sexta-feira, 12 de maio de 2023

Bruno Boghossian - O primeiro-ministro de Lula

Folha de S. Paulo

Desgaste político do presidente nas últimas semanas desaguou no gabinete de Rui Costa

Em fevereiro, Lula aproveitou a passagem por um palanque na Bahia para encher a bola de seu ministro da Casa Civil. "Trabalhar com o Rui Costa é ter tranquilidade. Você não precisa pedir para ele fazer as coisas. Ele sabe o que fazer", disse. "Eu posso deitar toda noite, encostar a cabeça no travesseiro e dormir sabendo que o Rui está trabalhando."

Lula escolheu instalar no Palácio do Planalto alguém com autoridade para tocar projetos, mediar conflitos dentro do governo e tirar abacaxis do gabinete presidencial. Descrito pelo chefe como uma espécie de primeiro-ministro, Costa se consolidou como o homem mais poderoso da Esplanada —mas também se tornou a maior vidraça do governo.

O desgaste político enfrentado por Lula nas últimas semanas desaguou na Casa Civil. Parlamentares argumentam que o estilo centralizador de Costa e atropelos provocados por um excesso de poder vêm piorando a relação dos partidos com o Planalto.

Alvo do Congresso, o decreto que muda o marco do saneamento foi moldado na Casa Civil. Deputados também atribuem à pasta uma trava na nomeação de apadrinhados e no pagamento de emendas. Costa ainda piorou o clima ao dizer que a desestatização da Eletrobras, aprovada na Câmara e no Senado, tinha "um cheiro ruim de falta de moralidade".

Colegas de governo, já incomodados com o protagonismo do ministro, também passaram a apontar o dedo para Costa. O chefe da Casa Civil indicou que está de olho no fogo amigo. "É um ambiente de muita futrica, fofoca, fake news e montagem de notícias falsas", disse à GloboNews na quarta-feira (10).

Lula também viu o sangue na água. Nesta quinta (11), o presidente reforçou o poder do auxiliar: "O Rui toma conta do governo. Tudo o que vai para mim passa pelo Rui primeiro."

O presidente disse que Costa é sua "Dilma de calças". A diferença é que, nos primeiros mandatos, Lula delegou a gerência de projetos à ministra, mas arbitrava as relações políticas. Agora, o petista parece ter menos disposição para desatar esses nós.

 

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