sexta-feira, 12 de maio de 2023

Bernardo Mello Franco - O celular falante e a CPI

O Globo

Áudios recuperados pela PF provam que golpe era assunto corrente no gabinete de Bolsonaro

Depois de quatro meses no xadrez, Anderson Torres voltou a dormir em casa. Os bolsonaristas festejaram a libertação do ex-ministro, que era visto como uma bomba-relógio na cadeia. Mas não devem ter muito tempo para relaxar.

Torres já havia perdido o título de preocupação número um do grupo. Foi substituído pelo tenente-coronel Mauro Cid, preso na semana passada sob suspeita de falsificar certificados de vacinação.

O ex-ajudante de ordens contratou um advogado especializado em delações premiadas. Pode não dizer tudo o que sabe, mas já tirou o sono de quem contava com sua lealdade cega ao capitão.

Se Cid não falar, seu celular falará por ele. O aparelho do militar se tornou uma usina de provas de que o golpismo era assunto corrente no gabinete presidencial.

Em mensagem enviada ao faz-tudo de Bolsonaro, o ex-major Ailton Barros expôs um roteiro para prender o ministro Alexandre de Moraes e dar um golpe de Estado antes da posse do presidente Lula.

Pelo plano, a operação seria deflagrada nos últimos dias de 2023, com a participação das Forças Armadas. “Nós temos a caneta e a força. O braço forte e a mão amiga”, disse o bolsonarista, em áudio revelado pela CNN Brasil.

No mesmo período, o general Braga Netto insinuava a militantes de extrema direita que algo estava por acontecer. “Não percam a fé, é só o que eu posso falar agora”, disse, em tom enigmático, numa conversa filmada na porta do Alvorada.

No Congresso, o avanço das investigações já produziu uma mudança. A oposição perdeu o entusiasmo com a CPI do Golpe. A comissão deve ser instalada até o fim do mês. A escalação dos integrantes ainda não foi concluída, mas o governo conseguiu garantir a maioria das cadeiras.

Em minoria, os bolsonaristas devem ter dificuldade para distorcer a história dos ataques golpistas. E não conseguirão evitar a convocação de figurões do antigo regime. A começar pelo ex-ministro Torres, que guardava em casa uma minuta de golpe.

Por via das dúvidas, dois filhos de Bolsonaro já garantiram suas vagas como suplentes. Esperavam jogar no ataque, mas terão que ralar na defesa do pai.

 

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