O Globo
Ministro pressiona Ibama a ignorar parecer
técnico e conceder licença à Petrobras
Lula aproveitou a coroação de Charles III
para produzir uma boa notícia na área ambiental. O Reino Unido anunciou a
doação de R$ 500 milhões ao Fundo Amazônia. A preservação da floresta não foi
discutida apenas com o primeiro-ministro Rishi Sunak. “A primeira coisa que o
rei disse para mim foi para cuidar da Amazônia”, confidenciou o presidente,
após ser recebido no Palácio de Buckingham.
Alemanha e Estados Unidos já haviam anunciado doações ao Fundo, que ficou paralisado no governo Bolsonaro. Os aportes indicam a retomada da confiança no Brasil como protagonista da agenda climática. A diplomacia verde está funcionando, mas não pode se sustentar só em palavras. Depende de decisões concretas a serem tomadas pelo governo.
No fim de abril, técnicos do Ibama opinaram
contra um pedido da Petrobras para procurar petróleo na foz do rio Amazonas. A
estatal quer perfurar o chamado bloco 59, a cerca de 160 quilômetros da costa
do Amapá. Seria o primeiro passo para explorar a Margem Equatorial, região
descrita como a nova fronteira do pré-sal.
O processo está na mesa do presidente do
Ibama, Rodrigo Agostinho. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira,
tenta convencê-lo a desconsiderar o parecer técnico e liberar a licença.
Enquanto o martelo não é batido, as pressões sobre o órgão se avolumam.
Em ofício enviado ao governo,
ambientalistas dizem que o plano da Petrobras causou um “alerta gravíssimo”.
Assinado por 80 ONGs, o texto afirma que um eventual vazamento de óleo na foz
do Amazonas causaria “danos imensuráveis” para a biodiversidade. E argumenta
que a perfuração só poderia ser autorizada após uma avaliação de impacto
socioambiental em toda a região.
“Liberar essa licença seria um tiro no pé”,
diz Suely Araújo, ex-presidente do Ibama e analista do Observatório do Clima.
“O presidente Lula elegeu a questão ambiental como eixo importante do terceiro
mandato. O discurso é muito bom, mas precisa haver coerência nas ações
práticas”, cobra.
Ao celebrar cem dias de governo, Lula
prometeu incentivar a Petrobras a investir em energias renováveis para reduzir
as emissões de carbono. Falta combinar com os dirigentes que ele pôs na
estatal. Em entrevista recente, Jean-Paul Prates defendeu o aumento da produção
de combustíveis fósseis e disse que a empresa quer ser a última a extrair
petróleo no mundo.
Pode até ser, mas não às custas da
Amazônia.
Grampinho e Toninho
Em visita à Bahia, Lula chamou ACM Neto de
“Grampinho”. O apelido persegue o ex-prefeito de Salvador desde 2003. Na época,
seu avô era acusado de montar um esquema de escutas clandestinas para espionar
adversários.
Neto não gosta da alcunha, mas herdou o
nome de outro político conhecido por apelidar os rivais. O velho Antonio Carlos
Magalhães só se referia ao ex-ministro Eliseu Padilha como “Eliseu Quadrilha”.
Michel Temer virou o “Mordomo de filme de terror”.
O próprio ACM teve que conviver até o fim com um epíteto indesejado: Toninho Malvadeza.
Pois é.
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