam cada vez menores (há
desaceleração) e o salário médio esteja em nível historicamente baixo (o que
talvez explique a quantidade de contratações).
O chute informado era de que, a partir de
abril, a paulada monetária seria percebida no mundo do trabalho. Ainda não há
dados.
Vários bancões fazem um acompanhamento
diário e semanal sobre o ritmo de atividade econômica, com dados parciais,
precários, e informações derivadas de suas próprias operações. O nível de
atividade de abril não parece ter sido inferior ao do primeiro trimestre. Ao
contrário.
Desde o final de 2021, a taxa básica de
juros está em altura que promoveria contração econômica (trata-se aqui da
Selic, determinada na prática pelo Banco Central).
De fato, houve uma desaceleração no total
de novos empréstimos a partir de meados de 2022 (trata-se aqui de concessões,
medidas pela sua variação trimestral, sazonalmente ajustada). A partir de
dezembro de 2022, passou a haver redução no total de novos empréstimos, em
particular para empresas (sempre na medida trimestral).
No mercado
de capitais, muito atrapalhado de resto pela fraude das Americanas, houve
um colapso de captação de dinheiro em fevereiro e março (em relação aos níveis
do ano passado).
É possível que o inverno esteja chegando
apenas agora, com um efeito mais retardado do que habitual do aperto de juros e
da piora geral das condições financeiras. Mas a previsão do tempo ainda ruim.
Pois é!
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