Folha de S. Paulo
Lula precisa escutar e, sobretudo, atender
a quem pensa diferente
O presidente da
República perdeu quatro meses e dez dias nestes praticamente
130 dias em que colecionou derrotas nunca vistas neste país de Congresso
Nacional em geral benevolente com governos estreantes.
Ok, Lula 3 não
é uma estreia clássica, mas por isso mesmo deveria ter expertise acumulada no
tema articulação.
Falta de experiência não é. Tampouco de reiterados avisos. Provavelmente trata-se de excesso de confiança do mandatário no próprio taco. E este está gasto pela passagem do tempo. Na campanha, o então candidato prometia administrar a relação com o Parlamento na base da "conversa". Imaginava levar suas excelências no papo.
A realidade, contudo, se mostrou mais complexa.
Habitualmente arguto, Lula neste mandato parece ter tido sua visão anuviada
pelo ego inflado devido à volta por cima. Promete tomar as rédeas da
organização da base sustentado no seguinte tripé: liberação de emendas,
cobrança de fidelidade e presença nas negociações.
Isso tudo conta, mas é para lá de
insuficiente não havendo sensibilidade para perceber que o humor de suas
excelências agora tem como referência o fator redes sociais. Congressistas gostam
das benesses oficiais, mas gostam também dos votos que os mantêm na condição de
interlocutores privilegiados do poder central. Hoje há uma pressão externa
inexistente há 20 anos.
A distribuição de cargos e emendas já foi
incorporada pelo Legislativo como "obrigação" do Executivo. Falta no
elenco de providências o diálogo inclusivo com atenção às demandas reais da
sociedade. Escutar e, sobretudo, atender a quem pensa diferente. Lula fala para
a esquerda, mas venceu pelo pragmatismo democrático do centro.
Não há como obter êxito na contramão do
espírito do tempo. Eleito vestido de frente ampla e governando em figurino de
frente estreita, ele agrada a minoria, mas desagrada a maioria.
Verdade,disse tudo.
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