O Estado de S. Paulo
O problema é falta de articulação política ou resistência a uma série de retrocessos?
É tão fácil quanto equivocado atribuir as
dificuldades do governo Lula com o Congresso e setores da sociedade apenas à
“falta de articulação política”. Sim, falta, e muito, mas isso é só parte do
problema, que tem uma explicação muito além: a resistência a um Lula mais
petista do que nos dois primeiros mandatos e a uma onda de retrocessos que ele
articula desde a posse.
A derrota das alterações do Marco do Saneamento foi por falta de articulação ou porque o decreto era ruim e desagradava a gregos e troianos? Depois de décadas de fracassos do setor público num setor tão vital, o marco inclui a iniciativa privada na solução e foi saudado como avanço. E vem Lula, sem debate, sem consenso, voltar atrás? E por decreto?
Ao enxugar ao máximo as privatizações, ele
também encontra forte resistência contra a da Eletrobras, debatida durante anos
e bem-recebida quando aprovada no Congresso. O mesmo acontece com as reformas
administrativa e da Previdência, a autonomia do Banco Central, a Lei das
Estatais, todas consideradas ganhos da sociedade e da boa governança e agora
ameaçadas por esse “novo Lula”, mais falastrão e menos articulador.
Uma coisa é Lula falar em reconstrução,
recuperando o rumo da inclusão, diversidade e justiça social e programas que
não são só marcas do PT, mas fundamentais num país tão desigual e cruel com
seus pobres e miseráveis. Outra é ele querer apagar tudo o que foi feito,
inclusive o que foi bem-feito, com uma coordenação política precária.
O maior exemplo disso é que, enquanto Lula
corre o mundo, o principal articulador político é quem menos se esperava: o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem canal direto com Roberto Campos
Neto, do BC, Arthur Lira, da Câmara, Rodrigo Pacheco, do Senado, líderes
partidários, empresariais e financeiros. Até o MST foi parar no gabinete do
Haddad!
Tem algo errado aí. Haddad já fez o papel
dele, de construir e divulgar o projeto de âncora fiscal, e agora a bola está
com a coordenação política e com... Lula. Ministro da Fazenda não faz milagre
na política. Aliás, nem ministro da própria articulação política e não adianta
jogar a culpa em Alexandre Padilha, parte de uma engrenagem que não está
funcionando.
A boa notícia é que, se o Congresso resiste aos retrocessos e manda recados agora por benesses do poder – como fazem PSD, MDB e União Brasil –, a expectativa para a âncora fiscal é favorável, com um consenso de que é necessária, um avanço, não um retrocesso, e isso se reflete na Câmara e no Senado. Lula, porém, precisa olhar mais para dentro do País, parar de atrapalhar e começar a ajudar.
Jornalista só sabe criticar!
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