O Globo
Dominada por bolsonaristas, comissão
estreia com palavrões e ataques aos sem-terra
A CPI do MST mal começou, mas já mostrou a
que veio. Será uma trincheira do bolsonarismo para atacar os sem-terra, o
governo e a esquerda em geral. A comissão é um consórcio entre a bancada
ruralista e a bancada da bala. Os dois grupos indicaram o presidente, o relator
e a maioria dos titulares e suplentes.
Os trabalhos serão comandados pelo tenente-coronel
Luciano Zucco. Em discurso na tribuna, ele deixou claro que não pretende
esperar a investigação para dar a sentença. “Esta CPI vai mostrar que o MST não
é um movimento social, e sim criminoso”, disse.
O relator será Ricardo Salles, ex-ministro de Bolsonaro que já defendeu receber os sem-terra à bala. Em sua primeira campanha, ele fez apologia explícita à violência no campo. Defendeu o uso do fuzil como antídoto “contra a esquerda e o MST”.
Na abertura da CPI, os agrotoscos dominaram
a cena. O delegado Éder Mauro se referiu aos sem-terra como “bandidos”,
“marginais” e “desocupados”. “É um verdadeiro movimento de terroristas”,
vociferou, entre palavrões.
Em outro discurso exaltado, o coronel
Chrisóstomo Moura mandou os sem-terra tomarem “cuidado”. “Vagabundo não se cria
no nosso estado”, emendou o coronel Jonildo Assis, ex-comandante da PM de Mato
Grosso.
Em minoria, a deputada Sâmia Bomfim citou a
ficha corrida de Salles e tentou questionar sua indicação como relator. Foi
vaiada e o microfone foi cortado antes de concluir a fala.
A CPI foi articulada pela Frente
Parlamentar da Agropecuária, um dos mais poderosos lobbies do Congresso. A
pretexto de defender o agronegócio, o grupo move uma cruzada contra a reforma
agrária e a agricultura familiar.
Por trás da luta ideológica, também há uma
disputa por contratos com o governo. Em março, Lula relançou o Programa de
Aquisição de Alimentos, que incentiva a produção de assentamentos e
cooperativas. A iniciativa irritou mais os ruralistas do que qualquer foto do
presidente com o boné do MST.
Na quarta-feira, Salles disse que atuará “com o máximo de imparcialidade”. Se a promessa fosse séria, ele poderia começar ouvindo a Pastoral da Terra, ligada à Igreja Católica. Em abril, a entidade informou que o número de assassinatos no campo voltou a subir em 2022, último ano do governo Bolsonaro. Os alvos da pistolagem eram lavradores ou indígenas, não proprietários de terra.
Ricardo Salles é uma piada de mau gosto.
ResponderExcluir