O Estado de S. Paulo
A política externa apoiada na figura pessoal de Lula é irrealista
Apolítica externa atual do Brasil em
relação ao conflito na Ucrânia é a política externa do Lula. Ela consiste na
promoção da imagem pessoal do presidente como um estadista de grande projeção
internacional. O principal problema dessa política é o notável distanciamento
entre a visão que Lula tem do cenário internacional e a realidade dos fatos.
Nesse sentido, as bobagens que ele reitera sobre causas, evolução (no sentido
cronológico) e possíveis resultados do conflito não são deslizes retóricos.
São distorções trazidas pela ignorância de
como funciona a ordem internacional em transformação e o motivo das ações das
potências envolvidas. Junto da incapacidade de formular o que seja o interesse
nacional brasileiro, que Lula confunde (como fazem populistas) com interesses
políticos pessoais.
Uma das imprecisões históricas mais reveladoras da falta de visão internacional de Lula foi a afirmação de que a China merece crédito especial como possível negociadora no conflito da Ucrânia pois “não faz guerra há muito tempo”. A história da moderna China é a história de suas grandes guerras (de conquista, civil ou ambas). E a China está se preparando para a maior delas, contra os EUA.
A afirmação de Lula, de que não adianta
“discutir quem está certo ou quem está errado” no caso da Ucrânia, implica
desprezo a princípios de Direito Internacional. A preservação desses princípios
foi por décadas o norte da política externa brasileira. Outra bobagem retórica
– “Você só vai discutir acerto de contas quando pararem de dar tiros” – expõe
incapacidade de entendimento das relações internacionais. Não se esperava que
Lula se dedicasse a interpretar a frase célebre de Clausewitz (A guerra é a
continuação da política por outros meios), mas qualquer político realista e
pragmático sabe bem o que significa.
A guerra imposta pela Rússia é guerra
imperialista clássica de conquista inflamada por nacionalismo e chauvinismo de
séculos, dos czares aos bolchevistas, além do típico anseio por segurança
(diante de ameaças reais ou percebidas, como a existência da Otan) de grandes
potências. Ela se tornou fator definidor da ordem internacional que,
simplificando, é a formação de dois formidáveis blocos geopolíticos. Guerra da
Ucrânia e nova ordem são eventos com características próprias, mas que se
condicionam mutuamente.
É bom observar que o chefe de governo
espanhol, um político socialista ao lado de quem Lula proferiu as últimas
declarações sobre a guerra, compartilha com outros dirigentes europeus de
esquerda ou de direita o mesmo entendimento sobre a natureza do que está
acontecendo. Eles não definem a postura externa de seus países apoiados em
sabedoria de botequim.
Lula sabe o que diz,tanto é que voltou atrás.
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